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20 de nov. de 2011

Poliana em Tempos de Crise - cap. IV

Capítulo 4 
Caindo na real
Ou a vida não presta 


Os primeiros meses de separação foram caóticos. A casa sempre bagunçada e não adiantava pedir para Lia ajudar, que o máximo que ela fazia era passar uma vassoura na casa e colocar um congelado no microondas. O resto sobrava para mim mesmo, oras. 

Algumas estudiosas no assunto rotularam a mulher moderna como supermulheres. Denominação que, sinceramente, tem mais glamour no nome do que no real.

Não lembro de ver a Mulher-Maravilha ou a Super-Girl tendo que lidar com máquina de lavar, trouxa de roupa para passar, barriga no fogão ou vassoura na mão.

Enfrentar supervilões parece ser mais divertido do que ter que acordar às  seis da manhã, correr para o banheiro e tomar uma ducha rápida, acordar as filhas para a escola. Preparar o café, pentear o cabelo da filha mais nova e colocar o lanche das crianças na mochila.

Engolir um pedaço de torrada e entornar um copo de café, ao mesmo tempo em que manda as crianças para o colégio. Tirar a carne do congelador, botar a roupa na máquina, escrever instruções para as meninas e pregar na geladeira.

Trocar de roupa e partir para a condução lotada. Quando tenho sorte, consigo um lugarzinho espremido entre a janela e alguém que fatalmente irá dormir caindo em cima de mim. Muitas vezes, babando.

Depois de quase uma hora de condução, chegar ao trabalho e encontrar a mesa cheia de relatórios e ofícios para digitar e/ou arquivar.

Ainda enrolada com os documentos, terei que interromper tudo para servir cafezinho para o chefe e a visita. Além de providenciar o presente dele para a filha mais velha, agendar e reservar hotel para a viagem de negócios, que bem sabe, não é de negócios, na maior parte das vezes.

Meio dia, pausa para um almoço rápido num restaurante a quilo da esquina, se for inicio do mês, caso seja no final, quando o dinheiro mal dá para a passagem, contentar-se com um pé-sujo que vende um joelho e um refresco por R$ 2,00.

Voltar para o escritório, onde agora tem mais uma infinidade de documentos para arquivar, digitar, além é claro de providenciar água, café, e o que mais o chefe desejar.

Fim do dia, voltar para a casa, a cabeça estourando e enfrentar uma fila de vinte minutos para entrar em um ônibus cheio, aonde vai espremida e sarrada metade do caminho, quando finalmente consegue sentar. Mas logo chega a hora de descer, caminhar uma quadra inteira, pegar a filha que está na creche, que cobra quase 1/3 do salário, para ficar com ela.

Em casa, antes de sentar, preparar o jantar, estender a roupa que deixei batendo de manhã, se Liliana tiver prova ou trabalho para o dia seguinte ajudá-la nos estudos, depois finalmente, sentar, prato no colo em frente à tv e ver a mocinha sofrendo horrores nas mãos do vilão da vez, normalmente durmo ali mesmo, até a filha mais nova me acordar, choramingando, por que o irmã bateu nela.

Aí a supermulher tem que servir como juiz e decidir por dar razão a uma ou a outra, mas como está com os olhos pregados, resolve dar uma bronca nas duas e colocá-las para dormir.

Fala sério, vai dizer que não é melhor ter que dar porrada no Lex Luthor ou no vilão da vez?
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Os capítulos anteriores de Poliana em Tempos de Crise você pode ler aqui: http://polianaemtemposdecrise.blogspot.com/view/classic

5 de nov. de 2011

Poliana em Tempos de Crise


Cenas de um Divórcio
 Caiu a Ficha! - Última parte - por que ninguém está mais agüentando essa novela.


