27 de mar. de 2011

Vida, (im)Perfeita Vida!

Amores não são criados em um laboratório. Nem tudo é exatamente do jeito que gostaríamos que fosse. Ambientes controlados geram cobaias infelizes presas em cativeiros imaginários. 

Impossível voar com algemas nos pés. E o que aconteceu. Os cortes dolorosos que um dia sangraram seu peito, não devem ser guardados em cristaleiras como lembranças daquilo que dói. A vida é mais que cicatrizes escondidas. Até porque elas sangram sempre que você as descobre... 

Impossível alcançar o mar se não quiser pisar na areia... Molhar a ponta dos pés nas águas, flertando com o desejo de submergir nas ondas? A vida é mais que medos podando aquilo que possa ser. É preciso correr na areia, afundar a cada passo, sentir-se tragada na sensação plena e se jogar nas gélidas águas. Mergulhar. Sentir-se afogando, o ar saindo do peito, a morte... pequena morte, como os franceses chamam o orgasmo...

Impossível viver o hoje se o ontem insiste em te fazer prisioneira, como bolas de ferro nos pés. É preciso acordar com o amanhã na alma, o talvez nos olhos e a certeza absoluta de que nada se sabe, para tentar construir o novo. 

Fantasmas existem para ficarem ocultos nas cortinas e não para te enevoarem os sentidos e criar maresias em seus olhos e coração.

Viver não é simples, minha criança, e tolo é quem diz que é. É dolorosamente complicada, a felicidade é quase uma utopia, mas existe! E, em alguns momentos, se permitirmos e esquecermos os esqueletos no armário, seremos capazes de sentir seu sopro... Pequenos momentos que servirão de alento e nos impulsionaram para frente, ansiando pelo próximo contato...

23 de mar. de 2011

Bem Me Quer

Desliza os dedos pelas folhas, suavemente retirando pétalas. Bem-me-quer, mal-me-quer, o que será que o destino lhe reserva? Amor não se escolhe! Frases ditas e repetidas por todas povoam sua mente. Por isso suspira, a espreita da próxima esquina, aonde surgirá o amor encantado que um dia sonhou nas estórias infantis. 

Ao lado, cavaleiro errante, mal percebido, pois suas lentes focalizam o homem inexistente. Aquele que em noites insones a faz debulhar folhas de uma pobre flor. Expectativas do acaso, sem perceber que o destino não se escreve em linhas indômitas, mas antes, desenhado em traços por nossas próprias mãos. 

E se hoje chora, suspirando um amor não correspondido e pensa que sua sina é a dos homens errados, deixa escapar a última pétala, um bem-me-quer perdido por mãos descuidadas.

17 de mar. de 2011

Escrita Visceral


Estou sentada na sala da recepção, aguardando mais uma entrevista de emprego. O celular conectado traz o e-mail tão desejado. Leio e inevitavelmente as lágrimas vêem aos olhos. Ok, é mais um não. Mais um “Sua escrita não se encaixa no perfil literário de nossa editora” é assim a maioria das negativas. Tem as mais sucintas: Seu original não foi aprovado. Tem as que te elogiam em dois parágrafos e te puxam o tapete no terceiro. E tem esse, que não é de uma editora. É mais um desses grupos literários, organizados por pretensos intelectuais que acreditam que literatura tem que chafurdar no caos, se afogar numa sexualidade doentia. Ser um escritor moderno, para esses, pressupõe noites em bacanais culturais, consumindo Sartre e  Jack Kerouac on the rocks. Mas por alguns momentos eu quero ser como eles, fazer parte dessa chamada geração visceral. Mas sou apenas uma quase senhora esquisita que escreve num estilo que não pertence a lugar algum. E esse o tom do e-mail que recebo, gentilmente dizendo que a turma literária não é minha praia me traz lágrimas aos olhos. Em alguns minutos serei chamada para a sala do RH. E como assim? De olhos borrados e lacrimejantes. Mordo a bochecha, truque infantil para conter o choro. De repente, sinto que posso suforcar. Pergunto onde é o banheiro. Lavo o rosto até o gelado da água sintonizar a realidade. Preciso do emprego, arroz com feijão se compra com salário no banco. Feijão e o Sonho. Detestei esse livro na primeira vez que li. Talvez já identificasse o futuro naquelas linhas. Pressentimento de que o sonho ambicionado na infância iria se perder no duro concreto da realidade. Ainda assim odeio a pessoa que me mandou e-mail. Odeio o fato dela me dizer que não me encaixo naquele projeto literário. Odeio o julgamento embutido. Por uns segundos me sinto medíocre e sempre tive medo da mediocridade.  Eu flerto com o abismo, mas nem o abismo parece me querer... Aquilo que sou, sempre associei aquilo que escrevo. Parte inerente de meu corpo. Meu e ser. E então ali, naquelas poucas linhas, acabo de descobrir o “não-ser”. Engulo em seco, forço um sorriso na hora em que a funcionária me indica a sala. Esqueço os nãos e as pretensões. Travestida de fortalezas improváveis, ofereço um apertar de mão forte a entrevistadora. Posso não ser uma escritora de estilo definido, mas como personagem, sou imbatível.

