21 de mai. de 2011

Cenas de Família

Enfrente seus pesadelos. Dizia meu avô. Deite novamente e sonhe o mesmo sonho, mas agora sob o seu controle. Demorei a fazer isso, mas consegui um dia. E alegre fui contar, que dessa vez, conseguira subir as escadas até o fim. Sonhos que se repetem. Escadas longas que terminam em salas escuras, onde sombras espreitam. Nunca antes havia chegado até o fim delas, acordando sempre, o coração descompassado. Respiração ofegante. Até o dia que ele me ensinou o segredo. Sonhe o mesmo sonho. Simples. E com ele tudo sempre parecera tão simples.

Uma figura pequena. Nem um pouco frágil, no entanto. Sonhava os seus próprios sonhos e foi isso que o fizera abandonar tudo e mudar para a pequena casa no meio do nada. Uma selva de matos e árvores. Feliz. Fora ali que ele crescera e foi ali que escolheu passar seus últimos dias. Embora, sequer suspeitássemos que fossem tão poucos.

Hoje tive um pesadelo. Daqueles terríveis, que só a sua voz sabia acalmar. E pude te ouvir no meu sonho. Mandando que eu o enfrentasse. Meus medos, tantos. Que precisava de você aqui, para espantar de vez todos os fantasmas. O fantasma da sua ausência, que é o pior de todos.

Ainda não consegui pisar no sítio novamente. Embora sonhe com ele com freqüência. E nos sonhos, posso te ver, envolvido em invenções mirabolantes, que tanto atiçavam minha imaginação: a máquina de lavar feita de um barril de chope, o ventilador de motor de moto, que andava pela casa. Um gênio caseiro. Meu mágico familiar.

Nunca senti tanta impotência quanto o dia em que você se foi. Eu não tinha tido a chance de te abraçar uma última vez. De novamente ouvir você me dizendo que pesadelos acabam com a entrada da luz. De dizer que te amava. Acho que nunca disse.

Mas essa noite, vou sonhar o mesmo sonho, onde te encontro no sítio, e irei enfrentar os meus fantasmas, e dizer o que deveria ter dito, que eu te amo muito e que você foi o melhor avô que eu poderia ter tido..

12 comentários:

Celina Dutra disse...

Seus textos sempre me emocionam. Este também! Terno, doce, sofrido e feliz.
Que bom ter tido um vô assim!

bjo

Anônimo disse...

Eu também tive o privilégio de ter um avó desses que mesmo não estando mais aqui, vale a pena relembrar seus sábios conselhos e sua agradável convivência. Sinto muito saudade.

Mara disse...

Patrícia, você sempre emocionando... lindo!
Os avós paternos (e fofos) conheci, mas moravam longe, não convivi. O avô materno não conheci. Mas a avó materna... até meus 14 anos era minha melhor amiga! até show do Menudo ela foi para comentar comigo sobre minha insanidade!
ô saudade!
beijo procê!

Giuliana: disse...

Oi Paty,

Estou arrepiada com tamanha emoção que senti lendo suas palavras doces e nostálgicas.

Com certeza ele sabia o tamanho do seu amor por ele. ;oD

Beijos

Carine Gimenez disse...

Pati
Você sempre me emociona com seus textos. Esse mexeu demais comigo,porque meus avós maternos sempre moraram comigo,desde que nasci. E eram (são) minhas grandes paixões. Meus pais até morriam de ciúmes.
Sinto tanta falta deles... Pessoas simples,nascidos e criados na zona rural de São Gonçalo.
Ai... chorei de novo.
Beijos.

Roberta de Souza disse...

Querida, seus textos são tão bons!!! Senti tanta emoção, como se eu tivesse vivido isso... louco, né? rs

bjkas

Tucha disse...

Bonito como vc reconstruiu a história do seu afeto pelo avô num texto afetuoso e verdadeiro.

Clara Miranda disse...

Uau!
De arrepiar!
Beijinhos!

Lola disse...

Avós...queria sonhar mais com eles...quem sabe repetindo o mantra dos sonhos bons né?
Lindo texto!

Bjs

Macá disse...

Muito lindo o seu post, mas eu queria saber mais. Você conseguiu sonhar novamente o mesmo sonho e dizer tudo que não tinha sido dito?
Espero que sim.
Eu não conheci nenhum dos meus avôs. Fica a fantasia, como eles seriam comigo?
beijos

Lidian Cavalcante disse...

lembrei da minha avó, que foi minha mãe....saudade que dói.....te seguindo...se puder e quiser participar do sorteio lá no blog é só segir...bjs
http://anjoscoloridos-lili.blogspot.com/

Faniquito disse...

Me emocionei ...arrepiei mesmo. Oh o amor -esse que vc sente- muitas vezes não precisa ser dito... o outro sente.A ligação transcende.Tenho certeza. Aliás, é uma das poucas certezas que tenho.hehehe

Muito prazer em te conhecer. O twitter tem me "apresentado" pessoas muito legais.

Beijinhos

Ana