A ficha caiu no sábado depois de assinar os papeis do divórcio. Minha primeira providência após assinar a papelada, foi comprar uma cama nova. Fim do casamento e fim da era das camas infláveis! E, é claro, os amigos chegariam a noite, para comemorar minha solterice, disseram eles, (pra não me deixar sozinha, sabia eu, por que agora que a separação era definitiva, incluindo legalmente, tudo parecia estranhamente vazio) 

Havia marcado de sair com o pessoal, mas precisava deixar Betânia com alguém. Logicamente, pensei em Adalto, além de ser o pai, morava no mesmo prédio. - Ah, isso ainda não contei, meu querido, agora ex-marido, alugara um apartamento no mesmo prédio onde eu morava. Dissera que era pra não se distanciar das meninas, eu achava que era provocação... 
Logo cedo, bati na porta dele, para perguntar se poderia ficar com ela. Quem atendeu a porta foi uma adolescente. Tá! Tá! Não tão adolescente assim, uns dois ou três anos mais velha do que a filha mais velha dele!!!
Era uma guria de cabelos loiros, trajando uma camiseta (por coincidência, uma que eu havia dado para ele, de presente de casamento).
- Oi.
- Você é a faxineira? - eu não podia deixar de alfinetar.
- Não, tia. - Se a gente matar um garota que tem tudo no lugar e chama a gente de tia, pode ser considerado legítima defesa?
- Então você é a...?
- A senhora quer falar com ele? - Eu odiava muito aquela garota. Muito mesmo!
- Ele está? - Autocontrole. Muito autocontrole.
- Não. Foi na padaria, acho. Quer deixar recado?
- Não. - virei as costas, dei uns dois passos, pensei e depois voltei. - Aliás, quero sim. Diz que a esposa dele esteve aqui. - tecnicamente, ainda era a esposa, oras.
Sim, ser cruel é uma arte. E a sensação é maravilhosa. Principalmente ao ver a fedelha ficar branca que nem papel e engolir em seco. Vingança feita dei as costas e fui embora.

Em casa, claro, caí no choro. A ficha finalmente tinha caído. E eu percebia que estava sozinha com duas filhas para criar, que a gravidade tinha sido implacável com meu corpo, as gorduras localizadas, as rugas, os cabelos brancos e que eu tinha mais de trinta anos e que meu casamento tinha fracassado.

Somente agora percebia o vazio do apartamento. A imensidão da cama. Sentia uma dor tão intensa que parecia corroer tudo em mim.

Despertei da sessão de autopiedade ao ver o olhar assustado de Betânia. Resolvi que não podia fazer isso com ela, então tomei um banho, vesti uma roupa e decidi por deixá-la com a minha mãe.

Essa logo percebeu que algo não estava bem. Mas, pela primeira vez, ficou quieta, enquanto eu explicava que pegaria a menina no dia seguinte. Na porta, abraçou-me e disse baixinho, que tudo voltaria aos eixos.

Fui embora chorando. Uma cena ridícula, as lágrimas escorrendo e eu tentando disfarçar. Todo mundo no ônibus olhando para a minha cara. A senhora ao meu lado, me deu um papel da Assembléia de Deus e começou uma conversa de Cristo salva ou coisa parecida. Agradeci, mas resolvi fazer o resto do trajeto a pé.

Chorei tanto, que adormeci. Acordei com a campainha tocando estridentemente, o apartamento todo as escuras. Mal conseguia abrir os olhos de tão inchados, minha cabeça estourando.

Abri a porta e milhares de pontos de luz explodiram em minhas retinas. Ronaldo e Marlene com o dedo grudado na campainha.

