31 de ago. de 2009

Coração de Menino

O menino se assustou com o barulho do carro, mais ainda quando sentiu a mão da mãe largar a sua. Virou confuso para trás e não entendeu a mãe caída no chão. Ficou olhando: prestando atenção no filete de sangue escorrendo do ouvido. O monte de gente parando em torno. A mãe, imóvel, quietinha. Segurou suas mãos, tão leve, tão fria. Achou que a mãe tinha frio, tirou o casaco e cobriu seus braços.

Gente chegava, parava, depois ia embora, fazendo o sinal da cruz. Alguns olhavam o menino, exclamavam: coitadinho! E se iam, apressados.

Um policial chegou, olhou a mulher, olhou o menino, pediu aos curiosos para se afastarem. Gritou por um médico. Alguém avisou que já haviam chamado uma ambulância.

- Licença, licença. – um homem empurrava a multidão. – Ô seu guarda, sou médico, posso ajudar?
- Acho que morreu.
- Posso verificar? – perguntou o homem, apontando a mulher caída no asfalto. O guarda concordou.

O médico abaixou e examinou a mulher. Sentiu pulso, tocou na pele da face. Fez tudo isso sob o olhar atento do menino.

- Morreu. – sentenciou, limpando as mãos. Depois, sumiu na multidão.
- Morreu... – sussurraram os curiosos, alguns já indo embora, perdido o interesse.
- Ai, cancela a ambulância e chama o rabecão. – pediu o policial, voltando a controlar o trafego.

A palavra morte não era muito compreensível para o menino: qualquer coisa como viajar. Mas, se ele podia ver a mãe, ela não tinha viajado. Poderia ser dormir, mas seus olhos estavam abertos. Sabia que o carro havia machucado a mãe, mas não entendia o porquê dela não chorar, (quando ele se machucava, costumava chorar tanto que um dia inundaria o mundo, dizia sua mãe).

Ficou lá, do lado da mãe, enxotando as moscas que insistiam em pousar nos seus lábios. Sentia uma coisa esquisita dentro do peito. Seu coração de menino não sabia explicar o nó da garganta. Botou a cabeça da mãe no seu colo, fez um carinho em seus cabelos encharcados de sangue, e tentou acordá-la com um beijo.

Escrito em janeiro de 1995

25 de ago. de 2009

Contradições.





Falo das coisas que não deveriam ser ditas. Acredito em promessas, que sei que não serão cumpridas. Finjo sorrisos e anseio por abraços.

Tem horas em mim que a felicidade jorra nos gestos, tem horas que falta.

Sinto sozinha uma cidade repleta de faces. Fico em silêncio, rodeada de sons. Falo em angústias e procuro poesias. Contradições.







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1) Ganhei selinho do Mulheres da Vida Real - obrigada meninas! :o) Como tem algumas perguntas a serem respondidas, irei fazer o post sobre ele no final-de-semana.

2) Hoje (25/08) é aniversário de um ano do blog da Itinerante Neiva - Parabéns, querida!

23 de ago. de 2009

Acaso?

Obra do acaso? Lembre-se que o caminho percorrido até ali,
foi todo feito por sua vontade e através de seus próprios pés.

21 de ago. de 2009

Projeto Canções da Minha Vida

Por que quando se tem um sonho, a gente deve fazer o possível para torná-lo realidade.
Ela está começando a realizá-lo. Saiba mais sobre Canções da Minha Vida.

20 de ago. de 2009

(Des)Encantamentos

Espero e-mails que não chegam. Correspondências secretas que não existem. Telefones que não tocam. Encaro a madrugada vagando em sites onde não me acho. As palavras fogem. As ausências se vestem de saudades.

Procuro nas propagandas que chegam na minha caixa postal, qualquer uma que me indique o caminho percorrido. Mas até elas não me pertencem. Falam de pênis e remédios, oferecem dinheiro como por encanto.

E eu ando atrás de encantos. Encantamento. A família reunida, que não a minha, comemora a data sagrada. Doçura do cacau substituindo afetos. Eu penso nos quilos que ganhei nos últimos anos, no cigarro que trago e não devo, na vontade de estar distante, no entanto, presente. No emprego dos sonhos, onde não me adaptei. No livro que terminei e não publico.

Minha alma melancólica insinua felicidade pelas frestas e eu teimo ainda atrás de arco-íris fictícios. Ignoro falas. E continuo a busca do que já não sei se quero. Esperança de outras eras que não essa. Outras que nunca existiram, mas pelas quais, insisto em sentir saudade.

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Da série "As alegrias que a net me dá": Esse texto foi publicado anteriormente no A Criatura e a Moça (meu blog extinto). Hoje descobri que existiam dois blogs com esse texto, sem autoria e sem identificação de onde havia sido copiado. rs Então já sabem, se receberem também esse texto perdido por ai, sou a autora. :o)

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19 de ago. de 2009

Uma Outra História de Fadas

Vivia em uma torre. Alta, de paredes de cristal. O que era pior para ela. Pois podia ver tudo o que acontecia ao seu redor, sem, no entanto, poder vivenciar. Um dia uma bruxa má a aprisionara ali. Por isso era triste. Sozinha. Dia e noite a pentear seus longos cabelos.

