Começa cedo, por volta das quatro da tarde, mas nunca tem hora para acabar. E não adianta nada falar que é uma festa infantil, porque vêm todos os adultos da família da criança convidada e mais os amigos mais próximos.
Você já está esgotada depois de pelo menos três noites sem dormir, enrolando brigadeiros e cajuzinhos, fazendo decoração, limpando play e etc. Descobre as três da tarde que esqueceram de encomendar o gelo. Para as bebidas, claro, que não podia ter só refrigerante.
Ás seis a festa está lotada. De pessoas que você nem imagina quem são. Às oito horas seu maxilar começa a doer terrivelmente devido ao esforço de sorrir o tempo inteiro. Seus pés estão em brasa e acha que perdeu os braços em algum momento, possivelmente quando teve que ficar retirando a bebida do gelo. Sua cabeça é um tambor no meio de uma festa africana.
Ah, sim, tem o som. Uma mistura qualquer de funk, rock, infantil e outros ritmos que fazem as crianças pularem o tempo inteiro.
O chão, uma mistura de pipoca, cachorro-quente e vômito. Decidida a encerrar a tortura, resolve cortar o bolo. Mas, é claro, sua mãe protesta, por que a tia Leonor ainda não chegou, e não adianta dizer que já são quase nove horas, e aquilo é uma festa de crianças.
Dez horas toma a decisão e chamo todo mundo para cantar parabéns. A mesa, linda, que teve tanto trabalho para fazer está parcialmente destruída, o bolo, com marcas de dedos, inclusive um que pelo tamanho é de um adulto, parece um queijo suíço.
Os parabéns demoram quase vinte minutos, não sem antes a aniversariante resolver cuspir na vela. – para apagar, mamãe, ela diz. O bolo é devidamente distribuído. E acha que finalmente a festa acabou.
- Mas, ainda tem bebida! Informação gritada pelo seu ex-marido. Senha para que os pais que um dia pensaram ir embora, voltem a se sentar e continuar de onde pararam.
Como boa anfitriã, ainda consegue reunir forças para percorrer o salão, mesmo sabendo que suas pernas nunca mais irão te obedecer no futuro.
Onze horas, senta, finalmente, sentindo o latejar das pernas e pensando em quantas varizes terão estourado essa noite.
Meia-noite e seu ex está atracado com uma loura, que você descobre que a sua vizinha de porta.
A festa ainda está cheia. De crianças dormindo de qualquer maneira sobre as mesas, enquanto seus pais bêbados dançam a macarena.
Duas horas da manhã o último casal se despede. Tonta de sono e de álcool começa a arrumar aquele inferno de bolo, bola, refrigerante e vômitos. Às três está tudo pronto e finalmente irá dormir. Entra em casa, e encontra um menino moreno e desconhecido no sofá.
Acorda as filhas e pergunta sobre o menino, obtendo a mesma resposta, ninguém sabe quem é..
Como última e única alternativa, resolve acordar o garoto. Que se chama Bruno e mora no prédio. No décimo andar. Pega o menino no colo e vai entregá-lo aos pais, que provavelmente estarão histéricos pelo desaparecimento da criança.
O garoto vomita no elevador, em cima dos seus sapatos.
Bate na porta. Mais uma vez. E mais uma, a porta se abre na oitava tentativa, quando já estava duvidando que tivesse alguém. Atende uma mulher sonolenta, que te olha como se fosse te matar. Pergunta se o menino é filho dela, ela diz que sim, e indaga porque não deixou que ele dormisse em sua casa. Responde que achou que ela ficaria preocupada.
Depois que a porta se fecha, ainda dá para ouvir a mulher dizendo, que a vizinha do 403 era mesmo muito escrota, nem deixou que o Bruninho dormisse na casa dela.
E ainda tem que limpar o vômito do moleque no elevador...
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