- Hei, o que houve? Estávamos quase chamando os bombeiros...
- Você ainda não está pronta?
- Eu não vou...
Marlene acendeu a luz. Eu ainda tentei virar o rosto para que eles não vissem meu estado. Tarde demais...
- Você andou chorando?
Foi o que bastou. As lágrimas voltaram com força total. E eu que achava que não haviam mais.
- O Adalto está com outra! - Pelo menos foi o que tentei dizer, afinal, falar e chorar é uma tarefa extremamente complicada. - Uma fedelha loira e gostosona!
- Gostosona você disse? - Ronaldo perguntou.
- Cala boca! Não ta vendo que ela está arrasada! - Fui gentilmente empurrada até o sofá mais próximo, enquanto murmurava frase desconexas e de autocomiseração.
- Roni, liga para Wanda e fala que nós não vamos, explica o que houve.
Meia hora depois, Wanda chegou. Esbaforida e com uma garrafa de vinho.
- O que aconteceu, minha gente?
- Eu sou uma fracassada! Uma velha frustrada e fracassada! Meu marido me traiu com uma vagabunda de vinte anos! Ainda por cima loira!
- Ixi, que a coisa é séria!

Eles podiam ter me deixado ali. Podiam também ter ficado comigo e enchido o pote de vinho. Mas, não eram disso. Por isso, passado uma hora de lamentações e lamúrias, recebi um esporro fenomenal de Wanda e Ronaldo, enquanto Marlene me enfiou no chuveiro e me fez trocar de roupa. Acabei sendo arrastada para uma noitada. Minha primeira noite de nova solteira.
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NOVIDADE:  Poliana agora tem blog próprio e se você chegou agora e quer acompanhar a trajetória dessa heroína desde o inicio é só clicar em Poliana em Tempos de Crise e se divertir!

16 de out. de 2011

Poliana em Tempo de Crise - Cap.III (continuação)


Capitulo III: 
Cenas de Um Divórcio:

Cena 5- Restam os Amigos

No dia em que Adalto foi embora. Ainda resmungando sobre livros e cds, eles chegaram para me consolar. Eles quem? Você pergunta, muito apropriadamente, pois até agora minha rotina parecia apenas um emaranhado familiar sem outros elementos estranhos. 

Mas, é claro que em toda separação, ainda mais quando é um casamento longo, fica a pergunta, e os amigos? Ficam com quem? Não dá para separar como objetos e afirmar que eu quero ficar com aquele e aquela, é preciso discernimento para perceber que alguns são os amigos do casal, mesmo que separados, continuaram sendo os amigos do casal e outros, por afinidade, ou motivados por interesses próprios, acabam sendo mais amigos um ou do outro. E nessa história toda, restaram quatro: Wanda, que era minha amiga mais antiga, a tal do aparelho de dente que ao prender minha blusa, foi responsável pelo meu nariz torto. Lucinha, que surgiu depois do casamento, sendo inicialmente amiga do casal, mas que no final virou minha amiga mesmo. Solteira, louca e responsável pelo meu maior mico.

[Um domingo qualquer, recebo um telefonema às 10 horas da noite.
- Poli?
- Lú?
- Você está muito ocupada?
- Não? Algum problema?
- É... Mais ou menos... É que perdi minha carteira... Acho que foi no Barraco. - um barzinho que freqüentávamos sempre que a grana espichava um pouco.
- Você quer que eu vá lá? - como eu morava mais perto, achei que era isso que ela queria.
- Não... Ou melhor,... 
- Lú, estou ficando preocupada, quer me dizer o que está acontecendo?
- É que tô em um motel...
- Sim?
- E o carinha não tem grana para pagar... E acabei de ver que estou sem a carteira...
- Você o quê? Está num motel com um cara que não tem como pagar a conta? Hahaha!
- Para de rir, que a coisa é séria! Não agüento mais ficar aqui com esse cara! - ouço uma exclamação de revolta ao lado, ela diz alguma coisa pouco afetuosa para alguém, depois volta. - Você pode vir me buscar? Depois a gente acerta...

Juro que me segurei para não rir. Quer saber, não segurei não, cai na gargalhada, enquanto ela, fula da vida, xingava minha família inteira.

- Tá. Tá. Diz o endereço que passo aí.

Anoto o endereço. Troco de roupa. Adalto, pergunta aonde vou. Digo que a um motel encontrar com Lú. 

- Heim?
- Depois explico.

