- Eu já sei de tudo. – ele afirma, olhando fixo para a esposa. Que quase engasga com o cafezinho.
- Sabe de tudo, o quê, Homem de Deus!?
- Não adianta ficar ai disfarçando. Eu sei que vocês estão juntos! – enquanto fala, caminha nervosamente até o outro lado da sala, aonde pega um pesado vaso de cerâmica.
- Claudionor, larga essa vaso! E me explica o que está acontecendo. – Por via das dúvidas, ela resolve se levantar e tentar chegar perto do telefone, por que fora esquecer o celular no quarto?
- Eu, junto, com quem?
- Você sabe bem do que tou falando! Você e todos os outros estão mancomunados!
- Eles? Amorzinho, você quer uma maracujina? Um chá de camomila? Olha, eu faço rapidinho!
- Vocês se achavam muito espertos, mas ontem... ontem eu descobri tudo!
A esposa nessa hora, já não tem mais dúvida, era caso de internação. O pior é que de maluco não aliviam dívidas, e eles estavam bem encrencados financeiramente. Ela desempregada, ai, ai...
- Claudionor, meu amor, você está muito nervoso, é alguma coisa na empresa?
Ele agora examina o vaso meticulosamente, de repente, brande o vaso no ar, apontando para a esposa, que se encolhe perto da porta.
- Aqui está a câmera! Pelo menos uma delas, eu sabia! Era por isso que você não queria que eu me desfizesse do vaso, não era?
- Clau, esse vaso foi a tia Adelaide que deu, sabe que ela sempre pergunta por ele, quando vem aqui. PelamordeDeus não me quebra isso, senão aquela velha vai me encher o saco!
- Tia Adelaide! tia Adelaide é o escambau! Eu sei bem que isso é coisa da emissora!
- Emissora, Claudionor? – não restava a menor dúvida, era caso de internação.
A esposa choraminga, pensando em como explicar pros filhos a loucura do pai... Ele não poderia ter morrido, no lugar de enlouquecer? Ser viúva de marido vivo é pior do que ter enterrado um!
- Agora eu sei que nada disso é real, Que eu sou um personagem de ficção, de um seriado qualquer...
Larga o vaso sobre a mesa, e cambaleia até o sofá, onde desaba.
- Todas as coisas que aconteceram... Tudo obra da cabeça de um roteiristazinho qualquer de uma série cômica, Lindalva! – Gesticula nervoso – se fosse pelo menos uma série dramática! Um documentário... Melhor seria que fosse um filme, super-produção hollywoodiana, mas não! Tinha que ser de uma série cômica, e ainda por cima, nacional!
- Olha só, algumas séries cômicas nacionais são boas... – ela começa, mas é interrompida pelo choro agudo do marido.
- Eu devia ter desconfiado, devia... Ninguém ganha um microondas cheio de baratas francesinhas de presente de casamento! Você lembra disso?!
- E como eu iria esquecer?! Foram necessárias três detetizações para aquelas malditas sumirem daqui de casa! Mas, o que isso tem a ver?
- Teve também aquele dia que perdi o cartão no banco?! Eu tinha ido buscar o cartão e a gerente perdeu ele na hora em que ia me entregar! Nãaaao, isso não é coisa de realidade, nada! É coisa de seriado... e eu vou lhe falar uma coisa, Lindalva, coisa de seriado ruim!
- Mas... mas
- E o assalto?! Como você explica o assalto!
- Muita gente é assaltada...
- Por travestis?! Lindalva, você já leu em algum jornal sobre uma gang de travecos que assaltam transeuntes?
- Na verdade, não né?
- Eu tô lhe falando mulher! É tudo ficção! E você? Não adianta ficar ai, com essa cara! Eu sei bem que você faz parte do esquema! Sua... sua... sua atriz! Foram tantos os sinais, e eu burro, não via... Que mulher que chora por que queimou um assado? Fala a verdade, agora mulher, você fingia, não é? Todas as vezes, Linda? Nesses anos todos de casamento, teve alguma vez que você não fingiu?
- Claudionor, pelamodedeus, eu vou lhe pedir, para parar, se for alguma brincadeira. Você está me assustando!
- E nossos filhos?! – ele levanta bruscamente, caminhando até a estante, onde pega uma foto onde estão os três filhos! - Todos eles são atores?! Nenhum deles é meu filho de verdade? ! O Junim não! O Junim tem que ser meu filho! Ele é igualzinho ao meu pai. – ele cai no chão de joelhos, as mãos melodramaticamente erguidas, em súplica, em direção a esposa – meus pais?! Eles... eles também são atores? A empresa! Adalberto, meu chefe! Dona Josefa, da faxina... tudo uma farsa....
