8 de set. de 2008

A Carta

Estranho receber uma carta. Na era de e-mails, mensagens e torpedos em celular, eis que ela surge na minha caixa de correspondência. Quando vi seu nome no remetente, mas surpresa fiquei, você que desapareceu na neblina em uma tarde qualquer de setembro, surge assim, inesperadamente em um envelope branco.

Na carta você me pergunta como estou. O que mudou depois de tantos anos. Penso em o que dizer. Que mudei. O cabelo. As rugas, agora mais fundas. O olhar. Ainda traz o brilho que te encantava, mas ando percebendo traços duros neles. Amadurecer causa essas coisas. A alma carrega cicatrizes que só o tempo para fazê-las desaparecer.
E os sonhos? - Você quer saber. Por onde andam? Não sei se essa é a melhor resposta, mas ainda ando tentando tocar nas estrelas, caminhando em direção ao arco-íris. E por maior que sejam as escadas, insisto em galgar os degraus.

Na primavera ainda me visto de flores, mas ultimamente, está sendo difícil colher margaridas, e caminho por bosques transbordando verdes e aromas silvestres. Quando o sol rebenta no céu. Inundando de amarelo, humores e estradas, parto para o mar, onde cavalgo ondas e naufrago em ilhas dispersas.

No outono, aquieto-me embrulhada em secas folhas. E tinjo o horizonte de marrom, retirando aos poucos as cores da retina. E nos dias cinzas. Quando toda a cidade se dilui em frases curtas e aeradas, abro as cortinas da casa e tomo banhos de chuva. Embriago-me de silêncios. Longos, assim como o seu.

Talvez acredite que enlouqueci quando ler essa carta. E é bem provável que seja isso mesmo. Mas, acredito que nos dois enlouquecemos. Afinal, quem em tempos de internet e modernidade ainda manda cartas? Se tivesses escrito um e-mail, diria que a vida ainda é a mesma coisa, muitas contas e problemas. Não falaria de sonhos e nem de estrelas. O teclado não permite arco-íris, tampouco banhos de chuva em tardes tempestuosas de verão.

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