E vou embora, rindo. Da situação da minha amiga e da cara de espanto do meu (na ocasião) marido.
Não desço do táxi. (Carro, eu? Quem dera.) Paro na portaria e a mocinha da recepção já vai me entregando uma chave. 

- Não querida, por favor, avise ao casal do quarto 302 que Poliana está aqui.

A mulher arregala os olhos. Tenta dizer alguma coisa, mas eu insisto. Ela então liga para o quarto. Não demora muito, desce Lúcia, cabelos molhados e cara de puta, acompanhada de um cidadão maravilhoso, com aparência de adolescente que foi pego se masturbando com a meia da prima.
Lúcia vira para a mocinha da recepção e pergunta quanto. Depois caminha até o táxi, onde estou e me pede a quantia. Dou a ela o dinheiro. Ela paga e diz um a gente se vê mal-humorado para o rapaz que parece desejar um buraco para se enfiar.

O taxista dá ré e partimos. Enquanto Lucia, que perde a vida, mas não perde uma piada, começa:
- Preço do jantar - R$ 100,00, Quarto do motel R$250,00 - a cara de idiota da recepcionista quando a sua amiga paga a conta, não tem preço. 
E caímos na gargalhada.]

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Este texto faz parte do Romance: Poliana em Tempos de Crise e você pode ler os capítulos anteriores nos links abaixo:

Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II  - Muito Prazer, Sou Poliana
Capítulo III - Cenas de um Divórcio - Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. 

5 de out. de 2011

Poliana em Tempo de Crise - Cap.III (continuação)


Capitulo III: 
Cenas de Um Divórcio:

Cena 3 - E a sua mãe também

Resolvemos contar para nossos pais separadamente. Ele contava para os deles e eu, que já conhecia minhas feras, contava para os meus. Nisso Adalto se deu muito bem, os pais dele eram super tranqüilos, em contrapartida, os meus...
- Você vai se separar?!
- Calma mãe! Olha a sua pressão...
- Ele te traiu não foi? Eu sabia, eu sabia! Mas, eu te disse, homem não presta! Tem que ficar de olho. Ficar ali no pé. É só ver o seu pai, se eu não trago ele ali, ô, amarrado no cabresto, pode apostar que ele já tinha era comido um monte de capim do vizinho...
- Não, mãe, o Adalto não me traiu.
Quando mamãe abre a boca e arregala os olhos não vem coisa boa, ainda mais se juntar a isso as mãos em cima do peito.
- O que houve, mamãe?
- Foi você! Você!
- Eu o QUÊ? Fala logo!
- Você tem um amante!!!!
Óbvio que meu pai entraria nessa hora, senão não teria a menor graça!
- VOCÊ TEM UM QUÊ?
Eu sento na cadeira. Deixo que eles falem. E como eles falam! Depois que a fase dos gestuais e gritos acaba e inicia a fase das lágrimas, explico a história toda. No final, minha mãe está convencida que Adalto tem outra e meu pai de que sou uma louca, acho que concordo com ele.

Capitulo III: 
Cenas de Um Divórcio:

