30 de out. de 2011

Vampiros - Capítulo IV


O delegado olha a mulher a sua frente. Uma dessas grã-finas da zona sul. Cabelos louros, olhos claros. Uma dor de cabeça se insinua. Pega o copo de café e oferece. Ela recusa.
Madalena está nervosa. Abraça a bolsa fortemente ao corpo. O delegado a olha, ela lembra alguém...
- Então, você sabe quem é o assassino misterioso? - pergunta o delegado. Bebendo um gole de café.
- Sim.
- E quem é? - mais uma maluca, pensa. É a décima que diz saber. Outros já vieram, dizendo serem o assassino. Até um que dizia ser um vampiro. Teve também o profeta, falando do sinal dos tempos...
- É o mesmo homem que assassinou meus pais.
Uma faísca de interesse. Talvez ela não seja maluca. Talvez ela saiba realmente de alguma coisa...
- Seus pais foram assassinados?
- Há cinco anos.
- Seu nome é Madalena? - pergunta conferindo a ficha que lhe passaram.
- Não é meu nome verdadeiro, eu me chamo Eleanora. Troquei de nome quando sai do país. Eleanora do Amaral Mesquita.
O delegado para um minuto. Amaral Mesquita? Conhece o nome... lembra-se de alguma coisa, estava começando quando acontecera o assassinato... fora um caso comentado.
- Moça, como sabe que o assassino é o mesmo dos seus pais? - alguma coisa não estava se encaixando, precisa pedir ao assistente a ficha do caso Mesquita.
 - Eu o vi. - Madalena sabe que precisa se controlar agora. Se desabar, o homem a tomaria por maluca e não acreditaria nela. Respira fundo, pensa no que vai dizer. – Eu o vi matando aquelas pessoas.
- Você viu? - o delegado está surpreso - as duas?
- Sim.
- E como ele as matou? - seu tom de voz soa irônico. É uma pena, parecia ser uma possível pista. Por que ele ainda achava que a conhecia?
- Ele as sugou, como um vampiro... - sabe o quanto soou ridícula aquela afirmação. Fita o delegado, percebe a sobrancelha se arqueando.  - eu sei que parece loucura o que estou dizendo, mas é a verdade. Eu o vejo, por que estou dentro dele. Eu sinto o prazer dele quando os mata...
O delegado está riscando algo no papel. Não acreditara nela. Ninguém acreditaria.
- Desculpe tomar o seu tempo... – Madalena se levanta, pronta para partir.
Ele a olha. Alguma coisa que ele não sabe explicar o faz detê-la.
Ele as mutilou, não foi? – não sabe porque faz aquela pergunta, mas uma hipótese começa a se formar em sua mente.
- Não... ele não os mutilou, ele sugou o sangue deles, mordendo o pescoço da mulher e o antebraço do rapaz.
O delegado arfa, ansioso. Alguma coisa, alguma coisa realmente não se encaixava. Fora uma pergunta capciosa, e o tipo da informação que ela dera, só a policia e os legistas sabiam.
Você se incomoda de sentar-se novamente? E, pode me dar um minuto?
Madalena sente a mudança no comportamento do homem. Ansioso demais, condescendente demais... mesmo assim, senta-se e espera.
Ele volta, algum tempo depois. Traz uma caixa. Tem o rosto modificado. Uma estranha excitação o consome. Senta-se na mesa e olha a mulher a sua frente.
- Eleanora, não é? Ou prefere Madalena?
- Tanto faz.
- Você disse que o homem que matou a mulher e o garoto é o mesmo que assassinou seus pais? Não foi isso?
- Sim, foi o que falei.
- Importa-se de me contar como seus pais morreram? Faz muito tempo, e não me lembro direito. Além do mais, - aponta para a caixa. - meus arquivos estão bastante bagunçados.
Ela sabe que há algo errado. Não sabe dizer o que é. Sente-se testada.
- Esse homem entrou em minha casa e matou meus pais. Eu estava no quarto, ouvi gritos. Quando cheguei na sala, minha mãe e meu pai estavam mortos.
