30 de mai. de 2009

Rotina dos Idênticos

A amiga chora. E ela sem saber o que fazer. Uma droga. Sempre tivera uma imensa dificuldade de lidar com a dor alheia. Não sabe onde enfia os braços, as mãos. Medo de tocar. Do abraço. A intimidade do gesto. Prefere ouvir. Então deixa que fale. Que derrame a ladainha dos amores desfeitos, da eterna procura da felicidade, do telefone que não tocou, do reencontro que não houve. Da vontade de ser alguém diferente dela mesma... 
 
Semelhanças. Um dia chorara assim. Não uma, mas tantas vezes. Lágrimas demais. De secar a alma. Que também procurara amores, que o telefone também não tocara, que o reencontro nunca houve. E uma outra amiga, talvez ela mesma, tinha ficado ali, sem saber onde botar as mãos, os braços... No entato, caminhos diferentes, a amiga continuara na sua eterna busca, e ela resolvera achar. 

Diferenças. Não sabe em que ponto, em que momento, percebera, que todos eram iguais. Mudavam os rostos, as roupas, os endereços, no entanto as semelhanças idênticas, fez com que um dia sonhasse com todos eles. Fusão de rostos. Exatos. Comportamentos. Falas, atos, falos... idênticos.  

Padrões. Desde o inicio. Ela repetia. Buscava sempre o igual. As mesmas dores. As mesmas desculpas. As mesmas traições. O não compromisso expresso nos gestos. No soltar de cintura, quando encontravam alguém.Os telefones ausentes. Os silêncios nos finais-de-semana. Saída com os amigos. E foram tantos. Todos iguais.  Exatos. Padronização dos afetos.  

Ponto final. Rompimento. Cansada da rotina dos idênticos, buscara outras falas. O restrito horizonte, ampliado em cores, mostrara outros caminhos. Casada agora. Feliz. Ouve a amiga. Mas, sabe que não adianta dizer o que está visível nas retinas. Caminhos que só ela pode decidir trilhar, véus que só ela pode retirar. Abraços.

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