Capítulo 4
Caindo na real
Ou a vida não presta
Os primeiros meses de separação foram caóticos. A
casa sempre bagunçada e não adiantava pedir para Lia ajudar, que o máximo que
ela fazia era passar uma vassoura na casa e colocar um congelado no microondas.
O resto sobrava para mim mesmo, oras.
Algumas estudiosas no assunto rotularam a mulher moderna
como supermulheres. Denominação que, sinceramente, tem mais glamour no nome do
que no real.
Não lembro de ver a Mulher-Maravilha ou a Super-Girl tendo
que lidar com máquina de lavar, trouxa de roupa para passar, barriga no fogão
ou vassoura na mão.
Enfrentar supervilões parece ser mais divertido do que ter
que acordar às seis da manhã, correr
para o banheiro e tomar uma ducha rápida, acordar as filhas para a escola.
Preparar o café, pentear o cabelo da filha mais nova e colocar o lanche das
crianças na mochila.
Engolir um pedaço de torrada e entornar um copo de café, ao
mesmo tempo em que manda as crianças para o colégio. Tirar a carne do
congelador, botar a roupa na máquina, escrever instruções para as meninas e
pregar na geladeira.
Trocar de roupa e partir para a condução lotada. Quando
tenho sorte, consigo um lugarzinho espremido entre a janela e alguém que
fatalmente irá dormir caindo em cima de mim. Muitas vezes, babando.
Depois de quase uma hora de condução, chegar ao trabalho e
encontrar a mesa cheia de relatórios e ofícios para digitar e/ou arquivar.
Ainda enrolada com os documentos, terei que interromper
tudo para servir cafezinho para o chefe e a visita. Além de providenciar o
presente dele para a filha mais velha, agendar e reservar hotel para a viagem
de negócios, que bem sabe, não é de negócios, na maior parte das vezes.
Meio dia, pausa para um almoço rápido num restaurante a
quilo da esquina, se for inicio do mês, caso seja no final, quando o dinheiro
mal dá para a passagem, contentar-se com um pé-sujo que vende um joelho e um
refresco por R$ 2,00.
Voltar para o escritório, onde agora tem mais uma
infinidade de documentos para arquivar, digitar, além é claro de providenciar
água, café, e o que mais o chefe desejar.
Fim do dia, voltar para a casa, a cabeça estourando e
enfrentar uma fila de vinte minutos para entrar em um ônibus cheio, aonde vai
espremida e sarrada metade do caminho, quando finalmente consegue sentar. Mas
logo chega a hora de descer, caminhar uma quadra inteira, pegar a filha que
está na creche, que cobra quase 1/3 do salário, para ficar com ela.
Em casa, antes de sentar, preparar o jantar, estender a
roupa que deixei batendo de manhã, se Liliana tiver prova ou trabalho para o
dia seguinte ajudá-la nos estudos, depois finalmente, sentar, prato no colo em
frente à tv e ver a mocinha sofrendo horrores nas mãos do vilão da vez, normalmente
durmo ali mesmo, até a filha mais nova me acordar, choramingando, por que o
irmã bateu nela.
Aí a supermulher tem que servir como juiz e decidir por dar
razão a uma ou a outra, mas como está com os olhos pregados, resolve dar uma
bronca nas duas e colocá-las para dormir.
Fala sério, vai dizer que não é melhor ter que dar porrada
no Lex Luthor ou no vilão da vez?
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Os capítulos anteriores de Poliana em Tempos de Crise você pode ler aqui: http://polianaemtemposdecrise.blogspot.com/view/classic
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