30 de jan. de 2009

Festa Infantil

Começa cedo, por volta das quatro da tarde, mas nunca tem hora para acabar. E não adianta nada falar que é uma festa infantil, porque vêm todos os adultos da família da criança convidada e mais os amigos mais próximos. 

Você já está esgotada depois de pelo menos três noites sem dormir, enrolando brigadeiros e cajuzinhos, fazendo decoração, limpando play e etc. Descobre as três da tarde que esqueceram de encomendar o gelo. Para as bebidas, claro, que não podia ter só refrigerante. 

Ás seis a festa está lotada. De pessoas que você nem imagina quem são. Às oito horas seu maxilar começa a doer terrivelmente devido ao esforço de sorrir o tempo inteiro. Seus pés estão em brasa e acha que perdeu os braços em algum momento, possivelmente quando teve que ficar retirando a bebida do gelo. Sua cabeça é um tambor no meio de uma festa africana. 

Ah, sim, tem o som. Uma mistura qualquer de funk, rock, infantil e outros ritmos que fazem as crianças pularem o tempo inteiro.

O chão, uma mistura de pipoca, cachorro-quente e vômito. Decidida a encerrar a tortura, resolve cortar o bolo. Mas, é claro, sua mãe protesta, por que a tia Leonor ainda não chegou, e não adianta dizer que já são quase nove horas, e aquilo é uma festa de crianças.

Dez horas toma a decisão e chamo todo mundo para cantar parabéns. A mesa, linda, que teve tanto trabalho para fazer está parcialmente destruída, o bolo, com marcas de dedos, inclusive um que pelo tamanho é de um adulto, parece um queijo suíço. 

Os parabéns demoram quase vinte minutos, não sem antes a aniversariante resolver cuspir na vela. – para apagar, mamãe, ela diz. O bolo é devidamente distribuído. E acha que finalmente a festa acabou. 

- Mas, ainda tem bebida! Informação gritada pelo seu ex-marido. Senha para que os pais que um dia pensaram ir embora, voltem a se sentar e continuar de onde pararam. 

Como boa anfitriã, ainda consegue reunir forças para percorrer o salão, mesmo sabendo que suas pernas nunca mais irão te obedecer no futuro. 

Onze horas, senta, finalmente, sentindo o latejar das pernas e pensando em quantas varizes terão estourado essa noite. 

Meia-noite e seu ex está atracado com uma loura, que você descobre que a sua vizinha de porta. 
A festa ainda está cheia. De crianças dormindo de qualquer maneira sobre as mesas, enquanto seus pais bêbados dançam a macarena. 

Duas horas da manhã o último casal se despede. Tonta de sono e de álcool começa a arrumar aquele inferno de bolo, bola, refrigerante e vômitos. Às três está tudo pronto e finalmente irá dormir. Entra em casa, e encontra um menino moreno e desconhecido no sofá. 

Acorda as filhas e pergunta sobre o menino, obtendo a mesma resposta, ninguém sabe quem é.. 
Como última e única alternativa, resolve acordar o garoto. Que se chama Bruno e mora no prédio. No décimo andar. Pega o menino no colo e vai entregá-lo aos pais, que provavelmente estarão histéricos pelo desaparecimento da criança. 

O garoto vomita no elevador, em cima dos seus sapatos.

Bate na porta. Mais uma vez. E mais uma, a porta se abre na oitava tentativa, quando já estava duvidando que tivesse alguém. Atende uma mulher sonolenta, que te olha como se fosse te matar. Pergunta se o menino é filho dela, ela diz que sim, e indaga porque não deixou que ele dormisse em sua casa. Responde que achou que ela ficaria preocupada.

Depois que a porta se fecha, ainda dá para ouvir a mulher dizendo, que a vizinha do 403 era mesmo muito escrota, nem deixou que o Bruninho dormisse na casa dela. 

E ainda tem que limpar o vômito do moleque no elevador...

28 de jan. de 2009

A VISITANTE

Hoje a dor acordou mais cedo. Antes mesmo do que minhas defesas. E com jeito de dona, invadiu a casa. Hoje teve lágrimas no banheiro e uma angústia criada a base de impossibilidades.

Hoje eu queria gritos. Mas só ouve ranger de dentes. A dor é silenciosamente surpreendente. Vem recheada de nãos e vestida de sonhos desfeitos. Tem a chave da porta e sabe quebrar correntes. E pouca coisa resta a fazer quando ela invade a casa.

Deixo que ela sente na poltrona. Permito que vigie todos os meus passos. Apenas me aquieto na esperança que quando a noite caia, ela parta em busca de novas paisagens.

27 de jan. de 2009

Pout Porrie

Monte de coisa pra escrever, gente para agradecer e a madame aqui tá fazendo o quê? o quê? Vendo Big Brother! Pois é, viciei em droga pesada. Processo de reabilitação djá!

*************************************************************************
A Rosanak do Meus Blablablas me indicou o seguinte desafio:

1 – Agarrar o livro mais próximo - "A Menina que Roubava Livros" - Markus Zusak/ Editora Intrínseca.