Olhava a vida que se descortinava por entre as paredes de cristal, emitindo longos suspiros de pesar. Invejava a mulher simples que todos os dias saia, cesta na cabeça, a vender seus produtos na feira. O casal que todas as tardes, sentava à beira do riacho a enamora-se do pôr do sol. Do homem que atrás do arado, plantava sua subsistência.

Triste seus dias iam se passando. De todos os que ela via através das paredes da torre, um em especial, acirrava o seu suspirar. Um jovem que todas as tardes passava sob a alta janela da torre. Sabia que ele também a olhava. E isso só lhe trazia mais pesar. Por saber o quão impossível seria o encontro.

Um dia, o tal jovem não seguiu, parou e deixou uma rosa, aos pés da torre. E a partir daí, todos os dias ele deixava flores para ela. E cantava, versos tão bonitos, que aqueciam seu coração prisioneiro.

Não demorou que ele implorasse o seu amor. Propôs que ambos fugissem da tirania da bruxa. O coração da donzela bateu acelerado. Sequer dormiu aquela noite, pensando na doce proposta.
Mas, no dia seguinte, ao passar sob a torre, o jovem não a viu. As paredes, antes cristalinas, agora opacas, escondiam o seu interior. As janelas fechadas ocultavam a face de sua amada. Dias passou ali. A gritar, a tentar escalar paredes tão lisas.

Não se sabem ao certo o que aconteceu com esse jovem, dizem que se apaixonou novamente, agora pela moça do cesto, aquela que passava todo dia, para vender seus produtos na feira. Outros dizem que ele apenas cansou, e voltou para sua terra natal.

Quanto a jovem da torre, ninguém nunca mais ouviu falar nela. Pois na noite anterior a sua fuga. Quando se entregaria pela primeira vez ao amor. Descobriu que a bruxa má que a mantinha aprisionada, não era outra, senão ela mesma, que as portas nunca estiveram fechadas, e a torre nem tão alta era...
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17 de ago. de 2009

Amiga é para essas coisas

Um domingo qualquer, recebe um telefonema às 10 horas da noite.

- Poli?
- Lana?
- Você está muito ocupada?
- Não? Algum problema?
- É... Mais ou menos... É que perdi minha carteira... Acho que foi no BarX. - um barzinho que freqüentavam sempre que a grana espichava um pouco.
- Você quer que eu vá lá? - como morava mais perto, achou que era isso que a amiga queria.
- Não... Ou melhor,...
- Lana, estou ficando preocupada, quer me dizer o que está acontecendo?
- É que tô em um motel...
- Sim?
- E o carinha não tem grana para pagar... E acabei de ver que estou sem a carteira...
- Você o quê? Está num motel com um cara que não tem como pagar a conta? Hahaha!
- Para de rir, que a coisa é séria! Não agüento mais ficar aqui com esse cara! - ouve uma exclamação de revolta ao lado, ela diz alguma coisa pouco afetuosa para alguém, depois volta. - Você pode vir me buscar? Depois a gente acerta...

Até tentou não rir. Mas, não deu. Caiu na gargalhada, enquanto a amiga, fula da vida, xingava toda a sua família.

- Tá. Tá. Diz o endereço que passo aí.

Anota o endereço. Troca de roupa. O marido, pergunta aonde vai. Diz que a um motel encontrar com Lana.
- Heim?
- Depois explico.

E vai embora, rindo. Da situação da amiga e da cara de espanto do marido.

Não desce do táxi. Para na portaria e a mocinha da recepção já vai entregando uma chave.

- Não querida, por favor, avise ao casal do quarto 302 que Poliana está aqui.

A mulher arregala os olhos. Tenta dizer alguma coisa, mas ela insiste. A recepcionista então liga para o quarto. Não demora muito, desce Lana, cabelos molhados e cara de puta, acompanhada de um cidadão maravilhoso, com aparência de adolescente que foi pego se masturbando com a meia da prima.

Lana vira para a mocinha da recepção e pergunta quanto. Depois caminha até o táxi, onde a amiga espera e pede a quantia. Dá a ela, o dinheiro. Ela paga e diz um a gente se vê mal-humorado para o rapaz que parece desejar um buraco para se enfiar.

O taxista dá ré e partem. Enquanto Lana, que perde a vida, mas não perde uma piada, começa:

- Preço do jantar - R$ 100,00, Quarto do motel R$250,00 - a cara de idiota da recepcionista quando a sua amiga paga a conta, não tem preço.

E caem na gargalhada.

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14 de ago. de 2009

Pulsar

Não faço planos, são feitos de espuma do mar, não posso pegá-los com as mãos, pois deslizam por entre os dedos, criando sulcos na alma.

