26 de jul. de 2012

Cenas Familiares


Enfrente seus pesadelos. Dizia meu avô. Deite novamente e sonhe o mesmo sonho, mas agora sob o seu controle. Demorei a fazer isso, mas consegui um dia. E alegre fui contar, que dessa vez, conseguira subir as escadas até o fim. Sonhos que se repetem. Escadas longas que terminam em salas escuras, onde sombras espreitam. Nunca antes havia chegado até o fim delas, acordando sempre, o coração descompassado. Respiração ofegante. Até o dia que ele me ensinou o segredo. Sonhe o mesmo sonho. Simples. E com ele tudo sempre parecera tão simples.   

Uma figura pequena. Nem um pouco frágil, no entanto. Sonhava os seus próprios sonhos e foi isso que o fizera abandonar tudo e mudar para a pequena casa no meio do nada. Uma selva de matos e árvores. Feliz. Fora ali que ele crescera e foi ali que escolheu passar seus últimos dias. Embora, sequer suspeitássemos que fossem tão poucos.   

Hoje tive um pesadelo. Daqueles terríveis, que só a sua voz sabia acalmar. E pude te ouvir no meu sonho. Mandando que eu o enfrentasse. Meus medos, tantos. Que precisava de você aqui, para espantar de vez todos os fantasmas. O fantasma da sua ausência, que é o pior de todos.   

Ainda não consegui pisar no sítio novamente. Embora sonhe com ele com freqüência. E nos sonhos, posso te ver, envolvido em invenções mirabolantes, que tanto atiçavam minha imaginação: a máquina de lavar feita de um barril de chope, o ventilador de motor de moto, que andava pela casa. Um gênio caseiro. Meu mágico familiar. 

Nunca senti tanta impotência quanto o dia em que você se foi. Eu não tinha tido a chance de te abraçar uma última vez. De novamente ouvir você me dizendo que pesadelos acabam com a entrada da luz. De dizer que te amava. Acho que nunca disse.   

Mas essa noite, vou sonhar o mesmo sonho, onde te encontro no sítio, e irei enfrentar os meus fantasmas, e dizer o que deveria ter dito, que eu te amo muito e que você foi o melhor avô que eu poderia ter tido. 

3 comentários:

Elaine Gaspareto disse...

Não sei o motivo, mas você tem o dom de me arrepiar. Sempre que leio seus textos sinto esse arrepio, sabe? Misto de admiração e assombro...
beijosssss

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida
Minha avós foram lindas também... já os avós nem tanto carinhosos mas deles tenho respeito também...
A avó materna foi e é (do Céu) minha amigona querida...
A outra (paterna) morreu quando era eu pequena...
Seja abençoada e feliz!!!
Bjs de paz

Anônimo disse...

Patrícia....
que vô fantástico você tem (digo tem, porque mesmo ausente, ele continua presente).
Penso que a gente deveria dizer mesmo EU TE AMO para aqueles que nós amamos, mas imagino que, no passado, dizer eu te amo não era natural (na minha família não era natural)
Então, não aprendemos dizer isso na infância.
Então, sugiro que você diga hoje, com todo o teu coração: vovô eu te amo.
Diga quantas vezes quiser.....
Agradeça, converse, imagine-se com ele.
E os pesadelos... que pessoa sábia era seu vô. Voltar a sonhar o mesmo sonho, sabendo enfrentar os fantasmas.
Fantástico Patrícia...
Incrível...
Um tipo de ser humano que fez diferença por aqui, né.
deixo o meu abraço procê....
bjs.
Liliane