17 de mar. de 2011

Escrita Visceral


Estou sentada na sala da recepção, aguardando mais uma entrevista de emprego. O celular conectado traz o e-mail tão desejado. Leio e inevitavelmente as lágrimas vêem aos olhos. Ok, é mais um não. Mais um “Sua escrita não se encaixa no perfil literário de nossa editora” é assim a maioria das negativas. Tem as mais sucintas: Seu original não foi aprovado. Tem as que te elogiam em dois parágrafos e te puxam o tapete no terceiro. E tem esse, que não é de uma editora. É mais um desses grupos literários, organizados por pretensos intelectuais que acreditam que literatura tem que chafurdar no caos, se afogar numa sexualidade doentia. Ser um escritor moderno, para esses, pressupõe noites em bacanais culturais, consumindo Sartre e  Jack Kerouac on the rocks. Mas por alguns momentos eu quero ser como eles, fazer parte dessa chamada geração visceral. Mas sou apenas uma quase senhora esquisita que escreve num estilo que não pertence a lugar algum. E esse o tom do e-mail que recebo, gentilmente dizendo que a turma literária não é minha praia me traz lágrimas aos olhos. Em alguns minutos serei chamada para a sala do RH. E como assim? De olhos borrados e lacrimejantes. Mordo a bochecha, truque infantil para conter o choro. De repente, sinto que posso suforcar. Pergunto onde é o banheiro. Lavo o rosto até o gelado da água sintonizar a realidade. Preciso do emprego, arroz com feijão se compra com salário no banco. Feijão e o Sonho. Detestei esse livro na primeira vez que li. Talvez já identificasse o futuro naquelas linhas. Pressentimento de que o sonho ambicionado na infância iria se perder no duro concreto da realidade. Ainda assim odeio a pessoa que me mandou e-mail. Odeio o fato dela me dizer que não me encaixo naquele projeto literário. Odeio o julgamento embutido. Por uns segundos me sinto medíocre e sempre tive medo da mediocridade.  Eu flerto com o abismo, mas nem o abismo parece me querer... Aquilo que sou, sempre associei aquilo que escrevo. Parte inerente de meu corpo. Meu e ser. E então ali, naquelas poucas linhas, acabo de descobrir o “não-ser”. Engulo em seco, forço um sorriso na hora em que a funcionária me indica a sala. Esqueço os nãos e as pretensões. Travestida de fortalezas improváveis, ofereço um apertar de mão forte a entrevistadora. Posso não ser uma escritora de estilo definido, mas como personagem, sou imbatível.

13 comentários:

maria teresa disse...

Ola Patricia, não sei se vai te dar um alento mas vc escreve maravilhosamente bem, tenho convicção que logo lhe darão o devido valor, depois de ler esse texto peço que Deus te abençõe, forçaamiga, bjos.

Jullyane Teixeira disse...

Pat, vc tem um dom, não encare as críticas negativas como verdadeiras, pois é óbvio que vc tem estilo: o seu. Vc é única, querida e super talentosa, não deixe que ninguém diga o contrário. Continue alimentando seu sonho, mesmo que seja difícil.

Bjo bjo

Vanessa Anacleto disse...

Alexandre disse tudo, a autora de Harry Potter escrevia num café pq em casa não tinha espaço, Patrícia! Vc merece tudo de bom, pode contar comigo pra o que precisar. Até pra odiar mais alguém :-)

beijos

Andreia Lica disse...

Escrever é um dom, mas saber ler e compreender tbm, muitas editoras buscam o livro dos livros e com isso deixam de lado autores com capacidade sem dar qualquer chance a eles. É a vida e a dura lei da selva de pedra.

Bjão

Bruna Fernandes disse...

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Suzete Retti disse...

A beleza de todo escritor é escrever lindamente sobre o que o deixa triste com elegância e respeito por quem lhe causou tristeza.
Agora é seguir em frente seguindo o brilho de sua estrela.
Tem selinho para você no blog.Bjs.

Princesa de Paus disse...

Patrícia, você realmente possui um dom maravilhoso...
descobri você há alguns anos atrás, quando o seu "Querido Diário" virou spam do autor desconhecido... visitei seu blog naquela época (que tinha outro nome), e agora, depois de anos sem ter um blog, resolvi voltar a este mundo virtual de blogs para desestressar...
enfim, desejo muito sucesso a você e muito dinheiro também...
abraços e tudo de bom...

Matheus Farizatto disse...

Este texto é mais uma prova do quão boa você é.

Não siga tendências ou force a barra. Paty, você se basta!

VAI SE TRAVESTIR E SUBIR NO PALCO!
Hehehehe... um bjo.

Patrícia Gomes disse...

Estilo mal definido? Comoassimporexemplo?
Olha Pat, já ouvi muitos elogios glamourosos à minha poesia, gente repudiando ao extremo, nunca arrisquei editoras, mas sei que esse é um mundo fechado que infelizmente, ultimamente visa lucro certo, rápido e rasteiro, e com isso, claro, perdem talentos enormes, bem como o teu. E concordo com o que o Mauj disse. Sei que não sara, mas dá uma aliviada na ferida né. ;oD

Xêros, bola pra frente e continue escrevendo, a gente agradece! ;oD

Paty

Adriana Holanda Tavares disse...

BoA NOITE!!!
Meu nome é Adriana de Holanda Tavares, criei um blog junto com meu esposo para ajudar pessoas que precisam, maiores informações entra lá: chabebevirtual.blogspot.com precisamos que você contribua, com divulgação ou com um mimo... vai lá, como diz o poeta: FICA SEMPRE UM POUCO DE PERFUME NAS MÃOS DE QUEM OFERECE ROSAS, NAS MÃOS QUE SABEM SER GENEROSAS

Cissa Branco disse...

Patrícia,

Eles não sabem o que estão perdendo, acredito que grande parte da culpa disso acontecer são dos leitores que se deixam levar pela crítica literais ou por esses intelectuais que você falou e não exigem obras novas, sem estilo definido, o que é novo e bom. Já tentou algum edital de fomento a cultura. Aqui em Sinop o edital do Conselho Municipal de Cultura fechou semana passada, não enviei nada pois para esse ano já tenho 10 projetos culturais em andamento e vários outros a caminho, se você morasse aqui com certeza encontraria verba para publicação. mas continue na luta, cedo ou tarde, a resposta será sim, para sua e nossa alegria.
Grandes beijos e ótima semana

DOIDINHA DA SILVA disse...

Nossa,me deu vontade de chorar também...

Renata C., UMA EXPATRIADA (mulher moderna, esposa, mãe...) disse...

PARABENS POR TUDO, PATRICIA!
;-)