Ele estava sobre meu pai, terminando de matá-lo, eu acho... - sua voz se embarga ao relembra a cena. - então, eu comecei a gritar e a gritar... sinto muito, mas eu só lembro até ai. - enxuga as lágrimas com as costas da mão. - mas eu vi aquele rosto, eu nunca poderia esquecê-lo. Nunca...
- E esse homem agora voltou e matou duas pessoas?
- Eu o vi! Eu sei que é ele. - as lágrimas escorrem agora em profusão pelo seu rosto e ela não se preocupa mais em secá-las.
O delegado joga uma foto em sua direção. Uma foto de um homem branco, de olhos e cabelos castanhos. Um desconhecido...
- É esse o homem de que você fala?
Ela nega com a cabeça. Nervosa demais para emitir sons.
- Como não reconhece? Foi ele que matou seus pais, Madalena ou Eleonora... foi esse o homem. O nome dele é Jacó e está morto. Morto! E sabe como?
Ela nega com a cabeça. As palavras dele ecoando em sua mente.
- Assassinado. Foi assassinado por uma menina. Uma adolescente de quinze anos. - ele a olha fixamente. - você! Sabe, depois que você viu seu pai e sua mãe mortos, você foi até ele e o matou... você não lembra? Este homem morreu há cinco anos atrás, por suas próprias mãos...
- Não foi ele... não é a mesma pessoa...
- É claro que é, Madalena. As impressões digitais dele estavam por toda parte. E quando a policia entrou na casa, você chorava em um canto, suas mãos cheias de sangue e três cadáveres no cômodo. - ele suspira. E puxa um desenho de dentro de uma pasta. Um rosto de mulher. - reconhece?
Seu coração agora está preste a explodir. Segura o desenho com as mãos trêmulas. Olha o desenho, sem conseguir entender. Ali estava o seu retrato, mal desenhado. Tosco e um pouco impreciso, mas não têm como ter duvidas, é ela...
- O que significa isso? - sussurra.
- É o retrato falado do assassino da mulher e do jovem. Demorei a reconhecer você quando chegou aqui. O desenho não faz jus a sua beleza. Alguém te viu, Madalena...
- Você está achando que eu sou a assassina daquelas pessoas!? Não! Eu não as matei, foi ele... foi ele! Eu vi!
O delegado acende um cigarro. Quase sente pena. Uma maluca. Tinha uma história triste como pano de fundo, mas nada que justificasse o assassinato de pessoas inocentes.
A mulher se encolhe sobre a cadeira. Seu corpo tremendo compulsivamente. Não consegue encarar o delegado. Sua mente é um turbilhão de imagens distorcidas. Vê o homem, mas agora é ela que se debruça sobre a mulher, então é o homem de novo. Imagens passam como um flash. Vê a si mesma gritando, enquanto o homem mata seus pais diante de seus olhos.
- Você tem algum parente no Brasil? - o delegado interrompe sua aflição.
- Não... - sua voz ecoa distante.
- E nos Estados Unidos? Foi para lá que você foi, não é?
-Alex... Alexander Johnson.
- Ele tem telefone?
- Eu não matei essas pessoas... você precisa acreditar em mim...
Por uns instantes ele gostaria de acreditar. Mas não tem dúvidas. Ela matara aquelas pessoas. Tem um retrato falado, e uma quase confissão.
- Gostaria de acreditar. - está sendo sincero quando fala. - mas não posso... você viu o retrato, além do mais, somente o assassino e o legista poderiam dizer com tanta precisão sobre as perfurações das vítimas...
Ela o olha em silêncio. Seus olhos distantes e confusos. As lágrimas escorrendo na face. Abre a bolsa e entrega-lhe a agenda.
- Aqui tem o telefone de Alex.
O delegado pega, também em silêncio e a deixa só na sala.

2 comentários:

Celina Dutra disse...

Patrícia querida,

Vou ler os vampiros quando você concluir. Aí comento!
Girassóis nos seus dias. beijos.

Telma Maciel disse...

Ai, q triste!!! Tô tão ansiosa pra ver o fim da história e triste pela Eleanora/Madalena...
Beijo