26 de set. de 2011

Poliana em Tempo de Crise - cap.III


Capitulo III: 
Cenas de Um Divórcio:

Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. 


Deixei que a ideia criasse raízes. Ponderando todas as conseqüências do ato. Precisava tomar coragem de conversar com Adalto. E essa era a parte mais difícil. Imagine como informar a minha conturbada família, que eu estava abrindo mão, do que era considerado um casamento perfeito.
Mas, no final o inesperado aconteceu, já que foi ele que tomou a decisão. Foi em um sábado. Liliana na rua, em uma festa qualquer, Betânia na cama e nós dois ali, curtindo Supercine.
- Acho que nós precisamos dar um tempo.  - é preciso explicar uma coisa antes, Adalto é a pessoa mais direta que conheço. Fala em uma frase o que a maioria das pessoas, enrolaria dois parágrafos para dizer.  Por isso, não fez rodeio aquele dia. De maneira, rápida, clara e sem muitas delongas, tratou de explicar que queria o divórcio.
- Também ando pensando nisso...
- Pois é, acho que viramos dois amigos, e se é para sermos somente amigos, que sejam em casas separadas, assim, um não impede o outro de viver um novo amor.
A frase doeu. Em todo o tempo que havia pensando na separação, não havia pensado nas conseqüências concretas do ato. Ele conhecer uma nova pessoa e tentar uma vida a dois novamente era uma dessas.
- Você está com outra?
- Eu? Não. Mas ando pensando na possibilidade...
Bem, eu sou mulher. E como toda mulher, não acreditei.
- Seu cretino, miserável! Você está me traindo!
- Poli, presta atenção! EU NÃO ESTOU TE TRAINDO! E é para não te trair que estou pedindo o divórcio! Será que é tão difícil de entender? Além do mais, você acabou de dizer, que também estava pensando nisso!
Nessa altura, eu já estava com as mãos na cadeira, segurando o choro. A razão completamente submetida ao desvarios do velho monstro de olhos verdes.
Falei uma meia dúzia de palavrões. Xinguei toda a família dele e me tranquei no quarto, aos prantos.
Se você acha que ele foi lá me consolar, pode tirar o seu cavalinho da chuva! Meu querido marido, agora ex, não caia na velha armadilha feminina das lágrimas. Viu o filme todo, e só quando já estava caindo de sono, foi para o quarto.
Eu estava lá, claro, jogando todas as roupas dele em uma mala.
- O que você está fazendo?
- Expulsando você!
- Por que?
- Por que você é um cretino, filho da mãe!
-...
- Com quem você me traiu, heim?! Com quem?
- Uê, se você tem tanta certeza que eu te trai, deve saber com quem!
Nessa altura, o resto da dignidade vai por água abaixo, literalmente, sentei no chão, perto da cama, as lágrima escorrendo copiosamente.
Uma coisa que é preciso dizer. Nós mulheres somos os bichos mais estranhos do planeta! Eu vinha pensando em me divorciar há meses, esperando só a chance de falar com ele. Sem pensar nos sentimentos dele, ou melhor, preparando-me para vê-lo se arrastar e implorar que eu não o deixasse.
Mas, como a situação não fora bem a que planejei, fora ele que tomara a iniciativa, sentia-me traída e apunhalada. De repente a idéia do divórcio parecia ser uma coisa horrorosa.
E lá estava eu, chorando como uma criança, na beira da cama. Enquanto o cretino, sim, agora ele era um cretino. Olhava tudo, sem esboçar gesto nenhum.

- Não vai falar nada?
- Não, enquanto você não voltar a ser um ser racional.
- Por que você quer se separar de mim?
- Poli, eu não quero me separar de você. Nós queremos nos separar um do outro! Lembra?
Não. Eu não lembrava. Na verdade, só pensava em como era infeliz e como ele podia ter feito isso comigo e que os homens não prestavam e eram todos cretinos, miseráveis e canalhas!
Foi uma looooonga noite de conversa. Eu chorei, (mais), ele chorou. Lembramos tudo que havíamos passado. O casamento, o nascimento das meninas... Tudo.  Eu gritei. Ele gritou. Fiquei com raiva, ele ficou com raiva. Falei um monte de palavrões, ele falou outros tantos. Eu o ameacei, ele me ameaçou... Resumindo, fizemos o que todos os casais fazem quando o assunto divórcio entra em pauta. Depois dormimos. E amanhecemos convencidos que devíamos nos separar.

Restava agora contar para a família. As meninas eram a nossa maior preocupação. Por isso, decidimos preparar bem o terreno. 

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Este texto faz parte do Romance: Poliana em Tempos de Crise e você pode ler os capítulos anteriores nos links abaixo:

Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II  - Muito Prazer, Sou Poliana

Capítulo III - Cenas de um Divórcio

3 comentários:

Vanessa Anacleto disse...

Cara, isso tá bom demais.

Joana disse...

Me vi nessa cena. Não que eu já vivesse uma situação assim (nem quero, ai ai... rs), mas já fiz exatamente isso que ela fez: abordei um assunto e não gostei do que ouvi, inverti as posições... enfim: uma bagunça que só as mulheres são capazes de fazer e ainda entender!
Bom demais esse texto.
Beijinhos,

Cissa Branco disse...

Patrícia,

Lendo o texto vivi as emoções da Poli, como assim ele quer se separar dela?! E torci para que a manhã trouxesse um final feliz para o casal, como não aconteceu, vou ficar aqui me roendo de curiosidade esperando as cenas dos próximos episódios.
Grandes beijos