31 de jul. de 2018

Dialogando com Virginia Woolf


Cara Virginia Woolf, acabo de ler seu artigo “Profissões para Mulheres”, excelente por sinal, no qual aponta um assassinato como condição para que nós mulheres possamos escrever de maneira plena. Sem dúvida o fato de matar inúmeras vezes o seu contemporâneo Anjo do Lar, pode nos  agraciar com sua literatura magnifica. 
Mas você não sabe a armadilha que caímos no decorrer desse século que nos separa. Se antes, a figura pura que sussurrava em seus ouvidos que deveria usar a pena de maneira meiga e cheia de artimanhas femininas atrapalhava sua criação, obrigando-lhe a matá-la, não uma, mais inúmeras vezes. Hoje nos deparamos com vozes diversas que ecoam em nossos ouvidos todas as vezes em que nos sentamos para exercer a arte da escrita. 
Ora é o anjo da profissional competente que nos adverte que não há tempo para tamanha frivolidade. Ora é o anjo da dona de casa exemplar que nos apresenta louça e roupas sujas e a comida sobre o balcão para cozinhar. Ora, e este é o anjo mais sádico, o da mãe perfeita que nos cobra criação, educação, alimentação e diversão para nossas crianças. 
Pobre Virginia, o anjo que um dia você matou, era apenas uma das facetas de entidade maior e mais perigosa a nossa condição, não só de escritora, mas de mulher: o machismo entranhado em nós, o qual reproduzimos ad infinitum
Ah, minha querida, precisamos ser assassinos seriais se desejamos um dia chegar ao seus pés. Em nossas mãos, o sangue desses três anjos opressores precisa correr. Há que se sufocar a profissional, afogar a dona de casa e enterrar em definitivo a mãe em nós para que possamos exercer nossa escrita de maneira plena. 
[Patricia Daltro]

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