Cena 4 - Eu fico com o disco de Pixinguinha ou momento surto da Poliana


 A confusão começou na hora de dividirmos as coisas. Até então, tirando o episódio primordial (quando ele pediu o divórcio), tudo estava transcorrendo na maior paz. Mas na hora de saber quem ficava com o quê, a coisa ficou preta!
- A coleção do Machado de Assis fica comigo! - Adalto bradou, já colocando os livros dentro da caixa.
- Claro que não! - Retruquei, retirando os mesmos da dita cuja. - É minha!
- Mas, você já ficou com os da Clarice!
- E, mas te deixei Shakespeare!
- Sei, mas não quis me dar o do Manuel de Barros!
- Ora, ele não pode se separar da Florbela Espanca!
- É, mas você não reclamou quando separou Fernando Pessoa de Camões! Eles são portugueses, deviam ficar juntos!
- Os portugueses se separaram quando vierem dar por esses costados, não tem um problema muito grande se separarem novamente...
- E Borges, fica com quem?
- Borges, não! Borges é meu!
- Tudo bem então fico com Garcia Marquez!
- Eu te dou Garcia Marquez se me deixar ficar com Virginia Woolf e Kafka.
- ...
- O que foi?
- E Henry Miller, o que vamos fazer com o pobre do Miller?
- ...
- Eu não posso... Eu não posso ver isso! Fico pensando neles sozinhos, em um apartamento estranho... Imagina o Graham Greene ao lado de Jorge Amado, ele que sempre ficou ao lado de D.H Lawrence, de Tolstoi, de Jane Austen...
- E o Jorge?
- Borges?
- Não. Amado... Como separá-lo da Rachel de Queiroz? Da Lígia Fagundes? Da Nelida...
- E os Andrade? Não posso separar Oswaldo, do Mario...
- ...
- Não chore querida... Por favor, não chore...
- É que... é que... é que não posso nem pensar em abandonar o Veríssimo!!!
- O pai?
- O filho...
- É... O Luiz... Demos boas gargalhadas com ele, não é? Com o pai também, boas lembranças...
- E se a gente revezar?
- Como?
- Assim, cada semana fica com um.
- Biblioteca itinerante? Acho que não vai dar certo...
- O que você prefere? Separá-los? Nunca! Só por cima do meu cadáver!!!
Fim do surto e voltamos a nossa programação normal.
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Este texto faz parte do Romance: Poliana em Tempos de Crise e você pode ler os capítulos anteriores nos links abaixo:

Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II  - Muito Prazer, Sou Poliana
Capítulo III - Cenas de um Divórcio - Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. 
Capítulo III - Cenas de um Divórcio Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. (cont)

1 de out. de 2011

Poliana em Tempo de Crise Cap.III - continuação


Capitulo III: 
Cenas de Um Divórcio:

Cena 2 - Divorciados sim, e dai?