2 – Abrir na página 161

3 – Procurar a quinta frase completa

4 – Colocar a frase no blog -" Essa foi a primeira vez que Hans escapou de mim."

5 – Repassar para cinco pessoas.(Fica a critério dos leitores do blog aceitar e reproduzir o desafio)

******************************************************************************

Outra Rosana, dessa vez do Tudo Por Um e Noventa e Nove me passou outro desafio, responder num post o que seria para mim, os pecados capitais. Ampliei um pouquinho a resposta, e no lugar de falar sobre os pecados, resolvi falar sobre os principais sentimentos que se relacionam diretamente com esses pecados:


Sentimentos
Por Patricia Daltro
A inveja - uma dona de azul a espreita a secar flores nos vasos.

O ciúme - Sim, ele tem olhos verdes. E flutua no escuro, atrás de possíveis vitimas.

O amor - é um garoto que chega ao entardecer e nos brinda com flores da primavera.

A gula - escondida rouba leites condensados da geladeira.

O orgulho - Na casa vazia, estantes repletas de troféus e medalhas emboloradas.

A luxuria - A boca vermelha sussurra-nos segredos indecentes.

A preguiça - Na tarde de sexta-feira nos invade a vontade de embriagar-nos de nada.

A paixão - Mulher disfarçada de amor, incendeia tudo o que toca, no final, apenas cinzas.

A vaidade - No espelho pergunta, qual madrasta da pobre menina, quem é mais bonita que eu? Coitada, não consegue enxergar a própria face

24 de jan. de 2009

A Reinvenção do Amor

De repente todas as palavras pareciam já terem sido ditas. Como na música. Acarinhados, amordaçados, açoitados pelas palavras. Entre eles agora, silêncio. Numa casa sem filhos. Sem vícios, sem fugas. Retratos na estante de dias ensolarados. Agora, brumas.

Mas ela ainda queria acreditar no impossível. Recusava-se a começar o futuro com os olhos ainda mareados do que ainda era. Era o novo pelo que ansiava. Mas para isso precisava arrancar do peito aquele que um dia fora, fazê-lo encontrar com àquela que hoje ela era. E era isso que não sabia fazer. Não com palavras, por que essas, já foram ditas todas.

Naquela noite na jantar, travessas fumegantes, o coração dela no prato. E ele soube o que não precisava ser dito. Pegou-a nos braços e dançou a música silenciosa dos amores reinventados.

20 de jan. de 2009

Tá servido?

Coisa boa é acordar e descobrir um comentário do Nei, avisando que meu blog acabou de receber uma indicação do porte dessa:

Esse prêmio começou no blog Café com Noticias, do jornalista Wander Veroni (informações retiradas da tia Batata - outra indicada)

Fiquei feliz por estar ao lado de blogs que amo ler como o da Kênia, Leite de Cobra e outros que estou aproveitando para descobrir.  Ver listagem completa no blog do Nei Ken Iti - A Estrovenga dos Corsários Efemêros.

Dentre as regras do prêmio, além de linkar quem indicou, listar  - tô na dúvida se são dez ou cinco, (na dúvida, listo doze!) - blogs queridos. Ai, o bicho pega, por que TODOS os blogs listados ali na lateral, são blogs que leio sempre. Resumir a lista a qualquer valor númerico é triste, mas vou tentar. Na falta de um critério, resolvi listar os blogueiros mais assíduos por aqui.



19 de jan. de 2009

A Chave

Ela ali. Mão na bolsa. Cadê a chave? Cadê a droga da chave. Não podia entrar em casa sem ela. E tudo que era queria era entrar. Chuva caindo. Ensopada. As lagrimas secas. Dentro dela, inundações. Estava com ele, claro. Tinha que estar. E ela pensa em voltar. Mas não queria.

Sem retorno, claro. Mas como entrar então? Como recolher cacos espalhados pela sala? Arrebentar de vez as mãos nas paredes. Cabeças. Peito batendo. Rápido, rápido. Ninguém. Solidão e sem chaves.

Casa. Por que fora morar em uma casa? Mais fácil seria em um apartamento. Pediria ao porteiro: - Deixe-me entrar. Perdi-me lá dentro. E nada das chaves. Batons, retratos, carteira de identidade para saber quem era. No momento, nada.

Um carro, luz. Derruba tudo no tapete. Bem-vindo ao lar. Irônico. Escova de dente, pasta, um sabonete de motel. Fragmentos. As lágrimas chegam. Misturam com a chuva. Da casa ao lado cheiro de bolo. Saudades da mãe.

Ir para casa da mãe. Não pode. Ouvir o: "eu te avisei que não daria certo. Ele não presta”.

Maldita chave! Está com ele. Certeza. Fez de propósito, para que ela voltasse. Mas, nunca mais piso aqui. Última frase dita assim, com forças profundas. Senta no meio-fio.