- A gente já ganhou um prêmio...
- Heim?! – ele para de chorar e a olha. Lindalva sai de perto da parede, senta na poltrona.
- Pode pegar um cigarro para mim? Terceira gaveta a esquerda.
- Você fuma?
- Só nos intervalos das gravações.
- Então... então?! – Claudionor abre a gaveta e é visível o susto ao se deparar com o maço. Meio em transe, entrega para a esposa, que pega um cigarro, acende e numa cruzada de pernas, continua:
- É, você descobriu tudo. Você é um personagem de ficção, eu sou atriz, todos ao seu redor são atores, até o Junim...
- Até o Junim?! Quem diria...
- Pois é, mas a série é boa, já ganhou prêmios, como eu ia dizendo...
- Prêmios? Mais de um?
- Quatro, para ser mais especifica. Direção, Roteiro adaptado, melhor ator e melhor atriz coadjuvante. Foi o único prêmio que ganhei até hoje, mas já fui indicada várias vezes.
- Melhor ator? Eu ganhei um prêmio?!
- É, foi por aquele episódio do médico... Que você tentou matar o cara!
Claudionor senta no braço da poltrona, pega um cigarro do maço, acende, dá uma tragada e uma tossida, sacode a cabeça... Não sabe como alguém pode gostar daquilo, mas naquele momento, parece ser o que precisa.
- É, realmente merecia um prêmio... Fiquei mais de doze horas na fila do hospital público, e o filadaputa do médico, sem me examinar, me mandou para casa, dizendo que não era caso de emergência...
- Você tava com o dedão do pé quebrado, não era?
- Tava. Quebrei, quando a privada caiu em cima do meu pé. Eu tava tentando desentupir, tive que tirar o vaso do lugar e foi merda pra tudo quanto era lado, eu escorreguei e privada caiu em cima do meu pé...
A mulher suspira, enquanto apaga o cigarro.
- Grande episódio, grande episódio... Um dos melhores...
- Sabe de tudo, o quê, Homem de Deus!?
- Não adianta ficar ai disfarçando. Eu sei que vocês estão juntos! – enquanto fala, caminha nervosamente até o outro lado da sala, aonde pega um pesado vaso de cerâmica.
- Claudionor, larga essa vaso! E me explica o que está acontecendo. – Por via das dúvidas, ela resolve se levantar e tentar chegar perto do telefone, por que fora esquecer o celular no quarto?
- Eu, junto, com quem?
- Você sabe bem do que tou falando! Você e todos os outros estão mancomunados!
- Eles? Amorzinho, você quer uma maracujina? Um chá de camomila? Olha, eu faço rapidinho!
- Vocês se achavam muito espertos, mas ontem... ontem eu descobri tudo!
A esposa nessa hora, já não tem mais dúvida, era caso de internação. O pior é que de maluco não aliviam dívidas, e eles estavam bem encrencados financeiramente. Ela desempregada, ai, ai...
- Claudionor, meu amor, você está muito nervoso, é alguma coisa na empresa?
Ele agora examina o vaso meticulosamente, de repente, brande o vaso no ar, apontando para a esposa, que se encolhe perto da porta.
- Aqui está a câmera! Pelo menos uma delas, eu sabia! Era por isso que você não queria que eu me desfizesse do vaso, não era?
- Clau, esse vaso foi a tia Adelaide que deu, sabe que ela sempre pergunta por ele, quando vem aqui. PelamordeDeus não me quebra isso, senão aquela velha vai me encher o saco!
- Tia Adelaide! tia Adelaide é o escambau! Eu sei bem que isso é coisa da emissora!
- Emissora, Claudionor? – não restava a menor dúvida, era caso de internação.
A esposa choraminga, pensando em como explicar pros filhos a loucura do pai... Ele não poderia ter morrido, no lugar de enlouquecer? Ser viúva de marido vivo é pior do que ter enterrado um!
- Agora eu sei que nada disso é real, Que eu sou um personagem de ficção, de um seriado qualquer...
Larga o vaso sobre a mesa, e cambaleia até o sofá, onde desaba.
