10 de jul. de 2010

Mentiras Necessárias

Daí que eu minto.  Não tanto que me transforme numa pessoa ruim, mas o suficiente para que às vezes sinta uma agonia grande. Normalmente quando a mentira é dita sem calço suficiente para se sustentar.

Minto para você, para mim... Mentiras inofensivas, dirão alguns. Mentiras necessárias. Direi eu. Por que tem coisa que você não diz. Ah, você acha que estou gorda? – nunca diga a verdade, a menos que a verdade seja que ela/ele  esteja magra e ponto. Não diga, que: - Não, imagina, e complemente com um mas...

Mentiras sociais. Você gosta do que faz? – perguntado pelo chefe do RH. Engula em seco e tranque todas as verdades pensadas: horários ingratos, ofensas morais, trabalho excessivo, falta de reconhecimento... Cale-se!  Sorria.  E garanta o salário e as contas no final do mês.

Minta sorrisos também. Se aprendi alguma coisa nessa vida é que ninguém quer saber de verdade, de suas dores, ou seus horrores pessoais (exceto anjos que surgem inesperadamente em sua vida, e esses, você sentirá o lever rufar de asas em seu rosto e os reconhecerá e poderá desabafar por horas e deixar que as lágrimas escorram finalmente em seu rosto)

Minta alegrias que não sente. Melancolias que não possui. Minta afetos, se necessário e a falta deles, também.

Não minta abraços, nunca. Isso não se pode mentir. Abraços e colos devem ser ofertados apenas quando algo dentro de você,  se aquece em relação ao outro. Seja esse calor proveniente de uma carinhosa amizade ou de uma ardente paixão. Nunca minta abraços. É triste, e o outro sempre vai saber. O gelo de um abraço falso magoa fundo. Lembre-se disso.

Regrinhas de ouro. Mentiras necessárias salvam ou condenam, amizades, familia ou amores eternos. Lembro de minha avó doente. AIDS. Provavelmente adquirida numa transfusão com sangue contaminado. Informou o médico. Depois de meses investigando a doença misteriosa dela.

Não queremos que ela saiba. Dissemos todos, filhos e netos. Mentira necessária para que ela continue lutando. Mas, o médico não queria mentiras. A verdade foi dita, ela desistiu de lutar e nos despedimos dela em um dezembro chuvoso.

Mentiras necessárias... Eu diria. E ouvindo sua voz chorosa, não sei o que dizer. A minha verdade ou a sua? Aquilo que eu sei ou aquilo que você quer saber? 

22 comentários:

Oba Gastronomia disse...

Que coisa mais linda e verdadeira Patricia...Me emocionou...
Engraçado, porque adoro ser verdadeiro sempre...e, só quebro a cara....
Mas, nunca quando demonstro em um abraço ou beijo..
Um Beijão para você...
Orlando Baumel

Paola disse...

Ok...não preciso ficr inventando mentiras... fiquei com vontade de copiar!
bj
PAola

Luci disse...

texto 100sacional!
adorei a parte do rufar das asas dos anjos...
beijo

Fernanda Reali disse...

Concordei com tudo, logo eu que adoro discordar, logo eu que adoro dizer o que penso. Não minto porque nunca lembraria o que disse. A verdade eu nao preciso lembrar, é só dizer que sinto, é mais cômoda. Mas tem trechos irrefutávies, tive que concordar. Vou copiar e retuitar, porque tem muita gente que precisa ler isso.

bjs

Leticia disse...

Patrícia,
no fim das contas, todos passam por mentiras bem intensionadas... para sobreviver ou apenas para nao ter dores de cabeça...
tem coisas que até eu penso, putz, a pessoa podia ter mentido pra mim... horrivel? Não... acho que me pouparia um bom esforço...
Beijos
lelê

Tays Rocha disse...

Eu sou mais realista e talvez por isso eu sofra mais, sempre preferi a verdade crua e dolorosa, odeio mentiras gentis, assim trato e assim gosto de ser tratada. Se não posso falar a verdade apenas me calo, afinal omitir não é mentir, ou é? E claro que isso etica e moralmente falando. A gente não mente enquanto não tem um motivo de interesse muito forte, porque se tiver... mente sim e muito, atire a primeira pedra quem pode se orgulhar do contrário. Mesmo sabendo que é errado, aí entra a conveniência e há aqueles que mentem prá suprir algo, através disso poder viver uma vida inventada, ter memórias prá contar e do que se orgulhar... Aqueles que mentem prá si mesmo, pro espelho, na tentativa de enxergar em si aquele que realmente gostaria de ser. Amei o texto e por isso não deixo de te ler nunca. Beijos e um domingo maravilhoso prá você.

Patrícia Lerbarch disse...

Lindo Patrícia, como tudo q vc escreve. Concordo com a necessidade de algumas mentiras, mas que a verdade sempre prevaleça.

Abraço apertado (de verdade!!!)

