6 de ago. de 2018

Amém!


Toda vez que tenho que ir ao Centro, pego o 355 e essa viagem de 1h e 30m rende histórias interessantes. 
Sou dessas que ando de antena ligada nos papos que rolam a minha volta, minha veia escritora se atiça, toda vez que um causo interessante se aproxima.

Terça agora foi dia de sacolejar o esqueleto no busum. Dá uns 30 minutos e entrou um pastor. Distribuiu uns santinhos e começou a pregar a palavra. Confesso que desliguei. Mas, eis que ele termina o que quer que tenha dito, com um amém. O ônibus: cri cri cri.

Ele repetiu o amém mais alto. Cri cri cri. Dai, ele ficou puto. JESUS QUER O SEU AMÉM! REPITAM AMÉM! Um amém constrangido surgiu no fundo da condução. Não satisfez o homem: É O DIABO QUE NÃO DEIXA VOCÊS DIZEREM AMÉM! LARGA O DIABO E VEM PRA JESUS! TODO MUNDO COMIGO:AMÉM! 

Ele gritava e sacudia a Bíblia. Comecei a achar que iria arrancar o amém batendo na gente com o livro sagrado. 
O trocador camarada mandou descer que não queria confusão no ônibus dele.

Meia hora de calmaria, entra o camelo sincerão: Biscoito champanhe por dois real! Não é roubo não, minha gente. O caminhão tombou perto de casa e a gente precisa trabalhar! Só consegui pegar essa caixa, bora ser camarada com o amigo aqui que tem dois filhos, esposa, sogra e cunhada para cuidar. 
(Começo a rir por dentro, mas com respeito). Dai atrás de mim duas donas começam a conversar: 
- Adoro esse biscoito, mas não posso comprar.
- Por que, doida?
- Ah, já fiz muita merda na vida, tô tentando me acertar.
(Nessa hora, ouvido tá antenadissimo, o que tem o biscoito com as tretas da cidadã?)
- Eu roubei muito, sabe. Não posso ficar ajudando no roubo dos outros.
(E eu mentalmente: - Agora tá na hora de dizer Amém! Cadê o pastor?)
[Patricia Daltro]

Um comentário:

Bel disse...

Ô, Pat, eu ri, mas é sério.