A mãe cuidadosamente destece os cabelos da filha. Com gestos calmos e quase tão antigo quanto a humanidade, desembaraça os cachos, dividindo-os em mechas.
Delicadamente escova-os e começa a trançá-los. Conta estórias enquanto isso, da princesa que fura o dedo na máquina de fiar e adormece por mais de cem anos.
Da outra que tal qual Eva, come a maçã proibida e é condenada a ser eternizada em vidro, no jardim encantado, até que surja o príncipe capaz de despertá-las. Conta também da menina que leva o lanche da avó e se depara com o lobo. Estórias tantas que ultrapassam os dias, os anos...
Sabe que um dia a menina não será mais menina e talvez se impaciente com suas mãos em seus cabelos e tampouco queira grossas tranças. Há de chegar o dia, em que até mesmo a suave monotonia de sua voz ao contar estórias seja demais para a pequena.
Mas enquanto esse dia não chega, desliza suas mãos pelos cabelos, murmura estórias infantis e tecendo grossas tranças, mistura o fio brilhante do sonho ao fio moreno dos cabelos da menina.
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