30 de dez. de 2013

Uma Quase Retrospectiva!

Tô cansada, cansada, cansada, mas feliz. Ainda não consegui colocar a casa de pé, mas tá quase. Limpei armário e me desfiz de mais de um saco de roupas, organizei os brinquedos do Dani e foram mais dois sacos.

Ripei metade dos meus livros e já levei tudo pra doação. Sensação maravilhosa de desapego!

Agora, a melhor parte foi organizar hoje um canto meu, decorado com flores e o carinho das amigas! Moro aqui há sete anos e nunca tinha sentido vontade de arrumar a casa pra mim...

Para vocês entenderem, quando casamos, tínhamos uma casinha de bonecas, tudo decoradinho e perfeito. Dai fiquei desempregada e o salário do Marcelo não segurou o apê, então fomos para casa da minha mãe - nós desfizemos de praticamente tudo do apartamento, afinal, saímos de uma casa para morar num quarto. Chorei achando que ia morrer, entrei em depressão, engordei 10 kg em sete meses... 

Arrumei um emprego de merda, na barra da tijuca, que só permitia uma sobrevida, não dava ainda pra sonhar com uma casa nossa de novo. Chorava todo dia na ida, na volta e dentro do banheiro do emprego, onde patrões estúpidos gritavam e agrediam os funcionários todos os dias.

Trabalhava de segunda a sexta, mais de 10 horas por dia - se incluísse o transporte, eram 12 horas na rua. E final de semana, tinha que atender aos chefes, consertar pc, assessorar, fazer N coisas que não eram minha função, eu era web designer e web writer.

Depois de nove meses nesse inferno, pedi demissão, depois de ter um projeto meu roubado pelos meus chefes, que se recusaram a me pagar a criação do mesmo!  Para receber os meus direitos, tive que entrar na justiça e depois de ser ameaçada, aceitei um acordo...

Nessa altura, já pesava 20 kg a mais e estava me sentindo muito merda. Sai da casa da minha mãe e fui para a casa dos meus sogros, nos desfizemos de mais um pouco do que tínhamos. 

Então, engravidei e para garantir hospital e acompanhamento mais próximo. Voltei pra casa da minha mãe. Marido adoeceu nesse período. Teve hipertiroidismo. Emagreceu mais de 30 kg em um mês. Ficou mal. E apesar de tudo, tive uma gravidez tranquila até o oitavo mês, quando tive diabete gestacional (estava com 100 kg) e embora tudo se encaminhasse para o parto normal, tive um problema no final da gravidez que obrigou a uma cesárea. 

Na minha depressão não consegui organizar nem um chá de bebe. Dani tinha uma meia dúzia de roupas, um carrinho moisés dado pelos padrinhos e nenhum berço - que só apareceu no dia que voltei da maternidade, comprado as pressas. rs

Foi um parto ruim, com dor e maus tratos por parte dos enfermeiros e médicos do hospital particular. Mas, o principal era que meu filho nasceu ótimo e muito esperto.

Mas, ainda morávamos num quarto na casa dos outros e eu só conseguia pensar em como criaria uma criança naquela situação. Isso era janeiro.

Em novembro, a virada começou e fomos morar na nossa atual casa. Era um bairro que nunca tinha morado antes, na zona norte, boa parte da minha vida, morara na Zona Sul. Fomos para a nova casa praticamente só com a roupa do corpo, as coisas do Dani (um berço, um carrinho e roupas).

Talvez pelo estranhamento do bairro, talvez por tudo que havíamos passado, tive dificuldade de arrumar a casa e transformá-la em lar. A casa era limpa e arrumada, mas extremamente impessoal, nada de quadros, nada de enfeites, nem mesmo as coisas que faço eu colocava. Sete anos assim. 

Mas, algumas coisas começaram a mudar na minha cabeça esse ano. Uma necessidade de transformação e mudanças que começaram a gritar dentro de mim. E aos poucos as coisas foram acontecendo. Parar de fumar foi a primeira grande mudança. Desde abril não compro cigarros! 

Larguei não só o cigarro, mas fui abrindo mão de tudo aquilo que me fazia mal, sai da feira de Laranjeiras, rompi com relações doentias, mudei padrões de comportamentos errados, cujas consequências sempre eram dolorosas...

Doeu, por que toda mudança dói. Mas, sinto que estou trilhando o caminho certo. 

Outra grande mudança foi a entrada na dieta, estou fazendo há 30 dias e perdi 9 kg. Estou disciplinada, mais organizada e ainda consegui fazer com marido e filho me acompanhassem em busca de uma maior qualidade de vida!

