Em algum momento a poesia se perdeu. Podia ser nas palavras, que agora desciam em sua pele como facas afiadas. Podia ser nos olhares, que antes ternos, soavam agora como uma sutil ironia, eterna desconfiança nas retinas.
Ela fingia não perceber a ausência do lirismo e escondia dores no detergente. Seguia passo-a-passo na direção do abismo infinito do não-amor. Estradas alteradas, ela sabia, mas insistia na contra-mão.
E, o pior de tudo, era perceber-se cada dia mais tênue. Desaparecia. E ninguém a sua volta parecia ao menos notar. Fazia-se silêncios, mesclava-se à rotinas de marido e filhos. Engolindo em seco e tentando não olhar no espelho, pois sabia, que em algum momento, quando não houvessem mais fugas, ela olharia em busca de reflexos e veria o nada, ausência final dela mesma.
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Post publicado em homenagem a semana da mulher - até o dia 8/03 o tema aqui irá ser esse.
A idéia deste microconto entra em sintonia com o post da Fernanda Reali, Alessandra e Iara - que falaram tão bem sobre a invisibilidade feminina.
7 comentários:
E eu fico aqui de boca aberta com o jeito como você usa as palavras!
Bjo
Ale
Oi Patrícia, vc me lembra muito no jeito de escrever minha amiga Mila do blog Mila's House. Vai lá ver só como têm coisas em comum. Acho que vão se dar bem, pois as duas escrevem divinamente, beijos,
Oi Paty,
Que delícia vir aqui até dia 08 e ler suas lindas palavras sobre nós mulheres.
Beijos
Invisivel ou não, são as mulheres que sustentam o mundo nas costas e ainda são capazes de dar a vida pela família.
Bjão
Lindo texto Pati e linda homenagem a nós, mulheres invísiveis muitas vezes mas indispensáveis SEMPRE!
Bjs
Pat,
Por isso sou sua fã ;)
Li o texto da Alessandra e o da Fernanda e vi o vídeo também.. e vem você e pimba, transforma o que sentimos em conto.
Quando posso comprar seu livro?
Beijos
Credo, que triste. Há tanto disso acontecendo por aí... E tocou na ferida em tão poucas palavras!
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