9 de fev. de 2011

Batendo na mesma Tecla

Antes de mais nada, queria dizer que o post anterior não foi escrito em defesa da participante X ou Y do reality em questão, mas tinha por objetivo principal, mostrar que violência feminina se mascara de várias formas e é existente em diversos locais, independente de classe social, educacional ou regional. Sendo possível de ser encontrada, inclusive, dentro de um programa de tevê.

Outra mitica que temos é que a violência só se dá na forma física, mas as estatísticas provam que o homem que agride verbalmente a mulher, tem grandes possibilidades de um dia, mudar sua forma e também agredi-la fisicamente.

Um dos maiores problemas no combate a violência feminina é o silêncio. A vítima, ao não se perceber, como tal, costuma se calar e aceitar as agressões, como se fosse "merecedora" do fato. Uma das caracteristicas do agressor é ser um sedutor tal, que promove a agressão como forma de "reeducação" da mulher e, a convence do fato.

A verdade, é que falamos sobre o assunto, sem dimensionar o quadro real. Nesse exato momento em que lê isso, pelo menos, 3 mulheres estão sofrendo algum tipo de agressão. Em 1 hora, uma mulher é morta no mundo, de forma violenta. De cada 10 mulheres, 3 são violentadas Di-a-ri-a-men-te. Só esse ano, e ainda estamos no inicio de fevereiro, 110 mulheres morreram (somente no Brasil) fruto da violência, incluindo ai, a violência doméstica - isto é, a cometida por um dos seus familiares ou maridos.

"Segundo uma teoria desenvolvida pela psiquiatra americana Lenore Walker, que estuda a cumplicidade da mulher espancada com seu agressor, a violência doméstica segue três ciclos distintos. A primeira fase é a escalada da tensão, uma tensão insuportável, que costuma moer emocionalmente a mulher, e durante a qual ela se anulará ao extremo para tentar apaziguar o parceiro. Como Julia Roberts, no filme Dormindo com o Inimigo. Jamais dá certo. Segue-se a brutalidade anunciada, que dura, em média, de duas a 24 horas. Durante a sessão de violência, a mulher não tem mais o que temer — o pior já está ocorrendo. É a catarse, para os dois. Passada a explosão, começa a fase da tranqüilidade doentia, em que a vitimização da mulher se completa: o parceiro faz juras e promessas, e ela, por não ter condições psicológicas de não acreditar, finge que acredita. Não é raro que uma mulher submetida a anos de abuso acelere a fase da pancadaria para chegar logo à fase da lua-de-mel. Somente quando a agredida se sente completamente sem saída, pode ocorrer-lhe matar o companheiro agressor. Nesse momento, com medo de si mesmas, muitas procuram ajuda." 

 O que assistimos no BBB, não foi um barraco de jogo, mas a violência contra a mulher na sua mais crua e daninha realidade. Volto a falar, a participante foi agredida, humilhada, destruida a sua auto-estima e - fruto da solidão que estava, vide a indiferença dos demais participantes, terminou a noite ao lado do seu agressor.

E o pior, é enxergar em vários sites, incluindo ai a edição aberta da emissora, que transformou a vítima em participante da agressão. Minimizando o que realmente acontecera. O que lembra a piada infame sobre mulheres estupradas: "- com que roupa você estava quando o fato aconteceu?" 

Por que no final, é essa a mensagem que passa, a mulher agredida tem culpa e só é a vítima quando sai do quadro de violência e entra para o de óbito. 

No mais, qual o problema de vermos um homem vociferando contra uma mulher, chamando de puta, gorda nojenta, puta gorda, etc? É apenas um jogo e a participante é chata. Eles se merecem. 

A esses, só deixo aqui um toque, como disse inicialmente, a violência contra a mulher não é exclusividade de nenhuma classe social, nem educacional, nem regional, tampouco está presa entre as quatro paredes do reality. Infelizmente, às vezes ela bate também a nossa porta...

11 comentários:

Maraguary disse...

Falou tudo. E posso falar de cadeira porque já vivi a situação na pele durante longos 5 anos... É exatamente como você narrou. Estou em choque com a rede Globo, por tentar transformar aquela cena que nem há um nome à altura para descrever em "jogo"... Tenho muita pena da Paulinha. Ela é a personificação viva de uma mulher que ama demais (os outros) e de menos (a si mesma). A psicóloga do programa deveria dar uma atenção especial a ela, mas o que a rede Globo ganharia tentando sanar os problemas da menina? Triste demais com o que estamos vendo acontecer em rede nacional...

Patrícia Gomes disse...