Calma que estou com pressa! disse...

oi Patrícia- profi da minha querida amiga fer- el me madou o link por email- ali´s é nossa embaixadora do blog- sempre gentil com todos , faendo propaganda-
ela sempre fala de ti- a profi que eu queria ter também-
-
é mentiras sinceras me interessam...
as vezes tems que agira com diplomacia, uma mentirinha básica para não magoar- mas eu sou péssima nisto- geralmente quando vejo saiuuu... daí se eu falo o que está me incomodando - magoo o outro e me sinto culpada, e se nao falo - me maggo e dói em mim- e aquilo coroi e destroi amizades, porque não consigo guardar o que considerei uma ofensa, ou qq outra coisa, tenho que expor - mas vão me entender- são raros os que me entendem, e discutem, e chegamos num final feliz... e quanto a manifestar nossas dores , estou aprendendo, que maioria não quer saber das tuas dores,são poucos que te ouvem, mas te ouvem mesmo e enxugam tua lágrima , somente-
adorei teu texto, além de profi, costureira, artista, é poeta e escritora-
fui na tua loja - me apaixonei por tudo- pelo móbile de gatinhos, das matryoskas(claro os dois amores-um dos..) as carteiras, necesaires, estou apaixonada por tudo - vou voltar com calma e namorar tudooo
bjs

Maite Guadagnoli disse...

Lindo e incrivel, se todas pessoas usassem isso na vida, tehas certesa de que a vida seria mto melhor, parabens, amei seu post. bjinhosssssssss

Anônimo disse...

Mentiras quando feitas como um carinho, um gesto educado ou para algo bom, são necessárias e bem-vindas! A sinceridade por muitas vezes é usada para machucar....que paradoxo não? Uma mentira pode fazer um bem imenso e uma verdade pode destruír! Sejamos então só coração! Assim, errar na escolha fica mais difícil!
Belo texto!
Bjs

Bel disse...

Logo eu, que sou tão arregaçada com a verdade... me rendi e concordo que muitas vezes eu mesma minto, e que minto porque é necessário.

Mas fiquei com ódio mortal desse médco. Acho que esse tipo de decisão deve ser tomado por quem ama o paciente e não por quem momentanea e circunstancialmente está cuidado dele. Humpf.

DILERMArtins disse...

Mas bah, guria.
Digo apenas, PARABÉNS!
Esse não é um texto para ser comentado e sim para ser pensado.
Abração.

Desinibida disse...

Muito verdadeiro!!!

Adorei a forma como escreve! vou te seguir...

beijos

J.R. Lima disse...

maravilhoso este texto!
Grato por compartilhar.

Aliás, este blogue é uma descoberta que guardarei com muito carinho.

Voltarei!

Fernanda Reali disse...

gostei tanto que vim reler e retuitei de novo. bjs

Kelly Kobor Dias disse...

Vim por indicação da Fernanda Reali, adorei!!!!! Como coordenadora de uma escola tenho que mentir tanto....pra pai de aluno, pra funcionário da escola, pra chefe affffffff, mas enfim para meu bem tenho que responder o que eles querem ouvir rsrsrs Grande beijo

Claudiene Finotti disse...

Oi Patrícia!

Como viver dizendo a verdade? Impossível. Mas ainda assim acho que é possível ser sincero, verdadeiro, bom caráter, mesmo com algumas mentirinhas. Acho que conseguimos delimitar onde elas deixam de ser inofensivas, né?

Bjo grande.

Clau

Tania Reis disse...

Que lindo texto,quanta
sensibilidade...me trouxe grandes reflexões! E não estou "mentindo"... abraços

Elaine disse...

Oi Patrícia, lindo texto... o melhor mesmo seria não mentir, mas não podemos julgar, quantos de nós já falou uma mentirinha numa hora em que a verdade machucaria muito?!
Bjos e bom fim de semana
!

Anônimo disse...

Gostei do texto, mas ainda sim, prefiro a verdade, mesmo que ela esteja contra mim...
joe

Sheila Zanella disse...

Tenho certeza que algumas mentiras são necessárias e imprescindiveis...me emocionei muito com o que escrevestes!!

Beijinhos
http://www.vidasuculenta.blogspot.ie/

Maria Lúcia Marangon disse...

Patrícia, fui criada pela minha avó paterna e eu me lembro dela falando sempre que "a verdade costuma doer, mas é a verdade". Na minha opinião, a questão é a maneira como se diz a verdade.
Concordo com o Mauj, ninguém é 100% verdadeiro. Não tem jeito, em algum momento da vida, uma pessoa vai precisar mentir.
Concordo com você também, ninguém tem o direito de dar um abraço que não seja sincero, que não seja verdadeiro.
Eu prefiro que me digam a verdade, mas não sou ingênua a ponto de acreditar que isso sempre aconteça.
Procuro sempre dizer a verdade e já perdi e ganhei muito por causa disso.
Lamento pelo que ocorreu com a sua avó e creio que a família estava certa. Essa seria uma mentira necessária.
Beijos!
Maria Lúcia