- Liliana, você vai sair?
- Vou.
- Não pede mais não?
- Posso sair?
Liliana, ou melhor, Lia, quinze anos. Gênio terrível. Aborrecente total e absoluta. Minha filha. Diálogo com ela não demora mais de um minuto, embora eu e Adalto tentemos sempre conversar. Mas, normalmente acaba sendo monólogos, o que fazemos, intercalados de expressões como: Tipo assim, tá, a coisa, cara e etc. Já pensei em criar um dicionário para melhor entendê-la, mas seria pouca coisa, cerca de 20 palavras apenas. Afinal, desde os doze anos ela não fala mais do que essa quantidade.
No entanto, eu queria conversar com ela. Explicar sobre o divórcio. Já havia lido sobre o trauma da separação em crianças e adolescentes, em milhares de livros. E não queria traumatizar minha filha. Vai que ela fique famosa no futuro e depois em rede nacional culpe a mãe e o pai pela vida infeliz e solitária que possa vir a ter. Melhor prevenir.
- Eu e seu pai queremos conversar com você.
- Vai demorar? Tenho uma balada para ir.
[Balada - Composição musical de caráter épico, 2. Composição musical sem forma definida, 3. Composição poética popular antiga, acompanhada ou não de música... Não, minha filha não iria sair com as amigas a compor canções épicas ou coisas parecidas. A balada em questão era uma festa ou boate ou apenas papo furado na casa de uma delas.]
- Vai demorar um pouco sim.
- Unhf!
[Gemido sem significado lógico, mas que podia expressar tédio, nojo, desprezo, descaso ou outras variações. Normalmente acompanhado de um jogar-se no sofá ou poltrona mais próximo.]
Betânia, a mais nova, ainda possível de se entender e domesticar brinca sobre o tapete com a boneca. Chamo Adalto.
Ignorando a expressão de enfado de Liliana e ignorados por Betânia, que acha os brinquedos bem mais interessantes que os pais. Começamos.
- Filhas, eu e seu pai, queremos dizer que a culpa não é de vocês...
[ péeeemmm! Tudo errado. Mas não existe delete na vida real, então começou torto mesmo.]
- Não Poli. É melhor ser direto. Ir direto ao ponto.
- Então fala você!
- Tá bom.
- É sempre assim, você fica me criticando na frente das meninas...
- Vão ficar brigando ou vão falar? Que saco! 
- Tá vendo o que você fez?
- Eu não fiz nada! Só acho que não dá para ficar enrolando. Fala logo!
- Isso vai demorar...
- Não Liliana, isso não vai demorar, mas você podia ser um pouco mais gentil com sua mãe!
- Obrigada, querido. Bem, eu e seu pai... A gente... Nós...
- O que é isso? Aula de Português?
- Mocinha, já falei que não quero deboche nessa casa!
- Tá. Tá.
- Eu e sua mãe resolvemos nos divorciar. Pronto, falei!
- Posso sair agora?
- Você não vai falar nada?
- É para falar alguma coisa? Vocês vão se separar, e daí?
Eu esperava tudo! Lágrimas, revolta, explosão! Mas indiferença? Isso não. Betânia continuava a brincar, tudo bem, ela só tem cinco anos, mas Liliana não demonstrava nem surpresa.
Na verdade já estava com a bolsa nas mãos, só aguardando a liberação para sair.
- Você não vai ficar triste? Eu e seu pai iremos nos separar!
- Mãe, você sabe quantos casais se separam diariamente? Um monte! Vocês são apenas mais um, e daí? Viva, entrei para as estatísticas! Sou filha de pais separados, dãa!
[Dãa! Outras das expressões típicas dela, uma mistura de "idiotas!" Com "Que babacas!" - usada normalmente quando ela achava algo ridicularmente fácil ou claro e nós ficávamos tentando explicar o que ela já havia compreendido]
Sem argumentos para combatermos sua lógica, deixamos que ela fosse a tal balada. Restava a outra, agora. Quem sabe tivesse um pouco mais de sensibilidade que a irmã mais velha?
Adalto pega a pequena no colo.
- Linda mamãe e papai vão se separar.
 Ela ergue os olhos, carinha de quem não está entendendo nada.
- Tá.
- O papai quer dizer que ele não vai morar mais com a gente.
- Não? E vai morar aonde?
- Ainda não sabemos, por enquanto, na casa do Tio Lucas.
- E eu? Vou morar aonde?
- Aqui mesmo. Com a mamãe.
- Por que?
- Por que, o quê?
- Por que papai vai embora?
- Ele não vai embora, ou melhor, vai! Mas, vai continuar vendo você e a Liliana.
- A Liliana também vai embora?
- Não, querida, claro que não.
- Duga!
- Heim?
- Duga! Eu queria que ela fosse também!
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Este texto faz parte do Romance: Poliana em Tempos de Crise e você pode ler os capítulos anteriores nos links abaixo:

Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II  - Muito Prazer, Sou Poliana

Capítulo III - Cenas de um Divórcio - 
Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. 
Capítulo III - Cenas de um Divórcio Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. (cont)


26 de set. de 2011

Poliana em Tempo de Crise - cap.III


Capitulo III: 
Cenas de Um Divórcio:

Cena 1 - Homens não prestam e mulheres não sabem o que querem. 