Acho um absurdo o argumento de que a mulher provoca e até incita a violência sexual devido a roupa q usa e determinadas atitudes...
Imagina então se as mulheres começassem a estuprar tudo que é marmanjo sem camisa que passa pela rua, hem??

Absurdo total... E como eu já falei antes, nada, nada, mas NADA MESMO justifica nenhum, mas NENHUM TIPO MESMO de violência!

Xêros, frô!
Paty

Andreia Lica disse...

Paty,

Sei bem o que é viver a violência doméstica, não apenas a agressão, mas tbm a violência psicológica, que por muitas vezes é pior do que um tapa, a vergonha e o medo, me fazia ficar quieta e aceitar a vida infeliz e insuportável, pois, eu não podia olhar para os lados, não podia conversar com ninguém, não podia ter uma vida social decente, que tudo era motivo, tudo era traição, para meu ex tudo era motivo, eu que dava bola para os outros...até que chegou um dia e dei um basta nesta situação e hoje VIVO, posso ser eu, posso olhar para os lados e ter amigos sem culpa ou melhor, sem medo.

A violência doméstica muitas vezes é uma vergonha para a mulher, pq ela casa, e acha que ele é o cara, o principe encantado...e qdo isso acontece, vê seus sonhos desmoronarem e seu castelo ruir...como explicar ao mundo e a si que o principe na verdade sempre foi um sapo disfarçado? Será que vc não viu antes? Será que o disfarce era tão bom assim? Enfim...são tantas decepções...mas é preciso ter coragem e denunciar SIM, deixar a vergonha de lado e ir atras da sua felicidade.

Outro dia me emocionei, quando meu atual marido brigou com o Gustavo (3 anos)porque ele estava batendo em uma das suas irmãs...lembro bem que ele disse assim: Elas são mulheres, não se bate em mulher de jeito nenhum, vc tem que respeitá-las. Mulher nehnuma merece q vc levante a mão....

Sei que pode parecer muita coisa para se dizer a uma criança, mas acredito que são valores e que eles devem ser passados de pequeno...assim como meu marido aprendeu isso, ele tambem deve aprender...

Digo isso pq os pais do meu ex viviam brigando e a mãe apanhou muito, e ele cresceu com isso na cabeça, claro que isso não justifica, mas é a realidade que sempre viveu...Infelizmente...e isso um dia vem a tona...Temos que combater a violência sempre!

Bjão

Mari disse...

"Minimizando o que realmente acontecera. O que lembra a piada infame sobre mulheres estupradas: "- com que roupa você estava quando o fato aconteceu?"

Sua fã desde criancinha. Mulher inteligente e que ainda por cima escreve bem não se encontra em qualquer esquina

Beijo

Sônia Pb disse...

vc tem toda a razão.... e o tom agressivo daquele sujeitinho foi horripilante...... e eu só assisti a uma parte da briga.....
bjs
Sônia

Kelly Kobor Dias disse...

PAtrícia seu texto diz tudo que realmente precisa ser dito, as pessoas precisam abrir os olhos, eu canso de dizer que apesar de ser um jogo bobo e manipulável, mostra muito bem as facetas do ser humano.
Excelente post. beijos

Afrodite disse...

Patrícia,
Acho absurda toda e qq forma de violência!
mas não perco meu tempo vendo ese tipo de programa(BBB) que mais emburrece do que esclarece e põe pra pensar as pessoas!
Prefiro coisa scom conteúdo.
Beijo!

Beatriz Helena. disse...

Você toca num grande "aliado" da prática de violências contra a mulher: a precepção das pessoas em volta, que é nula. Ninguém vai combater um mal do qual não toma conhecimento.

Anônimo disse...

Tópico interessante neste blog, tópicos deste modo dignificam ao indivíduo que visitar neste sítio :/
Escreve muito mais de este web site, aos teus seguidores.

Jullyane Teixeira disse...

Li seus textos sobre agressão aqui e até fui lá no blog da Lola. Realmente é muito triste esse preconceito horroroso que todas nós temos que enfrentar. É muito mais difícil ser mulher porque além de todo o extra ainda temos que passar por certas situações de desrespeito que não tem explicação.

O que me faz pensar que quanto mais ficamos caladas, mais os opressores se fortalecem. Pat, parabéns por se mostrar de cara limpa, admiro vc mto por isso.

Tem um livro da Marian Keyes que fala sobre violência feminina daquele jeito bem Marian, o livro é bem legal (Cheio de Charme).

Adorei os posts aqui, muito mesmo.
Bjo bjo, querida

Lidia Ferreira disse...

Minha querida, seu texto e magnífico, assino em baixo, voce falou tudo com muita clareza , parabéns