Ainda não tenho quadros em casa, e a decoração está só dando seus primeiros passos, mas aprendi que mesmo com a grana curta, decorar não é frescura, mas é a construção de laços afetivos com o ambiente que moramos. E pela primeira vez em anos, sinto que preciso criar e fortalecer esses laços.

21 de dez. de 2013

Conta-Gotas

Tem dores que gritam. Que chegam com a velocidade (e a intensidade) de um tsunami. Devastam tudo que encontram pela frente e terminam deixando a gente ali, feito trapo, de olhos vazios e tentando entender o que aconteceu. 

Tem dores que chegam suavemente, normalmente numa tarde de domingo. E travam a garganta, marejam olhos e a gente apenas anseia por um lugar para se encolher e esperar ela se ir. 

E tem aquelas dores que vem se construindo pouco a pouco. Peças que se encaixam. Como pingos de conta-gotas diversos sobre um mesmo copo. É uma gota de desamor aqui, de uma frase mais ácida acolá, de um não inconveniente ali. 

Essa dor tem vários motivadores, do marido que se atrasa sempre, do filho que grita eu te odeio, da filha que diz que nunca vai ser como ela... Do vizinho que é agressivo ao pedir algo, do vendedor que é grosseiro no atendimento, do amigo que fala ou faz algo, que nem ele sabe, mas machuca, das frases ditas – “porque acho que é o melhor pra você”, “porque achei que você não se importava” – mas a gente se importa (sempre) e aquilo pode ser o melhor pra gente, mas não naquele momento, não naquela hora. Gotas que pingam numa constância infinita... 

E um dia, o copo transborda. Silenciosamente a dor ultrapassa as comportas adequadas e encharca a gente. Nossa alma fica inundada de dor. E a gente quer chorar, quer se encolher tanto até voltar ao tempo onde a dor era apenas física e se curava com promessas de quando casar passa. 

Num dia de copo cheio, a vontade que se tem são das águas da chuva, sentar no meio-fio deixando que toda aquela construção de dor se desfaça nas cálidas águas, para depois seguir em frente, copo vazio. Sonhando em nunca mais vê-lo transbordar daquele jeito. Mas, realista demais para entender, que a vida também é feita disso: dores pingadas no cotidiano.

17 de dez. de 2013

Sobre Violência e etc

A gente se sente seguro, vê na tv a violência, nas séries assiste estupros, assassinatos e depois que aperta o botão do controle, desliga tudo da mente. Tudo aquilo é lá fora. Não aqui, não com a gente, não no lugar onde a gente mora. 

Até que um dia, um portão é esquecido aberto, uma janela é forçada, outra é arrombada e uma vizinha é atacada... 

E na madrugada, longe do monitor que nos protege, da tv que nos aliena, nos damos conta da crueldade da realidade. Onde um homem invade a casa de uma mulher, tenta violentá-la e como ela consegue pedir socorro, a fere com uma faca. Pois é, acabou-se o conto de fadas, a vida aqui é igual as outras e hoje o medo nos espreita.

16 de dez. de 2013

Tudo Novo, de Novo?

Era inevitável. O final do ano chegava e ela era inundada de uma estranha euforia. Expectativas do impossível, que aos seus olhos refletiam possibilidades. 

Era como pudesse se despir daquela que era e então, metamorfosear-se em outra. A dos sonhos. Que sempre sabia como agir, falar, pensar. A outra que não ela, que tinha em uma das mãos a certeza dos caminhos a serem percorridos... Tola. Ao final do espocar dos últimos fogos. No instante onde a escuridão e o silêncio se tocavam, leve roçar, quase imperceptível fração de segundo, dentro dela já se aquietavam os sonhos. 

A máscara daquela que um dia sonhará ser desfiaria tal qual renda delicada puxada por grosseiras mãos e ela se veria apenas ela. E a vida que era a sua. Porque era apenas um novo ano, onde a vida se desenrolaria do mesmo modo de sempre. 

As oportunidades surgiriam e desapareceriam como sempre; onde os sonhos seriam todos trancafiados em lugares ermos dentro de si e quiçá ao longo dos dias, (re)descobriria-os aos poucos, realizando alguns, outros seriam trancafiados novamente, a espreita da oportunidade.

Ainda haveriam dias de lágrimas e dias de muitos sorrisos. Dias de solidões inconfessáveis e de abraços inesperados. Dias de beijos e outros de intrigas. Dias de sim e muitos de não. Viver era isso, sempre fora. Mesmo agora, quando o ano novo já a espia pelas frestas.