E aquele garoto que ia mudar o mundo, mudar o mundo,
Agora assiste a tudo, em cima do muro...
Pois é, só que nunca fui de ficar em cima do muro. Drummond disse em seu poema que um certo anjo o mandou ser gauche na vida. Esse anjo deve ter dado às caras por aqui também. Sempre fui diferente, inquieta, contestadora, para mim, era difícil aceitar as coisas assim como são. Talvez por isso, tenha subido a um palco na frente de todos os país de um tradicional colégio religioso, onde estudava, para ler uma carta repúdio a censura, sofrida a uma peça que falava sobre racismo. Talvez, por isso, também, tenha pulado o muro desse mesmo colégio para ir a uma passeata em defesa dos professores em greve.
Se as provas dos vestibulares das universidades públicas caem em data diferente, foi fruto de uma luta conquistada colégio a colégio, da qual fiz parte.
Mas, foi na universidade que me tornei militante. Foi uma decisão ideológica. Eu realmente queria mudar o mundo, e acreditava mesmo, que mudaria.
Poucas pessoas lembram, mas foi no governo FHC que o Brasil mudou. E, não foi para melhor, ok, tivemos o plano real, mas tivemos também sucateamento dos órgãos públicos, incluindo ai, o ensino universitário, privatizações a torto e direito. Foi o governo do “se é público, é ruim, e só a privatização salva”. Foi o governo das intervenções federais nas universidades (resquícios do autoritarismo militar), e, foi principalmente, o governo da truculência.
20 anos depois do final da ditadura, a polícia de FCH vinha a exercer papel similar a dos militares.
Eu apanhei da polícia algumas vezes. A primeira, numa passeata estudantil em Brasília contra a intervenção federal na universidade que estudava. De recordação, tive uma lesão no tendão da mão esquerda, ocasionado por um cassetete de um policial. Nessa passeata estudantil, ajudei a carregar colegas com cabeças abertas ou pernas fraturadas. Ah, sim, éramos estudantes, entre 13 e 20 anos. Ninguém era guerrilheiro, terrorista ou similar. E tudo começou porque caiu uma chuva torrencial durante a passeata e corremos para nos proteger no hall dos Ministérios. A polícia, segundo declarações do comandante, acreditou que essa corrida era uma tentativa de invasão. Por isso, autorizou aos seus comandados, que batessem nos estudantes desarmados.
Já tive cachorros e cavalos jogados contra mim, quando fui as ruas contra as privatizações. E por duas vezes, fui salva, pelo meu marido, de policias com armas em punho na minha direção.
Com tudo isso, assistir calada ao retrocesso ideológico que essas eleições se transformaram, não dá! Sei que ao escrever esse post, terei o prazer de finalmente conhecer os famosos trolls e, infelizmente perder alguns seguidores. Mas, como ficar calada ao ver que na plataforma de governo do candidato da direita, resquícios do integralismo de Plínio Salgado na década de 30?
Tradição, Família e Propriedade em panfletos distribuídos na reunião de cúpula do PSDB é demais para meu estômago.
Ver estampada nas manchetes de jornais a posição preconceituosa e disposta a retroceder numa conquista dos direitos civis dos homossexuais, do candidato a vice-presidente e ficar quieta, definitivamente, não dá!
É engraçado que assistimos o mesmo processo de ultra-direitização acontecendo em alguns paises da Europa, mas nos, que sofremos tantos anos com a ditadura militar, termos que encarar tudo de novo, não pode! Eu me recuso!
Se, colocarmos resumidamente, a polarização dos discursos se dá, entre a candidata que defende o direito civis dos homossexuais e das mulheres e o candidato que defende a total abolição dos mesmos! Eu fico me perguntando, quando esse candidato vai começar a querer, também, retirar os direitos às duras penas conquistados dos negros, dos índios, dos pobres...
Pelo teor dos e-mails preconceituosos que recebo, não vai demorar muito...
Só para lembrar, foi no governo do PT, que uma lei em defesa dos direitos das mulheres se tornou real, foi neste mesmo governo, que se tornou crime, preconceitos contra homossexuais, negros etc
É isso, que venham os ataques, mas quer saber, nesse muro, eu não subo nunca mais!