28 de jul. de 2013

Eu ainda sou Feminista...

No sábado, dia 27/07, ocorreu a Marcha das Vadias na orla do Rio de Janeiro, e durante o ato, um grupo de mulheres quebrou estátuas da igreja católica. Um dos intuitos era chocar/ofender/agredir os peregrinos da JMJ que acontecia no mesmo local.

Pontualmente, eu discordo do acontecido: A ideia da Marcha das Vadias vem no intuito de mostrar a sociedade que, nós mulheres somos dona do nosso corpo, independente da roupa que vestimos, da forma que andamos e da nossa sexualidade (por isso, não questionei o fato de estarem semi-nuas ou não, isso é de cada uma) - sou contra a nudez que gera a objetificação feminina e, quero crer, que as mulheres que ficaram semi-nuas na passeata não estão se objetificando.

Continuando, se um dos objetivos da marcha é ganhar a simpatia da sociedade para a luta em defesa da mulher - contra a violência que nós sofremos, contra o estatuto do nascituro, contra a "bolsa-estupro", pelo "Não-Veto" da Dilma a lei que garante a profilaxia após o estupro dentre outras tantas...

Enfim, se nosso objetivo é esse. Fazer atitudes que retratem intolerância, só ganhará repúdio dessa mesma sociedade. Permitindo que retrocedamos em conquistas que foram tão duramente conseguidas.

A fé é individual e é errado quando o Estado deixa de ser laico, para ser tendencioso à algum tipo de religião, seja ela, católica, evangélica, espirita ou qualquer uma. 

No momento que quebro uma estátua que tem simbolismo religioso para muitos , estou sendo tão intolerante quanto os que vociferam sandices por ai. Fui contra os evangélicos quando invadiram um templo umbandista para quebrar suas imagens, fui contra evangélicos que quebraram imagens de santas da igreja católica e também sou contra ateus quebrarem essas imagens.

Respeito só pode ser exigido e mais, conquistado, se respeitamos.

Alias, a marcha das vadias não é contra a igreja, e isso tem que ser deixado bem claro, ela é contra a intervenção religiosa no Estado. Todas essas pautas que citei antes, são pautas oriundas dessa intervenção errônea da religião, e engana-se quem acha que é só a católica, pois atualmente, os grupos de parlamentares religiosos que levam sua fé para dentro da legislação, pertencem a diversas religiões diferentes - são católicos, evangélicos, espiritas e etc.

Acima de tudo, queremos respeito! Respeito que nos permita usar o que quisermos, sem sermos violadas. Respeito que nos garanta o direito a vida, garantindo que tenhamos atendimento de emergência em caso de estupro, que possamos optar entre ter ou não um filho gerado através de um estupro, que tenhamos a nossa vida garantida, caso o feto seja anencéfalo. 

E, é por ser essa a nossa pauta, que não mudaremos a mentalidade da sociedade quebrando santas, mas fazendo-a ver que nós lutamos juntos, que somos mães e filhas dessa sociedade, tentando, gritando, lutando para fazer desse mundo, e particularmente, do nosso pais, um lugar melhor.

-------------------------------
E, por favor, leiam sobre o que é e como se criou a Marcha das Vadias antes de fazerem julgamentos sobre o nome - linkei logo no inicio com a wikipédia, para quem tiver dúvidas.

8 comentários:

Anônimo disse...

Oi Patrícia!
Gostei da lucidez do seu texto, como sempre. Não é atacando a fé das pessoas que vamos conseguir respeito. Se fossem evangélicos desrespeitando os símbolos católicos seria tão absurdo quanto, você bem disse. Se elas estão no direito delas? Até certo ponto, né? Enfiar crucifixos nos orifícios do corpo não é necessariamente livre manifestação de pensamento. E quando isso é feito na frente de uma sociedade em um evento religioso é extremamente desrespeitoso com o direito do outro estar ali em paz. Concordo que nosso estado não é laico e nem isento quando se refere a religiões, e cada vez mais as igrejas tem influenciado a sociedade, pois grupos religiosos focam na eleiçao de seus representantes que estão ali para curar gays e estirpar os diferentes da face da terra. Enfim... Não é promovendo beijaço gay em eventos religiosos e nem ofendendo a fé alheia que qualquer movimento conseguirá atrair a simpatia da sociedade. Marcha das Vadias não tem minha simpatia.


Clau Finotti
Beijos.

Cláudia Pinto disse...

Concordo plenamente com o seu texto.

Não sei o que a Marcha fará para reverter a situação, mesmo se dizendo contra o que aconteceu( o que não acredito), permitiram. Fiquei CHOCADA.

Você não ganha respeito, desrespeitando o próximo.