Cavalgo em estrelas selvagens, buscando a casa das palavras proibidas.

Não tenho sonhos, são feitos de nuvens, desfazem-se no toque das mãos.

Teço palavras com o fio das lembranças dos amores esquecidos.

Não creio em amores, são teias de aranha imaginárias, iludindo com o seu efêmero brilho, aprisionando os que com ele se encantam.

Construo castelos, erguidos em noites insones, regadas de vinhos, odores e orgasmos. E vivo. Sentindo o gosto da vida em minha boca, o real pulsando em minhas veias, acompanhado pelo arfar constante do meu coração.

12 de ago. de 2009

Manual em Reforma:


Seu link sumiu? Por favor, deixe recado nos comentários. Sabe como é, casa com obra fica tudo um caos e sempre perdemos alguma coisa. :o)

11 de ago. de 2009

Armadilhas Sentimentais

Uma lágrima, apenas uma única lágrima. Foi isso que fez com que ele a amasse. O delicado instante de um piscar de olhos, escorrendo suave pelo contorno do rosto, terminando na palma de sua mão, o que lhe bastou para fazer juras eternas.

Que duraram até o exato instante em que ele descobriu que não haveriam lágrimas todos os dias. A felicidade dela, o motivo do seu desamor. Na despedida, outra lágrima silenciosa.

Foi quando ambos perceberam a armadilha, o que ele amava nela era o que não poderia ser oferecido por ela, enquanto se sentia amada. E aos dois, restava a condenação do circular dilema.

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Pedido: Estou fazendo umas mudanças no layout do blog, em um dos testes feitos, perdi quase todos os links de blogs amigos, se você não estiver na lista ali do lado, pode por favor, avisar nos comentários? :o)


10 de ago. de 2009

Como Pode?

Como hoje pode ser segunda, se ainda trago o cheiro do domingo em minhas narinas?

Como hoje pode ser segunda, se ainda na boca, o gosto de café tomado na cama, se insinua?

Como hoje pode ser segunda, se a sensação de tuas mãos em meu corpo, ainda me esquenta?

Mas já ouço os passos apressados nos corredores do edifício, o burburinho abafado do trânsito e o despertador nos alerta que é hora de sermos adultos de novo.

Infelizmente, hoje ainda é segunda.

6 de ago. de 2009

Sou + Eu e estou nas bancas!



Essa semana (06 de agosto) saiu uma nota na revista SOU + EU, na seção Batalhei Pelo Meu Sonho, sobre como o texto "Querido Diário" virou spam, que virou livro, que virou peça e agora, virou nota de revista!

Corre lá nas bancas e compre um exemplar. Será que eu já começo a usar óculos escuros e disfarce para ir ao mercado? rs

5 de ago. de 2009

O Último Cigarro

Juro que é o último cigarro. E me distraio vendo a chama acesa do isqueiro. Penso no dia que se foi. Nos problemas que insistem em virarem nós. Profundos. Quase cortes no cotidiano. Prometo que vou parar de fumar. Mas sinto falta do seu toque em meus dedos. Seu sorriso me distrai a lembrança.

Você partia em uma tarde triste. Lembra? E me pediu um cigarro. E te vi fumar. O trago longo, entrecortado por uma tosse. Você tossia quando fumava e me dizia, quando eu voltar, não vou estar mais fumando.

Você continua fumando. Soube por outros. Talvez por isso não voltou. Incapaz de cumprir promessas. Desisti de você em uma tarde triste, igual àquela quando me disse adeus. Dizíamos frases que nos faziam rir. Mais a mim, que sempre ria das suas frases, menos por serem engraçadas, mais pelo jeito que as falava.

Sempre quieta. Ouvia dos teus sonhos. Que eram nossos. E eu não sabia. Até o dia em que você me revelou num sussurro: nossos sonhos. E bem que tentei acompanhar. Mas não podia. Sonhos não me pertencem. Nem você. Fluida como a fumaça que exalo ao dar a última tragada.

Respiro fundo. Juro que é o último. Mas seu sorriso surge novamente na minha lembrança. E acendo mais um cigarro. O último...

2 de ago. de 2009

Pequenos Instantes

Ele a deixou na porta de casa e lhe deu um suave beijo na boca. Ela hesitou, entra não entra? Convido, não convido?

Ele sentindo-lhe a hesitação, tocou com a ponta dos dedos, seu rosto. Deslizou suave até achar a curvatura de sua boca.

E ela imaginando a angústia dos dias seguintes, as inúmeras possibilidades, o medo das impossibilidades, a certeza do que não seria, misturado a incerteza de tudo aquilo que poderia ser. Respirou fundo e abrindo a porta, puxou-o para dentro.

Entre o ser e o não ser de tudo aquilo que poderia, ela queria apenas o ter. E desfrutar, mesmo que fugazmente, aquele breve instante de felicidade.