Estava quase chegando na praça, quando ouviu os passos. Um roçar leve, imperceptível, mas que ecoaram em seus ouvidos como um rufar de tambor.
A rua estava deserta, quase às escuras. Prendeu a respiração e acelerou o passo. A outra pessoa imitou-lhe.
Um suor frio escorreu-lhe da fronte, as mãos úmidas agarraram-se na alça da bolsa. Queria olhar para trás, enxergar quem a seguia, mas não tinha coragem. E, se fosse algum assaltante? E, se fosse algo pior? A mente já não raciocinava mais, só pensava em chegar em algum lugar seguro. Olhava desesperadamente as casas, mas não havia nada, a não ser uma escuridão feroz. Os olhos cheios de lágrimas, lutando contra o pânico.
Seu coração bateu desgovernado, quando além dos passos, começou também a ouvir o sibilar de uma respiração.
Estava na praça agora. Após ela, sua casa e a segurança. Escura e deserta, a praça parecia morta, cemitério de bancos e brinquedos.
Um som metálico chamou seu nome. Virou-se, sufocando um grito quando finalmente soube quem a seguia. A sua frente, a velha Estátua da praça abriu um sorriso e parou.
Involuntariamente caminhou na direção da Estátua. Estremeceu quando esta lhe tocou a face. Ainda assim, deixou-se tocar.
Sentiu que deveria reagir, fugir. Mas, não conseguia. Estática, mantinha-se ali, deixando-se desbravar por dedos metálicos.
Aproximaram-se e um beijo longo e gelado uniu suas bocas. Era como estar se afogando, sentir-se tragada por um mar de águas salgadas, frias e distantes. Então, um frio intenso pareceu-lhe congelar as entranhas, o som de seu coração passou a soar cada vez mais lento e distante e uma escuridão caia-lhe sobre os olhos.
Quando percebeu, lutava para livrar-se daquele abraço, tentando libertar-se daquele beijo que lhe sugava a alma, o frio cada vez maior, entorpeciam-lhe os membros...
A manhã encontrou-a sozinha na praça, os raios de sol a reluzirem no metal suave de seus cabelos.