Queria falar de coisas que não deveriam ser ditas. Quebrar silêncios que não deveriam existir. Queria olhar no espelho e enxergar inteiro o que nela, às vezes se perdia em muitas. Ausências tantas que doíam. Solidões. E ela, que achava que só poderia existir uma única.
Queria falar do coração aos pedaços. Dos sonhos desfeitos, planos que nunca desenhara no papel. Queria destravar as mãos e arrancar pedaços do sorriso a sua frente. Capturar aquele momento numa eterna tela, a qual ela intitularia “Felicidades”. Queria não ser preciso chorar. Secar-se inteira e partir sem olhar para trás. Fingindo não ver os fragmentos do que foram, deslizando por entre suas pernas.
Queria prender o gozo, (apreender o gozo), o suor, o gosto dos lábios em sua boca, sugar o ar que respirava, até não haver mais nada a ser compartilhado. Queria fingir ser outra que não ela mesma e, no entanto, sabia-se falsa tantas vezes, quando ria, fingindo não se importar. Ausências tantas que doíam. Solidões. E ela aprendera que haviam muitas, e todas pareciam sempre ser maiores que ela mesma.
Queria ser o que não poderia ser. E, no entanto, já era. Percebia que agora, já era verão, e ela ainda não decidira acreditar na primavera.
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