30 de jan. de 2010

Sobre Dores

Moço tá doendo. Eu dizia. E ele me olhava e pedia, doendo aonde? E eu não sabia explicar a dor que surgia maior que a que um dia tinha sentido num tombo de bicicleta. Maior que todas as dores que um dia senti. Uma dor corrida apertando o peito. Forte, longa, angustiosa.

E ele queria receitar remédios. Mas, meu Deus que remédio cura decepção, humilhação e tantos “aos” que pareciam nunca acabar.

Eu queria socar paredes, quebrar mãos, pernas, braços, para a dor física acabar com aquela que me consumia a alma.

Dói meu coração, eu dizia pequena, segurando a perna, fugindo da escola que também parecia não me querer. Daí cresci e descobri que o coração dói mais fundo e não tem band-aid, merthiolate, álcool, nada cura a dor que te sufoca a alma. Dá ânsias de vômitos e te faz bater com força no armário até quase quebrar os dedos.

Queria explicar pro moço a dor que vinha do fundo, pedir remédio, acalanto, beijoabraço, qualquer coisa, mas o moço olhava em meus olhos e não enxergava o que doía. Tão acostumado a seus aventais profissionais, seus sintomas de doenças simples, seu manual de auto-ajuda. Não conhecia a dor profunda que invade e deixa sem rumo.

Um tranqüilizante derruba-cavalo, dizia minha vó, era o que queria, para fechar os olhos e dormir. Profundamente por horas, dias, semanas, meses, até acordar e descobrir que a dor passara e que a vida se encaixava então nos eixos.

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para Intense que também sofre dessa mesma dor.

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