Pra mim já deu.

beijo

Luciane disse...

querem respeito?
Respeitem!
O que aconteceu na Marcha das Vadias é inaceitável!
E sim, aconteceu com a concordância e a aprovação da organização e de todos os presentes, tanto que fizeram um cordão de isolamento para que a "encenação" transcorresse sem incômodos. Agora, que repercutiu mal para a marcha, para as feministas e para a organização, o que vejo é todo mundo se acovardando e dizendo não ter nada com isso!Ora, sejam corajosas e assumam seus erros! seria muito mais digno, coerente e adulto.
Infelizmente a marcha das vadias presta um desserviço ao feminismo e só vocês não percebem.
Ser feminista não é desfilar nua (exatamente como fazem as mulheres objeto no carnaval e nas capas de revista), não é se masturbar com a imagem de nossa senhora (quando 3 milhões de católicos se reunem em paz para expressar sua fé)...
Isso é ser burra! Isso é feito apenas para chocar e afastar quem mais precisa de apoio, as mulheres que diariamente são violadas em TODOS os seus direitos, não apenas os sexuais.
A guerra declarada contra a igreja católica é igualmente burra, porque não é violentando a fé da maioria que o feminismo se fará ouvir.
Ninguém é obrigado a ser católico e há muito a Igreja não tem mais a influência que um dia teve. A maioria dos católicos não vive exatamente como a religião prega. se divorciam, usam camisinha, fazem sexo antes do casamento... mas continuam católicos em sua fé. Será que as feministas não conseguem perceber isso e trabalhar com esta realidade, trazendo para o movimento TODAS as mulheres? Ou as feministas querem que o movimento fique restrito às mulheres da classe média urbana, atéias, com menos de 30 anos? Querem que o movimento seja reconhecido apenas pela bandeira da liberdade sexual? Isso é tão limitante!
Já lhes passou pela cabeça que nem todas as mulheres acreditam que a liberdade sexual é o fiel da balança em suas vidas?
No mais, a grosso modo, o que distingue o católico dos demais cristãos pentecostais é a profunda crença em Maria. Por isso a ação da marcha foi tão despropositada e violenta.
Com imenso pesar eu vejo o feminismo no Brasil como um movimento burro, cego e surdo, que apenas prega a intolerância e a violência (porque sim, vilipendiar os símbolos de uma fé, é violência).
Eu sou feminista na minha prática diária, na minha vida e com o meu exemplo tento influenciar as mulheres ao meu redor. Respeitando as diferenças, sendo tolerante, acolhendo.
Eu sou católica, com uma fé inabalável em Maria. Mas sou divorciada e casada novamente. Por isso não teria direito aos sacramentos, já que vivo em pecado. Isso faz diferença em minha fé? Nenhuma!
Ser católica me faz menos independente, menos senhora da minha vida e do meu corpo? JAMAIS.
São estas nuances que o feminismo insiste em não perceber, afastando as pessoas comuns de sua luta pelos direitos das mulheres.
O movimento feminista no Brasil é excludente. Infelizmente.

Fernanda Reali disse...

Odeio religião, odeio religião intromedida nas leis, odeio fanáticos religiosos, mas também odeio gente que quer aparecer quebrando imagens ou templos.

Foi uma falta de respeito tremenda quebrar santas etc. Perderam a simpatia das pessoas e desviaram o foco da atenção, de suas propostas legítimas, jogando holofotes para um show deprimente de vandalismo fanático.

Odiei o que algumas representantes da marcha das vadias fizeram, embora eu apóie 100% as ideias que o movimento propõe.

Teu teto está na medida exata, Pat, parabéns.

Sônia Pb disse...

Adorei seu texto e concordo com vc 100%.
bjs
Sônia

Rogeria disse...

Perfeito seu texto, Pat. Como católica tentei ignorar o ato, mas que é uma violência é. Depois reclamam da falta de apoio, mas como apoiar tais atitudes? Difícil né? Enfim, que tenhamos mais sabedoria na luta pela equidade, pois como bem diz um professor meu "não somos iguais, então, não há que se falar em igualdade..." Bjs, lindona!!

Lola disse...

Pati, nesse campo de feminismo e de Marcha das Vadias sou uma completa alienada mas achei teu texto lúcido e acrescento que, se o movimento tinha algum respeito, agora se perdeu.
Bjs

Palavras Vagabundas disse...

Pat, concordo inteiramente com você. Foi um enorme desserviço o que fizeram, pois quem pede respeito NÃO pode desrespeitar. Não gostei, não aprovo e acho que as organizadoras deveriam ter intervido. Agora, já era! Uma imagem vale mais que mil palavras é o que ficou, perderam a credibilidade.
bjs
Jussara