Capitulo III:
Cenas de Um Divórcio:
Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem.
Deixei que a ideia criasse raízes. Ponderando todas as
conseqüências do ato. Precisava tomar coragem de conversar com Adalto. E essa
era a parte mais difícil. Imagine como informar a minha conturbada família, que
eu estava abrindo mão, do que era considerado um casamento perfeito.
Mas, no final o inesperado aconteceu, já que foi ele que
tomou a decisão. Foi em um sábado. Liliana na rua, em uma festa qualquer,
Betânia na cama e nós dois ali, curtindo Supercine.
- Acho que nós precisamos dar um tempo. - é preciso explicar uma coisa antes, Adalto
é a pessoa mais direta que conheço. Fala em uma frase o que a maioria das
pessoas, enrolaria dois parágrafos para dizer.
Por isso, não fez rodeio aquele dia. De maneira, rápida, clara e sem
muitas delongas, tratou de explicar que queria o divórcio.
- Também ando pensando nisso...
- Pois é, acho que viramos dois amigos, e se é para sermos
somente amigos, que sejam em casas separadas, assim, um não impede o outro de
viver um novo amor.
A frase doeu. Em todo o tempo que havia pensando
na separação, não havia pensado nas conseqüências concretas do ato. Ele
conhecer uma nova pessoa e tentar uma vida a dois novamente era uma dessas.
- Você está com outra?
- Eu? Não. Mas ando pensando na possibilidade...
Bem, eu sou mulher. E como toda mulher, não acreditei.
- Seu cretino, miserável! Você está me traindo!
- Poli, presta atenção! EU NÃO ESTOU TE TRAINDO! E é para
não te trair que estou pedindo o divórcio! Será que é tão difícil de entender?
Além do mais, você acabou de dizer, que também estava pensando nisso!
Nessa altura, eu já estava com as mãos na cadeira,
segurando o choro. A razão completamente submetida ao desvarios do velho
monstro de olhos verdes.
Falei uma meia dúzia de palavrões. Xinguei toda a família
dele e me tranquei no quarto, aos prantos.
Se você acha que ele foi lá me consolar, pode tirar o seu
cavalinho da chuva! Meu querido marido, agora ex, não caia na velha armadilha
feminina das lágrimas. Viu o filme todo, e só quando já estava caindo de sono,
foi para o quarto.
Eu estava lá, claro, jogando todas as roupas dele em uma
mala.
- O que você está fazendo?
- Expulsando você!
- Por que?
- Por que você é um cretino, filho da mãe!
-...
- Com quem você me traiu, heim?! Com quem?
- Uê, se você tem tanta certeza que eu te trai, deve saber
com quem!
Nessa altura, o resto da dignidade vai por água abaixo,
literalmente, sentei no chão, perto da cama, as lágrima escorrendo
copiosamente.
Uma coisa que é preciso dizer. Nós mulheres somos os bichos
mais estranhos do planeta! Eu vinha pensando em me divorciar há meses,
esperando só a chance de falar com ele. Sem pensar nos sentimentos dele, ou
melhor, preparando-me para vê-lo se arrastar e implorar que eu não o deixasse.
Mas, como a situação não fora bem a que planejei, fora ele
que tomara a iniciativa, sentia-me traída e apunhalada. De repente a idéia do
divórcio parecia ser uma coisa horrorosa.
E lá estava eu, chorando como uma criança, na beira da
cama. Enquanto o cretino, sim, agora ele era um cretino. Olhava tudo, sem
esboçar gesto nenhum.
- Não vai falar nada?
- Não, enquanto você não voltar a ser um ser racional.
- Por que você quer se separar de mim?
- Poli, eu não quero me separar de você. Nós queremos nos
separar um do outro! Lembra?
Não. Eu não lembrava. Na verdade, só pensava em como era
infeliz e como ele podia ter feito isso comigo e que os homens não prestavam e
eram todos cretinos, miseráveis e canalhas!
Foi uma looooonga noite de conversa. Eu chorei, (mais), ele
chorou. Lembramos tudo que havíamos passado. O casamento, o nascimento das
meninas... Tudo. Eu gritei. Ele gritou.
Fiquei com raiva, ele ficou com raiva. Falei um monte de palavrões, ele falou
outros tantos. Eu o ameacei, ele me ameaçou... Resumindo, fizemos o que todos
os casais fazem quando o assunto divórcio entra em pauta. Depois dormimos. E
amanhecemos convencidos que devíamos nos separar.
Restava agora contar para a família. As meninas eram a
nossa maior preocupação. Por isso, decidimos preparar bem o terreno.
Este texto faz parte do Romance: Poliana em Tempos de Crise e você pode ler os capítulos anteriores nos links abaixo:
Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II - Muito Prazer, Sou Poliana
Capítulo III - Cenas de um Divórcio
3 comentários:
Cara, isso tá bom demais.
Me vi nessa cena. Não que eu já vivesse uma situação assim (nem quero, ai ai... rs), mas já fiz exatamente isso que ela fez: abordei um assunto e não gostei do que ouvi, inverti as posições... enfim: uma bagunça que só as mulheres são capazes de fazer e ainda entender!
Bom demais esse texto.
Beijinhos,
Jô
Patrícia,
Lendo o texto vivi as emoções da Poli, como assim ele quer se separar dela?! E torci para que a manhã trouxesse um final feliz para o casal, como não aconteceu, vou ficar aqui me roendo de curiosidade esperando as cenas dos próximos episódios.
Grandes beijos
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