– Que foi, nunca viu não? Menina de bicicleta. Vizinha. Passa correndo. Tudo espalhado. Espelhos, batons que nunca usara. Um chicle de menta. Pedaços de fotos. Dela. Passado. Dele.

Relembra caminhos. Estradas. Desertos sentimentos. Claro. Vislumbra o brilho das chaves sobre a escrivaninha. Dele. Voltar? Nunca, jamais. Sentada no meio-fio, pensa no ridículo da situação. A vida espalhada aos seus pés. O caminho sem volta. A porta trancada. E a chuva caindo docemente sobre seus cabelos. Ri. Gargalhada triste.

A menina da bicicleta corre para casa. - Mãe, a moça ai do lado enlouqueceu!

12 de jan. de 2009

Porque hoje é seu aniversário!


Porque hoje ele faz três anos. Porque a vida há três anos assumiu uma nova coloração. Porque aprendi que é fácil gargalhar. Porque o mundo é enorme e todo dia nos deparamos com uma descoberta. 

Porque a vida continua cheia de sobe e desce, como uma montanha russa sem governo, mas que as suas mãos na minha e sua voz cantando "bate o sino" apresenta uma nova perspectiva. Porque as lágrimas chegam agora com mais facilidade toda vez que me surpreende com um novo aprendizado. Porque os aprendizados acontecem diariamente e quase toda hora. Porque é emocionante o desfralde, o comer sozinho, a independência sendo conquistada passo-a-passo com muita desenvoltura e (quase) seriedade. 

Porque é angustiante o medo. E isso é a única coisa que atualmente não permito falar, nem pensar! Só sei que ele vive dentro de mim. 

Porque a beleza de um rabisco da parede é mais bonito que qualquer Monalisa em um museu, mesmo o proprietário discordando disso.

Porque a vida pode ser mais leve, mais prazeirosa, mais um dia-após-o-outro, e por que não, mais feliz.

Porque hoje é seu aniversário e mesmo eu não sendo capaz de responder a todos os seus porquês, gostaria de dizer, que hoje a que sou, só existe assim, porque você me ensina a ser assim e um dia, quando tiver idade suficiente para entender isso, saiba que eu te amo. E essa é a principal resposta para todos os nossos porquês.

*******************
Aviso: O texto não está de acordo com as novas normas da língua portuguesa.

8 de jan. de 2009

Estações

Queria falar de coisas que não deveriam ser ditas. Quebrar silêncios que não deveriam existir. Queria olhar no espelho e enxergar inteiro o que nela, às vezes se perdia em muitas. Ausências tantas que doíam. Solidões. E ela, que achava que só poderia existir uma única.

Queria falar do coração aos pedaços. Dos sonhos desfeitos, planos que nunca desenhara no papel. Queria destravar as mãos e arrancar pedaços do sorriso a sua frente. Capturar aquele momento numa eterna tela, a qual ela intitularia “Felicidades”. Queria não ser preciso chorar. Secar-se inteira e partir sem olhar para trás. Fingindo não ver os fragmentos do que foram, deslizando por entre suas pernas.

Queria prender o gozo, (apreender o gozo), o suor, o gosto dos lábios em sua boca, sugar o ar que respirava, até não haver mais nada a ser compartilhado. Queria fingir ser outra que não ela mesma e, no entanto, sabia-se falsa tantas vezes, quando ria, fingindo não se importar. Ausências tantas que doíam. Solidões. E ela aprendera que haviam muitas, e todas pareciam sempre ser maiores que ela mesma.

Queria ser o que não poderia ser. E, no entanto, já era. Percebia que agora, já era verão, e ela ainda não decidira acreditar na primavera.

Imperdível!

Hoje (08/01/09)  tem entrevista com Raphael Miguel - a deliciosa Glorinha d´A Vigilante, Uma Comédia de Peso - na Rádio MEC - 12:15.

E só para lembrar, hoje é dia de ir assistir a peça! Vá e ria muito! Eu já fui e recomendo!

5 de jan. de 2009

Trançando Sonhos

A mãe cuidadosamente destece os cabelos da filha. Com gestos calmos e quase tão antigo quanto a humanidade, desembaraça os cachos, dividindo-os em mechas.

Delicadamente escova-os e começa a trançá-los. Conta estórias enquanto isso, da princesa que fura o dedo na máquina de fiar e adormece por mais de cem anos.

Da outra que tal qual Eva, come a maçã proibida e é condenada a ser eternizada em vidro, no jardim encantado, até que surja o príncipe capaz de despertá-las. Conta também da menina que leva o lanche da avó e se depara com o lobo. Estórias tantas que ultrapassam os dias, os anos...

Sabe que um dia a menina não será mais menina e talvez se impaciente com suas mãos em seus cabelos e tampouco queira grossas tranças. Há de chegar o dia, em que até mesmo a suave monotonia de sua voz ao contar estórias seja demais para a pequena.

Mas enquanto esse dia não chega, desliza suas mãos pelos cabelos, murmura estórias infantis e tecendo grossas tranças, mistura o fio brilhante do sonho ao fio moreno dos cabelos da menina.