24 de mar. de 2010

Desventuras Amorosas

Queria fazer diferente, ela sabia. Queria sentir diferente. Talvez por isso tenha se permitido ir até onde não sabia com ele. Deixou que ele a conduzisse, como numa dança, sem ritmo, uma melodia silenciosa que os unia. 

Selava as notas com um beijo e apenas seguia pisando segura nas pegadas dele, pé ante pé. E então, descortinou-se amando. Cada pedaço dele. Queria devorá-lo. Um amor canibalistico talvez. Doíam as ausências, doíam os segundo onde ele não lhe pertencia. Queria o ar que ele respirava. Os passos que ele ousava dar sem tê-la ao lado. 

Em dias, virara sombra daquela que um dia fora. E no entanto, seus olhos luziam no espelho. Sentia-se plena. Ancas, seios, toda ela era farta para recebê-lo. Deixava-se preencher daquele que surgira num repente. 

Agrilhoava-se à aquele amor de tal maneira, que sequer se permitia em pensar em talvez, ou se. Para ela, tudo ali era certeza. E foi assim que casou. Imersa naquele desvario. Convicta da eternidade daquela sensação.

20 de mar. de 2010

Eu Não Paro

Quando eu vou parar e olhar pra mim?
Ficar de fora
E olhar por dentro
Se eu não consigo
Organizar minhas idéias
Se eu não posso
Se eu esqueço de mim?

Eu pensei que fosse forte
Mas eu não sou

Quando eu vou parar pra ser feliz?
Que hora?
Se não dá tempo
Se eu não me encontro
Nos lugares onde eu ando
Nem me conheço
Viro o avesso de mim

Se eu não sei o que é sonhar
Faz tanto tempo
Tanto mar
E o meu lugar
É aqui!

Uma rua atravessada em meu caminho
Nos meus olhos
Mil faróis
Preciso aprender a andar sozinho
Pra ouvir minha própria voz
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim?
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim?

Quando eu vou parar pra ser feliz?
Que hora?
Se não dá tempo
Se eu não me encontro
Nos lugares onde eu ando
Nem me conheço
Viro o avesso de mim

Uma rua atravessada em meu caminho
Nos meus olhos
Mil faróis
Preciso aprender a andar sozinho
Pra ouvir minha própria voz
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim?
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim?

Ana Carolina - http://letras.terra.com.br/ana-carolina/861116/

3 de mar. de 2010

A Vida Sem Manual

De tudo que sabia. E cada vez mais percebia que sabia de tão pouca coisa, é que era preciso ter calma. Calma ao amanhecer e encarar o sol que rachava cortinas e inundava de luz, quando tudo que ela via era escuridão.

Calma pra dar o primeiro passo e se encarar no espelho, e se maquiar, e se vestir de fêmea forte e seguir sorrindo mentiras.

Calma para esquecer por um momento, contas, trabalho, filhos, marido e deixar-se caminhar por entre os carros, cega na dor oculta que trazia na alma, tão ávida de felicidades, mas tão incapaz de obtê-la.

Calma para dizer bom-dias e servir cafés, e digitar relatórios tão inúteis, quanto intermináveis, e sorrir, sempre, o melhor de todos os sorrisos falsos.

Calma para engolir saladas  e fingir dieta num horário rápido e insípido.

Calma para mentir mais uma vez sobre quem era, a tal ponto que no espelho a outra, que não ela, já não lhe acenava mais.