- Todas as coisas que aconteceram... Tudo obra da cabeça de um roteiristazinho qualquer de uma série cômica, Lindalva! – Gesticula nervoso – se fosse pelo menos uma série dramática! Um documentário... Melhor seria que fosse um filme, super-produção hollywoodiana, mas não! Tinha que ser de uma série cômica, e ainda por cima, nacional!
- Olha só, algumas séries cômicas nacionais são boas... – ela começa, mas é interrompida pelo choro agudo do marido.
- Eu devia ter desconfiado, devia... Ninguém ganha um microondas cheio de baratas francesinhas de presente de casamento! Você lembra disso?!
- E como eu iria esquecer?! Foram necessárias três detetizações para aquelas malditas sumirem daqui de casa! Mas, o que isso tem a ver?
- Teve também aquele dia que perdi o cartão no banco?! Eu tinha ido buscar o cartão e a gerente perdeu ele na hora em que ia me entregar! Nãaaao, isso não é coisa de realidade, nada! É coisa de seriado... e eu vou lhe falar uma coisa, Lindalva, coisa de seriado ruim!
- Mas... mas
- E o assalto?! Como você explica o assalto!
- Muita gente é assaltada...
- Por travestis?! Lindalva, você já leu em algum jornal sobre uma gang de travecos que assaltam transeuntes?
- Na verdade, não né?
- Eu tô lhe falando mulher! É tudo ficção! E você? Não adianta ficar ai, com essa cara! Eu sei bem que você faz parte do esquema! Sua... sua... sua atriz! Foram tantos os sinais, e eu burro, não via... Que mulher que chora por que queimou um assado? Fala a verdade, agora mulher, você fingia, não é? Todas as vezes, Linda? Nesses anos todos de casamento, teve alguma vez que você não fingiu?
- Claudionor, pelamodedeus, eu vou lhe pedir, para parar, se for alguma brincadeira. Você está me assustando!
- E nossos filhos?! – ele levanta bruscamente, caminhando até a estante, onde pega uma foto onde estão os três filhos! - Todos eles são atores?! Nenhum deles é meu filho de verdade? ! O Junim não! O Junim tem que ser meu filho! Ele é igualzinho ao meu pai. – ele cai no chão de joelhos, as mãos melodramaticamente erguidas, em súplica, em direção a esposa – meus pais?! Eles... eles também são atores? A empresa! Adalberto, meu chefe! Dona Josefa, da faxina... tudo uma farsa....
- A gente já ganhou um prêmio...
- Heim?! – ele para de chorar e a olha. Lindalva sai de perto da parede, senta na poltrona.
- Pode pegar um cigarro para mim? Terceira gaveta a esquerda.
- Você fuma?
- Só nos intervalos das gravações.
- Então... então?! – Claudionor abre a gaveta e é visível o susto ao se deparar com o maço. Meio em transe, entrega para a esposa, que pega um cigarro, acende e numa cruzada de pernas, continua:
- É, você descobriu tudo. Você é um personagem de ficção, eu sou atriz, todos ao seu redor são atores, até o Junim...
- Até o Junim?! Quem diria...
- Pois é, mas a série é boa, já ganhou prêmios, como eu ia dizendo...
- Prêmios? Mais de um?
- Quatro, para ser mais especifica. Direção, Roteiro adaptado, melhor ator e melhor atriz coadjuvante. Foi o único prêmio que ganhei até hoje, mas já fui indicada várias vezes.
- Melhor ator? Eu ganhei um prêmio?!
- É, foi por aquele episódio do médico... Que você tentou matar o cara!
Claudionor senta no braço da poltrona, pega um cigarro do maço, acende, dá uma tragada e uma tossida, sacode a cabeça... Não sabe como alguém pode gostar daquilo, mas naquele momento, parece ser o que precisa.
- É, realmente merecia um prêmio... Fiquei mais de doze horas na fila do hospital público, e o filadaputa do médico, sem me examinar, me mandou para casa, dizendo que não era caso de emergência...
- Você tava com o dedão do pé quebrado, não era?
- Tava. Quebrei, quando a privada caiu em cima do meu pé. Eu tava tentando desentupir, tive que tirar o vaso do lugar e foi merda pra tudo quanto era lado, eu escorreguei e privada caiu em cima do meu pé...
A mulher suspira, enquanto apaga o cigarro.
- Grande episódio, grande episódio... Um dos melhores...
Um comentário:
Hahaha, nuuunca tinha lido! Muito divertio. PrÇemio para ti, por me fazer rir hoje!
bjs
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