Homem não chora. Isso ele aprendeu cedo. A marca no rosto, formigando, depois que o pai dera o tapa. Forte. Enquanto dizia, baixinho, quase sussurrando: Homem não chora. E ele não chorou mais.
Nem mesmo no dia que viu o amigo morto. Caixão cheio de flores branquinhas. Escondendo o corpo atropelado do adolescente, que nem ele. Mas, morto. O pai, segurando firme nos seus ombros, avisou: Homem não sente dor.
E ele que tinha um tique-taque no peito. Uma coisa qualquer que machucava tanto. Engoliu aquela dor que o invadia e aprendeu mais uma lição.
E assim cresceu, sem lágrimas ou dores. Levava porrada e revidava do mesmo jeito. Assim como o pai ensinara. E a vida se desenrolava solitariamente ao seu lado.
Casou jovem. Embora não soubesse bem porque. Uma transa imprudente e a namoradinha grávida impuseram a situação. A mão do pai, dura, quente, forte, mais uma vez encontrou seu rosto. Na frente do outro pai. Da menina. Vai casar, eu estou falando! E ele casou.
Acompanhava o crescimento da filha. De longe. Embora tão perto. Sem afagos, sem carinhos, sem a alegria das pequenas descobertas. Um dia, longe, quando o pai já havia partido para outros paradeiros. A mulher também se foi. Sem aviso, mala na porta, tô indo. E foi.
Ele ficou, sozinho na casa grande. Sem muitos confortos. Nem tv, nem música, tampouco livros, como antes fora a casa do seu pai. Numa noite, o peito explodiu. Foi parar no hospital.
Os médicos dizendo: Infarto fulminante, mas ele, ali, carregado de tubos, sabia que não fora o coração, fora o sentimento represado dentro dele, que achara finalmente a saída.
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