29 de mai. de 2010

O que queria ter dito antes do seu adeus...

Há seis anos tive o primeiro sonho com você. Onde me apresentava seu filho e me pedia para cuidar dele quando você se fosse. Lembro de acordar angustiada e chorando muito. E a saudade que sentia de você naquele dia ficou imensa.

Naquela época já havíamos nos afastado. 90% por culpa minha. Orgulho, bobeira, não sei explicar, o que sei foi que logo após o nascimento do seu filho, sumi.

Nesse ínterim casei e comecei uma vida nova que não te inclui. Mas pensava em você sempre. E sempre dizia que semana que vem, vou te procurar. Mas os dias se alongaram, a vida ficou cruel e fui te deixando só como lembrança de uma amizade linda. A maior de todas com certeza.

Depois desse sonho, vieram outros,  sempre no inicio do ano, todos me faziam acordar chorando de saudades. Aos poucos foi crescendo em mim a certeza de que você tinha morrido. E, eu passei a temer te procurar. Não queria ouvir sobre sua morte...

Esse ano sonhei de novo com você morta. Mas, diferente dos outros, esse foi delicado, mostrando uma aceitação da sua parte e num lugar incrivelmente belo, você me disse que estava em paz.

Mas, dessa vez eu quis te procurar. Quis ter a certeza dos sonhos ou esquecê-los de vez.

Você não sabe como fiquei feliz quando te encontrei no orkut. E quando você me respondeu, parecendo também feliz em  me reencontrar, foi como se todos esses anos distantes não tivessem acontecido.

Minha amiga e irmã estava de volta. Começamos a marcar para nos revermos e então, você silenciou. Estranhei, mas deixei, acreditando que logo você entraria em contato.

Sua mãe me avisou hoje sobre sua morte. Que faz um mês, exatamente o tempo do seu último recado... Que queria aproximar nossos filhos.

O que sei amiga, é que não consegui me despedir de você. Que nesses oito anos afastadas, eu pensei em você pelo menos uma vez ao dia. Que lembro do primeiro dia que nós conhecemos. Eu estreando num colégio, deslocada, assustada e você cantou roupa nova pra mim, sentou ao meu lado e me fez me sentir tão bem... Que eu te odiava quando você me usava como desculpas para fugir para namorar...  que cada minuto ao seu lado foram especiais...Que você me fazia rir, que me fez querer matar o cara que te violentou...

Que eu sinto saudades das suas lágrimas, das suas histórias e principalmente da sua risada e da sua forma de viver a vida no tudo ou nada...

Você me resgatou tantas vezes de mim mesma e das minhas auto-sabotagens, e que num dos piores momentos, foi você que me deu a mão e ficou ao meu lado.

Eu não sei se fiz o mesmo por você. Mas eu tentei ,viu? Eu sempre me senti em relação a você como se fosse sua consciência, seu grilo falante e como discutíamos devido a isso.

E como rimos juntas. Meu primeiro porre foi ao seu lado. E foi para você que confessei o meu primeiro amor e você me chamava de burra todas as vezes que saíamos os três e eu não conseguia me declarar para o carinha...

Eu acho que nunca disso o quão gostava de você... Que para mim, você era a minha amiga, irmã, mãe, filha e tudo mais...

E está doendo muito saber que você se foi... No seu último recado para mim, você falou que queria que nossos filhos se conhecessem, e, eu vou levar o pequeno para conhecer o seu filhote, ta? Não posso prometer que eles se transformem em amigos como nós fomos, mas quero dizer ao seu filho que a mãe dele foi um dos melhores pessoas que conheci.

Saudades demais amiga, mas fica em paz aonde você estiver... fica bem

Em memória de Sylvia Christina - a melhor amiga que uma pessoa poderia querer!

23 de mai. de 2010

Platônico Amor

O que ela queria era dizer que o amava. Mas tropeçava nas falas, confundia as mãos. E calava o desejo num bom dia quase sussurrado. Todo dia. Acompanhava seu ir e vir pelos corredores do escritório e devolvia o sorriso discreto. Cúmplices. Falavam da vida, do tempo e de nada. E ela se consumia de sonhos e planos, onde ele era a peça ausente no quebra-cabeça perfeito da sua platônica relação.

Em casa, chorava em silêncio, afogando angústias no panela de brigadeiro. E se prometia diferente no amanhecer. A coragem enfim de dizer o que sentia, tinha certeza, viria com os primeiros raios de sol;

Mas eram os olhos dele que silenciavam seus desejos. Era deles, que sentiria saudades se no lugar da confirmação, viesse apenas a certeza de bons amigos.

Por isso, encarava confissões e disfarçava a boca sedenta por um beijo, o corpo quente de vontade. E rolava a noite, imaginando possibilidades...

21 de mai. de 2010

Só por Hoje...

Só por hoje eu queria acordar e achar que tudo está bem.
Só por hoje não queria pensar que estou com dois alugueis atrasados e não sei como conseguir dinheiro para pagá-los.
Só por hoje não queria pensar que tem mais de duas contas de luz vencida e a qualquer momento vai vir alguém para cortá-la.
Só por hoje eu não queria pensar que tudo que estou vivendo, é fruto das escolhas que fiz, certas ou erradas.
Só por hoje eu não quero pensar que o plano de saúde do meu filho completou três prestações atrasadas e ele não pode ser atendido, devido a isso.
Só por hoje eu queria não me sentir à beira de um abismo.
Só por hoje eu queria não precisar rir e dizer que está tudo bem, nem bom dia, nem boa tarde ou boa noite.
Só por hoje eu queria não ter os olhos marejados d´água o tempo todo.
Só por hoje eu queria acreditar em sonhos, planos, castelos de areia e outros faz-de-contas que me dissessem que tudo vai dar certo.
Só por hoje eu queria que vocês me desculpassem pelo baixo astral, mas sabe como é, como já dizia Lobão, nem sempre se vê mágica no absurdo e não dá para enxergar sorrisos na escuridão...

17 de mai. de 2010

Garrafas ao Mar

É quando a semana começa que percebe que estar perdida é uma opção também.  Só que sempre preferiu ser o farol orientando passos. Ocultava assim a fragilidade da rocha esculpida lentamente pela força das marés.

E messe  momento percebia, que a solidão escolhida, tornara-se maior do que a ilha.  E das escolhas possíveis, sempre é sobre elas, não é? A que desejava era a menos provável, deixar de ser farol, e ser apenas ela mesma. Naufraga de sonhos, mas ainda capaz de lançar garrafas ao mar...