14 de mar. de 2011

In The Blue Sky

Espio saudade pela fresta. Cores iluminam vãos inexistentes de mim mesma. Quase posso ouvir tuas mãos segurando o pequeno pássaro caído do ninho. Cabeça preta e peito branco. Você disse o nome, mas se perdeu em alguns segundos após sua fala. Enebriava-me tanto em sua paleta, que o som só se faziam presente em cores. Havia o muito azul do céu, o amarelo incandescente dos girassóis, o barrento do rio que cercava. E sua voz, que me chegava em sobre tons, às vezes gris, outros numa calmaria dos tons pastéis... As tardes eram verdes e se enroscavam modorrentas em nossas pernas sobre o galho, enquanto explodíamos jabuticaba no céu da boca.

No dia em que fui embora, havia um azul embotado em seus olhos. Que me segurou as mãos e disse: - toma filha, para ajudar nas despesas. Dentro delas, duas notas de 100 reais. Tudo o que você tinha. Tudo o que eu queria, no entanto, era a fortaleza segura do seu abraço.

Eu murmurei obrigada e entrei no carro. Meus olhos agrilhoados aos seus, eram cinzas opacos.

12 de mar. de 2011

Para Luci com Carinho

Ano passado postei no blog um dos textos mais dolorosos que já escrevi. Era como um bilhete na garrafa. Estava passando por uma situação tão angustiante, que pedi socorro. Recebi apoios lindos, comentários que me fizeram chorar. E foi então que Luci surgiu na minha vida. Deixou além das palavras de conforto, telefones e e-mail... Fui surpreendida por tamanha generosidade de alguém que ainda não conhecia.

No twitter começamos a conversar e a cada tuitada dela, para mim ou para outros, fui sendo conquistada, pessoa de opiniões firmes e tão parecida com as minhas, dona de uma sinceridade impar e uma bondade infinita.

Quando da tragédia na Serra, enquanto todos nós atônitos pensávamos em como ajudar as vítimas, foi Luci que transformou aquele sentimento de solidariedade em um movimento palpável de ajuda. Ela e a Elaine fizeram uma diferença gigantesca para muitas daquelas pessoas e para todos nós, que sob seus planejamentos, pudemos ajudar.

Normalmente, em aniversário, nós presenteamos as pessoas, mas com a Luci é diferente, por que nós é que somos presenteados, com seu carinho, seu afeto e sua generosidade.

Posso passar horas aqui falando no quanto ela é especial, pra muitos e particularmente para mim.

Sabe aquela garrafa que joguei ao mar? Ela a achou, leu o bilhete e nadou milhas até me encontrar e resgatar. Por isso hoje, nessa dia que é dela, faltam-me palavras para a parabenizar.

Mas, invejem-me: amanhã estarei pessoalmente com ela e falarei na linguagem do afeto o quão feliz me sinto por ela ter me deixado entrar em sua vida,

Parabéns amiga, que seu aniversário seja hoje e sempre, dias especiais, que seus sonhos sejam todos realizados, que a felicidade seja uma constante e que todo afeto que você tão generosamente nos doa, retorne infinitamente maior para você!

Para conhecer mais sobre a Luci - Vida éo  blog pessoal dela. Em Artes da Luci, conhecerá suas artes e aproveita veja o que a linda Elaine Gaspareto escreveu para ela.

9 de mar. de 2011

Aquecendo o coração:

Caixa com todas as fofurices reunidas
Já escrevi aqui que não dou sorte com amigo-oculto. Embora, o das amigas da laje tenha sido maravilhoso, no das crafteiras não me dei muito bem, ou mellhor, não me dei nada bem, afinal, fui esquecida.

Já estava toda chorosa, pensando que ninguém me amava, ninguém me queria, quando a Janaina avisou que as esquecidas seriam adotadas por outras crafts que não tinha participado na ocasião.  E adivinha, a querida Tays Rocha, minha amiga arteira e multi-tarefas me adotou!

Alfineteiros lindos, feitos de pote de papinha e tampa de amaciante e caneca de joaninha (amo)
Ter sido adotada pela Tays me fez ficar com sorriso bobo no rosto por dias, afinal, além de ser uma pessoa maravilhosa, mãe de duas gostosuras, uma ainda no colo e outro, um garotinho na idade do impossível, rs Sei bem, porque tenho um em casa. rs
Essa caixa ela fez de joaninha, combinando com o sabonete de aroma delicioso!

