5 de nov. de 2011

Poliana em Tempos de Crise


Cenas de um Divórcio
 Caiu a Ficha! - Última parte - por que ninguém está mais agüentando essa novela.


A ficha caiu no sábado depois de assinar os papeis do divórcio. Minha primeira providência após assinar a papelada, foi comprar uma cama nova. Fim do casamento e fim da era das camas infláveis! E, é claro, os amigos chegariam a noite, para comemorar minha solterice, disseram eles, (pra não me deixar sozinha, sabia eu, por que agora que a separação era definitiva, incluindo legalmente, tudo parecia estranhamente vazio) 

Havia marcado de sair com o pessoal, mas precisava deixar Betânia com alguém. Logicamente, pensei em Adalto, além de ser o pai, morava no mesmo prédio. - Ah, isso ainda não contei, meu querido, agora ex-marido, alugara um apartamento no mesmo prédio onde eu morava. Dissera que era pra não se distanciar das meninas, eu achava que era provocação... 
Logo cedo, bati na porta dele, para perguntar se poderia ficar com ela. Quem atendeu a porta foi uma adolescente. Tá! Tá! Não tão adolescente assim, uns dois ou três anos mais velha do que a filha mais velha dele!!!
Era uma guria de cabelos loiros, trajando uma camiseta (por coincidência, uma que eu havia dado para ele, de presente de casamento).
- Oi.
- Você é a faxineira? - eu não podia deixar de alfinetar.
- Não, tia. - Se a gente matar um garota que tem tudo no lugar e chama a gente de tia, pode ser considerado legítima defesa?
- Então você é a...?
- A senhora quer falar com ele? - Eu odiava muito aquela garota. Muito mesmo!
- Ele está? - Autocontrole. Muito autocontrole.
- Não. Foi na padaria, acho. Quer deixar recado?
- Não. - virei as costas, dei uns dois passos, pensei e depois voltei. - Aliás, quero sim. Diz que a esposa dele esteve aqui. - tecnicamente, ainda era a esposa, oras.
Sim, ser cruel é uma arte. E a sensação é maravilhosa. Principalmente ao ver a fedelha ficar branca que nem papel e engolir em seco. Vingança feita dei as costas e fui embora.

Em casa, claro, caí no choro. A ficha finalmente tinha caído. E eu percebia que estava sozinha com duas filhas para criar, que a gravidade tinha sido implacável com meu corpo, as gorduras localizadas, as rugas, os cabelos brancos e que eu tinha mais de trinta anos e que meu casamento tinha fracassado.

Somente agora percebia o vazio do apartamento. A imensidão da cama. Sentia uma dor tão intensa que parecia corroer tudo em mim.

Despertei da sessão de autopiedade ao ver o olhar assustado de Betânia. Resolvi que não podia fazer isso com ela, então tomei um banho, vesti uma roupa e decidi por deixá-la com a minha mãe.

Essa logo percebeu que algo não estava bem. Mas, pela primeira vez, ficou quieta, enquanto eu explicava que pegaria a menina no dia seguinte. Na porta, abraçou-me e disse baixinho, que tudo voltaria aos eixos.

Fui embora chorando. Uma cena ridícula, as lágrimas escorrendo e eu tentando disfarçar. Todo mundo no ônibus olhando para a minha cara. A senhora ao meu lado, me deu um papel da Assembléia de Deus e começou uma conversa de Cristo salva ou coisa parecida. Agradeci, mas resolvi fazer o resto do trajeto a pé.

Chorei tanto, que adormeci. Acordei com a campainha tocando estridentemente, o apartamento todo as escuras. Mal conseguia abrir os olhos de tão inchados, minha cabeça estourando.

Abri a porta e milhares de pontos de luz explodiram em minhas retinas. Ronaldo e Marlene com o dedo grudado na campainha.

- Hei, o que houve? Estávamos quase chamando os bombeiros...
- Você ainda não está pronta?
- Eu não vou...
Marlene acendeu a luz. Eu ainda tentei virar o rosto para que eles não vissem meu estado. Tarde demais...
- Você andou chorando?
Foi o que bastou. As lágrimas voltaram com força total. E eu que achava que não haviam mais.
- O Adalto está com outra! - Pelo menos foi o que tentei dizer, afinal, falar e chorar é uma tarefa extremamente complicada. - Uma fedelha loira e gostosona!
- Gostosona você disse? - Ronaldo perguntou.
- Cala boca! Não ta vendo que ela está arrasada! - Fui gentilmente empurrada até o sofá mais próximo, enquanto murmurava frase desconexas e de autocomiseração.
- Roni, liga para Wanda e fala que nós não vamos, explica o que houve.
Meia hora depois, Wanda chegou. Esbaforida e com uma garrafa de vinho.
- O que aconteceu, minha gente?
- Eu sou uma fracassada! Uma velha frustrada e fracassada! Meu marido me traiu com uma vagabunda de vinte anos! Ainda por cima loira!
- Ixi, que a coisa é séria!

Eles podiam ter me deixado ali. Podiam também ter ficado comigo e enchido o pote de vinho. Mas, não eram disso. Por isso, passado uma hora de lamentações e lamúrias, recebi um esporro fenomenal de Wanda e Ronaldo, enquanto Marlene me enfiou no chuveiro e me fez trocar de roupa. Acabei sendo arrastada para uma noitada. Minha primeira noite de nova solteira.
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NOVIDADE:  Poliana agora tem blog próprio e se você chegou agora e quer acompanhar a trajetória dessa heroína desde o inicio é só clicar em Poliana em Tempos de Crise e se divertir!

3 comentários:

Thaisa Santos disse...

Caramba! Se essa narração não foi verdade, a descrição foi muito, muito, realista...E caso seja verdade, sinto muito que esteja passando, por isso, e tenho duas teorias à respeito: 1. os caras com a gurias um dia se ferram...; 2. diante de um problema tendemos achar que naquela hora "é o apocalipse", mas depois percebemos que insistindo, tentando e criando, as coisas podem tomar um rumo inesperado...e bom! falo por experiência própria. Fácil jamais! Mas é possível sim!

Roberta de Souza disse...

Oi Pat, muito legal sua história!
Eu ainda não conhecia!!!

bjbjbj
Beta

Cissa Branco disse...

Patrícia,


Aí que susto quando li que era a última parte, não estava preparada psicologicamente e fiquei em transe, rs. Adorei, adorei, adorei, o troco na loira foi fantástico. Fui no blog mais não consegui seguir e nem tem feed para recebermos por email, rs.
Grandes beijos