A gente fala sobre a coisa. Tece mil teorias. Lê livros que ensinam a identificar os sinais. No entanto, a gente não enxerga. Ou não conta, que seu filho esconda os detalhes, por medo, por não querer "te deixar nervosa", por não querer denunciar os amigos da sala.
Mas, então, a coisa toda vem à tona, da pior maneira possível. Um dia, você chega na escola e tem que assinar um documento, que relata que meu filho sofreu um "acidente" na aula, "um amiguinho acertou um casaco com a ponteira de metal" no seu filho, e que isso resultou num corte na têmpora dele. Corte, graças a Deus, não tão fundo, mas que sangrou e deixou marcas, mais psicológicas, que físicas.
Então, ao conversar com seu filho, longe das figuras dominante do colégio, tais como professores e direção, você descobre, que o "acidente" foi uma briga, na qual um aluno deu socos e chutes nele, mesmo quando caído no chão... E que o casaco, foi uma tentativa de impedir meu filho de chamar o professor...
Podemos não ser os melhores pais do mundo, mas tentamos ensinar ao nosso filho, valores tais como: ética, responsabilidade, não-violência... Fiz quase uma lavagem cerebral nele, explicando que se ele fosse agredido, não revidasse, mas chamasse o adulto responsável, no caso, o professor. E, neste caso, ele fez exatamente o que ensinei para ele. O problema, é que professor responsável (?), por algum motivo, estava ausente na hora do ocorrido.
Você não quer acreditar no que aconteceu, mas seu cérebro de repente começa a juntar as peças e montar um quebra-cabeças de horror: como no dia que seu filho não quis fazer a prova toda, "porque não queria ser o melhor", ou MB, como o município chama os melhores alunos., ele queria apenas ser "normal", ou nas muitas vezes, em que ele se recusou a ir a escola, ou nas outras vezes, em que ele saia da aula, com um aspecto mais calado. E, de repente, você se dá conta, que seu filho está sofrendo bulliyng, e seu chão desmorona. A frágil ilusão de que aquilo que você discutia em tese e assistia nos noticiários chegou na sua parte mais delicada, no teu cerne, na tua carne, que é o seu filho. E, você demorou a perceber...
Ai, você tem que aprender a lidar, de verdade, com aquilo. E se sente perdida. Pois se deixar a raiva tomar conta e sair botando a boca no mundo, quem vai lidar com as consequências da sua indignação, dentro da sala de aula, não é você. Mas aquela criaturinha de sete anos, que agora me pergunta se apanhou porque é gordo. Que não quer comer chocolate para não engordar. Que quer ficar "sarado" ou ser apenas um menino normal, para que ninguém o enxergue e o agrida por ser diferente.
Óbvio, que assim que a professora me entregou meu filho com um corte, ainda sangrando na cabeça, meu primeiro movimento foi querer ir numa delegacia, dar queixa. Processar o colégio, etc Mas, quando o sangue esfria, vem a realidade de que se você fizer isso, vai ser ele, que vai ter que lidar com professores acusados, que vai ser ele, que vai ter que continuar a conviver com o agressor em sala de aula...
E, apesar de tudo, meu filho está adaptado a sua turma, ao seu colégio, e qualquer mudança brusca, pode ser ainda mais traumática.
Conversar. Essa é a palavra chave, conversar com o professor responsável pela turma, no dia em quem a agressão aconteceu, conversar com a direção e se for preciso, conversar com os pais do menino agressor. Conversar, principalmente com meu filho, e mostrar para ele, que infelizmente, o mundo cor-de-rosa, que os pais pintaram para ele, não existe. Mostrar que ele não é a única criança agredida no mundo. Mostrar para ele, que sim, existem pessoas preconceituosas, e que ele sempre irá se deparar com elas por ai, mas que o preconceito delas é que feio, e que caráter, não se define pelo peso que você tem . Conversar para que ele possa se defender, não revidando as agressões, mas gritando, pedindo ajuda. Conversar muito. E, principalmente, que seus pais estão aqui, sempre, e que sempre estarão ao lado dele, prontos para defendê-lo daquilo que pior a sociedade produz.
Por último, para toda criança que sofre bulliyng, temos um bully, que tem pai e/ou mãe. Então observe os sinais, pois seu filho pode não ser o que sofre, mas o que agride. Mas, com uma boa educação e ajuda (até mesmo terapêutica, se for necessário), você pode mudar o destino de duas crianças... Pense nisso.
E deixo aqui o link de um vídeo, extremamente chocante, onde crianças mais velhas, assistem e incitam a agressão a uma menor: http://globotv.globo.com/rede-globo/sptv-1a-edicao/v/crianca-e-agredida-dentro-de-condominio-em-sao-bernardo-no-abc/2519514/
(Queria agradecer a Rogéria, a Fernanda Reali e a Claudia Pinto, que muito me ajudaram a enfrentar esse problema e deram dicas preciosas)
UPDATE: Vamos falar sobre isso? Seu filho, você, ou alguém que você conheça sofreu/sofre com o bulliyng? Quer contar? Manda pra mim seu depoimento, pelo e-mail patricia.daltro@gmail.com - vou abrir o blog para outros que também sofrem/sofreram. A ideia é abrir um debate sobre o tema e pensar coletivamente como proteger nossas famílias, principalmente nossos filhos, do bulliyng.