Tays também é uma artesã de mão cheia, que faz trabalhos em caixa e com tecido de aquecer o coração de tãos lindos. Pois é, e a danada ainda administra um mundo de blogs, que tem suas fofufas expostas, dicas e paps maravilhosos. 

Como ela sabe que amo joaninhas, mandou um pedaço dessa flanela estampada.
Então, o presente chegou, ou melhor, os presentes, que foram vários, um mais lindo do que o outro,  embalados um a um em tecidinhos fofos e diferentes.

E eu que achei que só de ter sido adotada por ela, já era a pessoa mais feliz do mundo, descobri que a felicidade mora numa caixa de correio! rs 

Sabe criança feliz? Era eu desembrulhando todo aquele mundo de fofurices, feitas cada uma delas, pelas mãos da minha talentosa amiga!

Esse bloquinho, ela fez de lembrança de nascimento da Mariana. É lindo!
Numa caixa decoupada por ela, veio esmaltes e coisinhas pras unhas :oD
Olhem esses corações, que lindos!
Essa casinha já está na minha porta, pra trazer boas energias!
Um cartão e uma carta e um coração feliz!
E, como se não fosse o bastante, Tays me mandou um carta, escrita a mão, com uma letra redondinha, lembrando das minhas professoras no primário (existe isso ainda? rs), falando cada coisa linda, que me fez chorar tanto, mais tanto... E olha que não sou de chorar fácil, mas foi uma emoção tão bonita que todo aquele carinho me passou. 

Senti o amor vindo em cada peça, em cada palavra escrita, e num momento da minha vida, onde tudo anda tão pesado, sentir aquele abraço e colo, aqueceu demais meu coração.

Obrigada amiga, você não tem noção como me fez bem ter tido o prazer de te conhecer e mais, de ter sido adotada por você!

5 de mar. de 2011

Sobre Ser Mulher:

Ah, é uma menina... menina não usa azul. Menina não brinca de carrinho. Comporte-se como uma menina! Pare de andar com esses moleques, você é uma menina! Isso não é coisa de menina. Não fale palavrão. Feche as pernas. Penteie esse cabelo. Você não pode chegar tarde!

Ah, mas ele é menino, ele pode. Não fale assim perto dos garotos. Vá lavar a louça. Já varreu a casa? Deixa minha filha, que mulher sofre mesmo. Pra ficar bonita tem que sofrer. Ajude seu irmão a arrumar o quarto. Não, você não pode ir na festa com seu irmão! Ta querendo ficar mal falada? Eu sei que seu irmão já está namorando, mas você é menina ainda!

Essa roupa está muito curta. Com essa blusa você não sai. Seu irmão disse que você andou beijando um menino lá no colégio! Imagina o que as fofoqueiras vão dizer. Isso não é profissão para mulher. Isso não é comportamento de mulher. Parece até homem. Vai ficar dando em cima dele? Quer parecer uma vadia? 

Quando casar passa. Tudo bem que queira trabalhar, mas é o casamento, fica aonde? Você precisa arranjar um marido. Tá nervosa assim porque tá precisando de um homem. Como você não pensa em ter filhos? Mulher no volante, perigo constante. Mulher não é bicho confiável. Agora que ela casou, sossega. Olha esse conjunto de panelas que comprei de aniversário para você. 

Mulher é fresca mesmo. Mulher é forte. Mulher é frágil. Mulher é única. Mulher tem um dia só para ela. Mas, eu não gosto de ter um dia internacional em minha defesa. Não enquanto perpetuamos frases que nos marcam como gado. A mudança não se faz em um dia, mas cotidianamente. 

2 de mar. de 2011

Tornar-se Invisível:

Em algum momento a poesia se perdeu. Podia ser nas palavras, que agora desciam em sua pele como facas afiadas. Podia ser nos olhares, que antes ternos, soavam agora como uma sutil ironia, eterna desconfiança nas retinas.

Ela fingia não perceber a ausência do lirismo e escondia dores no detergente. Seguia passo-a-passo na direção do abismo infinito do não-amor. Estradas alteradas, ela sabia, mas insistia na contra-mão.

E, o pior de tudo, era perceber-se cada dia mais tênue. Desaparecia. E ninguém a sua volta parecia ao menos notar. Fazia-se silêncios, mesclava-se à rotinas de marido e filhos. Engolindo em seco e tentando não olhar no espelho, pois sabia, que em algum momento, quando não houvessem mais fugas, ela olharia em busca de reflexos e veria o nada, ausência final dela mesma.

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Post publicado em homenagem a semana da mulher - até o dia 8/03 o tema aqui irá ser esse. 
A idéia deste microconto entra em sintonia com o post da Fernanda Reali, Alessandra e Iara - que falaram tão bem sobre a invisibilidade feminina.