Capitulo III:
Cenas de Um Divórcio:
Cena 3 - E a sua mãe também
Resolvemos contar para nossos pais separadamente. Ele
contava para os deles e eu, que já conhecia minhas feras, contava para os meus.
Nisso Adalto se deu muito bem, os pais dele eram super tranqüilos, em
contrapartida, os meus...
- Você vai se separar?!
- Calma mãe! Olha a sua pressão...
- Ele te traiu não foi? Eu sabia, eu sabia! Mas, eu te
disse, homem não presta! Tem que ficar de olho. Ficar ali no pé. É só ver o seu
pai, se eu não trago ele ali, ô, amarrado no cabresto, pode apostar que ele já
tinha era comido um monte de capim do vizinho...
- Não, mãe, o Adalto não me traiu.
Quando mamãe abre a boca e arregala os olhos não vem coisa
boa, ainda mais se juntar a isso as mãos em cima do peito.
- O que houve, mamãe?
- Foi você! Você!
- Eu o QUÊ? Fala logo!
- Você tem um amante!!!!
Óbvio que meu pai entraria nessa hora, senão não teria a
menor graça!
- VOCÊ TEM UM QUÊ?
Eu sento na cadeira. Deixo que eles falem. E como eles
falam! Depois que a fase dos gestuais e gritos acaba e inicia a fase das
lágrimas, explico a história toda. No final, minha mãe está convencida que
Adalto tem outra e meu pai de que sou uma louca, acho que concordo com ele.
Capitulo III:
Cenas de Um Divórcio:
Cena 4 - Eu fico com o disco de Pixinguinha ou momento surto da Poliana
- A coleção do Machado de Assis fica comigo! - Adalto
bradou, já colocando os livros dentro da caixa.
- Claro que não! - Retruquei, retirando os mesmos da dita
cuja. - É minha!
- Mas, você já ficou com os da Clarice!
- E, mas te deixei Shakespeare!
- Sei, mas não quis me dar o do Manuel de Barros!
- Ora, ele não pode se separar da Florbela Espanca!
- É, mas você não reclamou quando separou Fernando Pessoa
de Camões! Eles são portugueses, deviam ficar juntos!
- Os portugueses se separaram quando vierem dar por esses
costados, não tem um problema muito grande se separarem novamente...
- E Borges, fica com quem?
- Borges, não! Borges é meu!
- Tudo bem então fico com Garcia Marquez!
- Eu te dou Garcia Marquez se me deixar ficar com Virginia
Woolf e Kafka.
- ...
- O que foi?
- E Henry Miller, o que vamos fazer com o pobre do Miller?
- ...
- Eu não posso... Eu não posso ver isso! Fico pensando
neles sozinhos, em um apartamento estranho... Imagina o Graham Greene ao lado
de Jorge Amado, ele que sempre ficou ao lado de D.H Lawrence, de Tolstoi, de
Jane Austen...
- E o Jorge?
- Borges?
- Não. Amado... Como separá-lo da Rachel de Queiroz? Da
Lígia Fagundes? Da Nelida...
- E os Andrade? Não posso separar Oswaldo, do Mario...
- ...
- Não chore querida... Por favor, não chore...
- É que... é que... é que não posso nem pensar em abandonar
o Veríssimo!!!
- O pai?
- O filho...
- É... O Luiz... Demos boas gargalhadas com ele, não é? Com
o pai também, boas lembranças...
- E se a gente revezar?
- Como?
- Assim, cada semana fica com um.
- Biblioteca itinerante? Acho que não vai dar certo...
- O que você prefere? Separá-los? Nunca! Só por cima do meu cadáver!!!
Fim do surto e voltamos a nossa programação normal.
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Este texto faz parte do Romance: Poliana em Tempos de Crise e você pode ler os capítulos anteriores nos links abaixo:
Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II - Muito Prazer, Sou Poliana
Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II - Muito Prazer, Sou Poliana
Capítulo III - Cenas de um Divórcio - Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem.
Capítulo III - Cenas de um Divórcio - Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. (cont)
5 comentários:
Patrícia,
Isso está cada vez melhor, uma ótima peça de teatro, fico imaginando as cenas na minha cabeça. Sabe, não conseguiria abrir mão dos livros, alguns nem morta.
Beijos
olá, seu elogio me deixa feliz .. saudades.. qq dia vou lá na sua feira dar um rolé e te visitar...bjks LIN
kkk Bom demais!
Parabéns pelo texto, como sempre uma delícia de leitura
Beijinhos
Jô
Ao ler os capitulos, alguns deles me remeteram ao passado...é claro que os seus capítulos tem uma leveza que dá vontade de ler mais.
Bjão
Essa discussão dos livros e discos me lembrou uma cena de Harry & Sally, viu? tá bom demais.
bjs
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