Sentada à mesa, termina um relatório, enquanto toma conta do sobrinho de pouco mais de um ano. Uma criança adorável de cabelos e olhos amendoados, que nesse momento, parece meio confusa, pela ausência repentina da mãe, e a casa nova, cheia de recantos inexplorados.
No chão, espalhado sobre um acolchoado, brinquedos diversos, prontos para encantar o pequeno. E ela o leva até eles, apresentando-os, buscando desviar o fato da mãe não estar. A criança distrai-se com um chocalho, desses que fazem um barulho infernal.
Pensando seriamente se fora uma boa idéia deixar aquele brinquedo a mão, ela volta aos seus afazeres, ao som de um choc-choc constante. E é exatamente a ausência deste som, que a faz desligar-se dos números e gráficos que se espalham a sua frente.
Procura a criança e a encontra, ainda a tempo de resgatar um pobre Machado de Assis, antes de ser reescrito por lápis aquarelados. Posiciona-se frente à estante, repleta dos seus mais preciosos bens, livros de autores nacionais e internacionais e energicamente, move o dedo de um lado para ou outro, enquanto afirma: - Livro não pode! Ouviu? Livro não pode!
Os olhos cor de mel, emoldurados por compridos cílios escuros, acompanham o movimento do seu dedo, de vez em quando escapando para deslumbrar-se com o mundo de tesouros coloridos que povoam a estante.
Ela o pega, põe novamente sobre o acolchoado e dá-lhe o chocalho barulhento. A criança, resignada, contenta-se em brincar com os já conhecidos objetos. Achando que está tudo bem, volta-se para os gráficos e porcentagens, que precisam estar pronto para o dia seguinte.
Novo silêncio a interrompe. Um olhar rápido e percebe o pequeno acocorado em frente a estante. Chegando mais perto, não pode deixar de esboçar um sorriso ao ver que a criança, repetindo o gesto, feito por ela anteriormente, move o dedinho de um lado para o outro, enquanto murmura baixinho, tentando se convencer do impossível: - Livo, num podi. Livo, num podi.
Subitamente compreende a mensagem que acabou de passar ao pequeno e num gesto que nunca se imaginaria fazendo, mas também, nunca se imaginou na condição de babá de ocasião, pega vários livros e os espalha em torno do sobrinho.
- Titia errou, querido, livro pode sempre! Senta aqui que vou te apresentar alguns deles.
- Titia errou, querido, livro pode sempre! Senta aqui que vou te apresentar alguns deles.
5 comentários:
Que história ótima Patricia, livro pode sim, e muito, sempre, é só ensiná-lo a ter cuidado com eles, né???
Parabéns por ter contornado tão bem a situação.
Beijos,
Beth Matos =)
Mensagem de suma importância Pati.
Livro pode sim,livro é um tesouro que descortina novos mundos em nossa vida,enriquece nossa existência,livro sempre,sem dosagem,sem limites.
Beijos.
Sei bem o que você sentiu... passei pela mesma coisa, veja: http://deixoler.blogspot.com/2006/06/por-que-eu-nmera.html
Bjooooo, amiga!
O contexto não é somente em relação ao livro em si, mas sim das nossas atitudes. Às vezes a gente faz algo com uma intenção e que pode ter outro sentido ou conotação, principalmente com os nossos pequenos... e livros, coisas educativas, construtivas e que agregam pode sempre ;o) aqui temos uma bibliotequinha deles.
Beijos querida e bom final de semana ♥
Livro sempre pode, titia. :) Coisa linda. Beijos.
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