Deixei que a ideia criasse raízes. Ponderando todas as conseqüências do ato. Precisava tomar coragem de conversar com Adalto. E essa era a parte mais difícil. Imagine como informar a minha conturbada família, que eu estava abrindo mão, do que era considerado um casamento perfeito.
Mas, no final o inesperado aconteceu, já que foi ele que tomou a decisão. Foi em um sábado. Liliana na rua, em uma festa qualquer, Betânia na cama e nós dois ali, curtindo Supercine.
- Acho que nós precisamos dar um tempo.  - é preciso explicar uma coisa antes, Adalto é a pessoa mais direta que conheço. Fala em uma frase o que a maioria das pessoas, enrolaria dois parágrafos para dizer.  Por isso, não fez rodeio aquele dia. De maneira, rápida, clara e sem muitas delongas, tratou de explicar que queria o divórcio.
- Também ando pensando nisso...
- Pois é, acho que viramos dois amigos, e se é para sermos somente amigos, que sejam em casas separadas, assim, um não impede o outro de viver um novo amor.
A frase doeu. Em todo o tempo que havia pensando na separação, não havia pensado nas conseqüências concretas do ato. Ele conhecer uma nova pessoa e tentar uma vida a dois novamente era uma dessas.
- Você está com outra?
- Eu? Não. Mas ando pensando na possibilidade...
Bem, eu sou mulher. E como toda mulher, não acreditei.
- Seu cretino, miserável! Você está me traindo!
- Poli, presta atenção! EU NÃO ESTOU TE TRAINDO! E é para não te trair que estou pedindo o divórcio! Será que é tão difícil de entender? Além do mais, você acabou de dizer, que também estava pensando nisso!
Nessa altura, eu já estava com as mãos na cadeira, segurando o choro. A razão completamente submetida ao desvarios do velho monstro de olhos verdes.
Falei uma meia dúzia de palavrões. Xinguei toda a família dele e me tranquei no quarto, aos prantos.
Se você acha que ele foi lá me consolar, pode tirar o seu cavalinho da chuva! Meu querido marido, agora ex, não caia na velha armadilha feminina das lágrimas. Viu o filme todo, e só quando já estava caindo de sono, foi para o quarto.
Eu estava lá, claro, jogando todas as roupas dele em uma mala.
- O que você está fazendo?
- Expulsando você!
- Por que?
- Por que você é um cretino, filho da mãe!
-...
- Com quem você me traiu, heim?! Com quem?
- Uê, se você tem tanta certeza que eu te trai, deve saber com quem!
Nessa altura, o resto da dignidade vai por água abaixo, literalmente, sentei no chão, perto da cama, as lágrima escorrendo copiosamente.
Uma coisa que é preciso dizer. Nós mulheres somos os bichos mais estranhos do planeta! Eu vinha pensando em me divorciar há meses, esperando só a chance de falar com ele. Sem pensar nos sentimentos dele, ou melhor, preparando-me para vê-lo se arrastar e implorar que eu não o deixasse.
Mas, como a situação não fora bem a que planejei, fora ele que tomara a iniciativa, sentia-me traída e apunhalada. De repente a idéia do divórcio parecia ser uma coisa horrorosa.
E lá estava eu, chorando como uma criança, na beira da cama. Enquanto o cretino, sim, agora ele era um cretino. Olhava tudo, sem esboçar gesto nenhum.

- Não vai falar nada?
- Não, enquanto você não voltar a ser um ser racional.
- Por que você quer se separar de mim?
- Poli, eu não quero me separar de você. Nós queremos nos separar um do outro! Lembra?
Não. Eu não lembrava. Na verdade, só pensava em como era infeliz e como ele podia ter feito isso comigo e que os homens não prestavam e eram todos cretinos, miseráveis e canalhas!
Foi uma looooonga noite de conversa. Eu chorei, (mais), ele chorou. Lembramos tudo que havíamos passado. O casamento, o nascimento das meninas... Tudo.  Eu gritei. Ele gritou. Fiquei com raiva, ele ficou com raiva. Falei um monte de palavrões, ele falou outros tantos. Eu o ameacei, ele me ameaçou... Resumindo, fizemos o que todos os casais fazem quando o assunto divórcio entra em pauta. Depois dormimos. E amanhecemos convencidos que devíamos nos separar.

Restava agora contar para a família. As meninas eram a nossa maior preocupação. Por isso, decidimos preparar bem o terreno. 

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Este texto faz parte do Romance: Poliana em Tempos de Crise e você pode ler os capítulos anteriores nos links abaixo:

Capitulo I - A Arte de Dormir numa Cama Inflável
Capitulo II  - Muito Prazer, Sou Poliana

Capítulo III - Cenas de um Divórcio