19 de ago. de 2009

Uma Outra História de Fadas

Vivia em uma torre. Alta, de paredes de cristal. O que era pior para ela. Pois podia ver tudo o que acontecia ao seu redor, sem, no entanto, poder vivenciar. Um dia uma bruxa má a aprisionara ali. Por isso era triste. Sozinha. Dia e noite a pentear seus longos cabelos.

Olhava a vida que se descortinava por entre as paredes de cristal, emitindo longos suspiros de pesar. Invejava a mulher simples que todos os dias saia, cesta na cabeça, a vender seus produtos na feira. O casal que todas as tardes, sentava à beira do riacho a enamora-se do pôr do sol. Do homem que atrás do arado, plantava sua subsistência.

Triste seus dias iam se passando. De todos os que ela via através das paredes da torre, um em especial, acirrava o seu suspirar. Um jovem que todas as tardes passava sob a alta janela da torre. Sabia que ele também a olhava. E isso só lhe trazia mais pesar. Por saber o quão impossível seria o encontro.

Um dia, o tal jovem não seguiu, parou e deixou uma rosa, aos pés da torre. E a partir daí, todos os dias ele deixava flores para ela. E cantava, versos tão bonitos, que aqueciam seu coração prisioneiro.

Não demorou que ele implorasse o seu amor. Propôs que ambos fugissem da tirania da bruxa. O coração da donzela bateu acelerado. Sequer dormiu aquela noite, pensando na doce proposta.
Mas, no dia seguinte, ao passar sob a torre, o jovem não a viu. As paredes, antes cristalinas, agora opacas, escondiam o seu interior. As janelas fechadas ocultavam a face de sua amada. Dias passou ali. A gritar, a tentar escalar paredes tão lisas.

Não se sabem ao certo o que aconteceu com esse jovem, dizem que se apaixonou novamente, agora pela moça do cesto, aquela que passava todo dia, para vender seus produtos na feira. Outros dizem que ele apenas cansou, e voltou para sua terra natal.

Quanto a jovem da torre, ninguém nunca mais ouviu falar nela. Pois na noite anterior a sua fuga. Quando se entregaria pela primeira vez ao amor. Descobriu que a bruxa má que a mantinha aprisionada, não era outra, senão ela mesma, que as portas nunca estiveram fechadas, e a torre nem tão alta era...
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Um comentário:

Iara disse...

Que lindo Patricia, adorei, diz tantas coisas quando paramos e refletimos ao ler.
Parabéns
Iara